Pular para o conteúdo principal

O BRASIL DA ELITE DOS 30% QUE NÃO QUER SABER DA REALIDADE

DELTAN DALLAGNOL CHORANDO AO SABER DE SUA CASSAÇÃO COMO DEPUTADO FEDERAL. AO FUNDO, À DIREITA, EDUARDO BOLSONARO, DEPUTADO E FILHO DO EX-PRESIDENTE JAIR BOLSONARO.

O Brasil não atingiu o paraíso nem virou potência de Primeiro Mundo, A "classe média de Zurique", a elite do bom atraso que, apesar de corresponder a 30% dos brasileiros, se acha "a humanidade" e se julga "dona do mundo", segue com sua fantasia, indiferente à crise que vive o nosso país.

É o Brasil que sofreu da perda do influenciador digital Henrique Barbosa, do canal Carros de Baiano, metralhado em Pirituba, São Paulo, tempos depois de sofrer ameaças de quem não gostou das piadas grosseiras do dono do canal. Mas é o Brasil que viu perder a subestimada Astrud Gilberto, que a "boa" sociedade, se for informada de quem ela foi, tratava esnobemente como uma "americana nascida na Bahia".

De um lado, é o Brasil humanista dos tempos pós-Juscelino Kubitschek que perde mais uma personalidade, uma cantora de Bossa Nova que se junta à crescente galeria de mortos da MPB autêntica que desaparece aos poucos. De outro, é mais uma pessoa que morre num cenário popularesco tóxico e abusivo, com sub-famosos, influenciadores e pseudo-artistas envolvidos numa cultura do sensacionalismo, da vulgaridade, da lacração fácil e das polêmicas fabricadas.

O dado bom é a oficialização da cassação, já anunciada previamente, do deputado federal Deltan Dallagnol, um dos pretensos heróis da Operação Lava Jato, farsa nascida nos tumultos das Jornadas de Junho, que completam 10 anos esta semana.

As Jornadas de Junho surgiram quando o Movimento Passe Livre pedia redução das passagens de ônibus mas não protestava contra os ônibus com pintura padronizada, indiferentes ao risco de, em vez de gastar R$ 3,80, gastassem R$ 6,80 (duas vezes R$ 3,40), pegando ônibus errado e depois pegando outro para o destino certo e perdendo o direito à gratuidade do Bilhete Único devido aos engarrafamentos de automóveis aumentados pela redução dos ônibus nas ruas.

E aí o Movimento Passe Livre viu surgir um clone esquisito, o Movimento Brasil Livre, de Kim Kataguiri e companhia - o Kataguiri chegou a ter um "genérico" na chamada esquerda identitária, Pablo Capilé, líder do Coletivo Fora do Eixo e subproduto da campanha "contra o preconceito" da intelectualidade "bacana" e brega-identitária - , e depois veio o que sabemos: lavajatismo, golpe de 2016, Michel Temer e seu pacote de maldades, Jair Bolsonaro e sua força destrutiva.

Por isso é que não dá para pensar num Brasil de contos de fadas. Difícil convencer os chamados "formadores de opinião" que hoje atuam nas redes sociais de que a realidade é complexa. Paciência, é a elite do bom atraso, o 30% que acha que Lula "já governa muito" quando viaja para o exterior ou fica discursando em reuniões públicas diversas.

Realidade, não o "riélite chou" da televisão, mas a vida que realmente é, não lacra Internet nem atrai muitos leitores. Paciência, muita gente prefere ficar no mundo da fantasia e até para ler livros há uma fuga do remédio amargo do Saber e do Conhecimento, em prol da zona de conforto das mentiras agradáveis e das ilusões consoladoras, um refúgio persistente mas perigosamente enganoso.

Afinal, a realidade que vê as portas e janelas se fecharem, entra pelo ralo, sempre aparece para assombrar e aterrorizar aqueles cujas fantasias ilusórias sempre são valorizadas pela vã esperança de se realizarem. A fantasia sempre se impondo à realidade, como se o simples desejo de ver o Brasil como potência de Primeiro Mundo fosse garantia de sua plena realização.

Não é garantia alguma, muito pelo contrário. Trata-se de uma grande miragem, e tudo o que nos resta para admitir é apenas a estabilidade institucional e o controle de preços. Mas daí para achar que, até dezembro, o Brasil virará país desenvolvido porque estará pronto o parquinho de diversões para a "classe média de Zurique" brincar de Escandinávia sob uma temperatura tropical, é não só um exagero, mas um grande equívoco.

O que podemos, sim, afirmar, é que há um esforço para exterminar o que havia de pior nos seis anos do período golpista. Bom desmontar a Operação Lava Jato e o bolsonarismo, e espera-se que haja um cuidado cirúrgico para não permitir que os golpistas deem a volta por cima através de uma brecha.

No entanto, a ideia de um Brasil desenvolvido, potência mundial, país mais poderoso da América Latina, deve ser descartada antes que alguma decepção amargure as alminhas tão fantasiosas, seja da "boa" sociedade de 30% e o que vier seguindo na boa-fé.

A realidade que as pessoas não querem ler boicotando textos e livros com bastante senso crítico é a realidade que se apresentará de uma maneira ou de outra nos seus cotidianos, e não é empregando comediantes em funções sérias que se resolverá o problema do desemprego, pois encher nossos postos de trabalho com mais humorismo não vai tornar o mercado mais humano, até porque tem muita gente ainda desempregada e triste demais para contar uma piada em troca de um emprego.

A situação do Brasil está muito complicada e não é o mundo da positividade tóxica do Brasil-Instagram que irá negar o que é inegável, pois não se reconstrói um país da noite para o dia e Lula, infelizmente, se deixa levar no clima de festa que alegra a todos. Até que uma nova ressaca provoque uma depressão que faz muitos fugirem para a cerveja, religião, futebol, redes sociais e outras paixões tóxicas, tudo para manter sempre no "alto astral" da ilusão permanente.
 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

ESQUERDAS CORTEJANDO UMA CANTORA IDENTITARISTA... MAS CAPITALISTA

CARTAZ DA BOITEMPO JUNTANDO KARL MARX E MADONNA NO MESMO BALAIO. O Brasil está tendo uma aula gratuita do que é peleguismo, com Lula fazendo duplo jogo político enganando o povo pobre e se aliando com os ricos, e do que é pequena burguesia, com uma elite de classe média abastada que aoosta num esquerdismo infantilizado, identitarista e indiferente aos verdadeiros problemas das classes trabalhadoras. As esquerdas mainstream do Brasil, as esquerdas médias, são a tradução local da pequena burguesia falada pela teoria marxista. Uma esquerda que quer soar pop e que, através dos “brinquedos culturais” que fazem do Brasil a versão vida real da novela das 21 horas da Rede Globo, quer o mundo da direita moderada convertido num pretenso patrimônio esquerdista. Isso faz as esquerdas soarem patéticas em muitos momentos. Como se observa tanto na complacência do jornalista Julinho Bittencourt, da Revista Fórum, com o fato da apresentação de Madonna em Copacabana, no Rio de Janeiro, não ter músicos e

O PESADELO GAÚCHO QUE DESAFIA O "SONHO BRASILEIRO"

O CENTRO DE PORTO ALEGRE COM ÁGUA QUE ATINGIU CINCO METROS DE ALAGAMENTO. Não há como sonhar grande. O risco de cair da cama é total. A terrível tragédia do temporal no Rio Grande do Sul é algo que nos faz parar para pensar. Isso é normal para um país próspero? Falta alguma consciência ambiental no nosso país? Até o fechamento deste texto, 56 pessoas morreram e vários estão entre feridos, desabrigados e desaparecidos. Porto Alegre, Caxias do Sul e Gramado estão entre as inúmeras cidades atingidas por chuvas intensas, vendavais, trovoadas e transborda de rios, entre eles o Guaíba. E nós manifestamos pesar sobre essa traumatizante ocorrência e solidariedade às vítimas. A situação é muito triste, mas não deixa de ser lamentável o oportunismo das subcelebridades, aspirantes a super-ricos, de oferecer doações milionárias para as vítimas das enchentes. Uma sociedade que, em condições naturais, quer demais para si e, egoísta, não quer abrir mão do supérfluo para ajudar o próximo a ter o neces

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

BRASIL NO APOGEU DO EGOÍSMO HUMANO

A "SOCIEDADE DO AMOR" E SEU APETITE VORAZ DE CONSUMIR O DINHEIRO EM EXCESSO QUE TEM. Nunca o egoísmo esteve tão em moda no Brasil. Pessoas com mão-de-vaca consumindo que nem loucos mas se recusando a ajudar o próximo. Poucos ajudam os miseráveis, poucos dão dinheiro para quem precisa. Muitos, porém, dizem não ter dinheiro para ajudar o próximo, e declaram isso com falsa gentileza, mal escondendo sua irritação. Mas são essas mesmas pessoas que têm muito dinheiro para comprar cigarros e cervejas, esses dois venenos cancerígenos que a "boa" sociedade consome em dimensões bíblicas, achando que vão viver até os 100 anos com essa verdadeira dieta do mal à base de muita nicotina e muito álcool. A dita "sociedade do amor", sem medo e sem amor, que é a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, está consumindo feito animais vorazes o que seus instintos veem como algo prazeroso. Pessoas transformadas em bichos, dominadas apenas por seus instin

FLUMINENSE FM E O RADIALISMO ROCK QUE QUASE NÃO EXISTE MAIS

É vergonhoso ver como a cultura rock e seu mercado radiofônico se reduziram hoje em dia, num verdadeiro lixo que só serve para alimentar fortunas do empresariado do entretenimento, de promotoras de eventos, de anunciantes, da mídia associada, às custas de produtos caros que vendem para jovens desavisados em eventos musicais.  São os novos super-ricos a arrancar cada vez mais o dinheiro, o couro e até os rins de quem consome música em geral, e o rock, hoje reduzido a um teatro de marionetes e um picadeiro da Faria Lima, se tornou uma grande piada, mergulhada na mesmice do hit-parade . Ninguém mais garimpa grandes canções, conformada com os mesmos sucessos de sempre, esperando que Stranger Things e Velozes e Furiosos façam alguma canção obscura se popularizar. Nos anos 1980, houve uma rádio muito brilhante, que até hoje não deixou sucessora à altura, seja pelos critérios de programação, pelo leque amplo de músicas tocadas e pela linguagem própria de seus locutores, seja pelo alcance do s