Na reunião ministerial de ontem, o presidente Lula pareceu bastante enérgico. Entre as pautas da reunião ministerial, estão problemas como as relações do Executivo com o Legislativo, marcadas pelos desentendimentos de Lula com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e com as pressões da União Brasil que envolvem o ministério do Turismo, cuja titular, Daniela Carneiro (Uniao-RJ).
No caso de Lira, ele quer seu representante no Ministério da Saúde para agradar o Centrão. Além de comprometer a base de apoio ao Governo Federal, o presidente da Câmara Federal também está sendo investigado por envolvimento em suposto esquema de superfaturamento de kits de robótica para a referida casa parlamentar.
Esta é a terceira reunião ministerial e Lula parece incomodado com uma questão, a tal "política dos ministérios". Lula ordenou que nenhum ministro propusesse algo novo para as atividades de governo, mas apenas realizar o que já foi proposto e seguir a "política de governo".
Tudo bem. Mas devemos lembrar que Lula só começou a governar para valer de maio para cá. Nos primeiros meses do governo, Lula preferiu bancar o turista e aparecer nos noticiários internacionais, se intrometendo em assuntos nos quais o Brasil não necessita ter participação direta. Não se viu o resultado da tal "reconstrução do Brasil" e o que se viu de resultados positivos são realizações mornas, que são alguma coisa, mas muito pouco para as comemorações exageradas e precipitadas que causaram.
Sinceramente, é constrangedor ver Lula intervindo no conflito entre Rússia e Ucrânia, através de um "plano de paz" que, a princípio, é até bem intencionado, mas que mais cria problemas do que soluções para a geopolítica mundial.
Também é constrangedor que Lula tente arrancar algum protagonismo na reunião do G7, grupo dos sete países mais ricos do mundo. Lula pareceu uma criança dando pitacos em reunião de adultos, ou como um nerd (no sentido Vingança dos Nerds do termo, não no sentido "cervejão-ão-ão" de hoje) numa reunião de atletas de sua escola.
A política externa foi adotada por Lula no atual governo de maneira precipitada, antes da hora. A hora era, nos primeiros meses do governo, de Lula só ficar dentro do Brasil e agir pela reconstrução do país. A bronca que ele deu aos ministros teria sido desnecessária se Lula tivesse adiado a política externa para, pelo menos, a partir de outubro próximo.
Até o caso dos juros altos do Banco Central foi discutido na reunião, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acusou o Senado Federal de ter aprovado a "autonomia" da instituição financeira, palavra cujas aspas se justificam pelo fato do Banco Central parecer "independente" da influência do Governo Federal, mas dependente dos interesses do setor financeiro.
Ficando no Brasil, Lula teria resolvido com menos demora os problemas internos, e teria focado melhor nas suas relações com o Congresso Nacional, de forma a trabalhar com negociação e diálogo a base de apoio ao seu governo. E teria resolvido o combate à fome e o desemprego de maneira mais eficiente.
O que se vê hoje são paliativos, e aí temos que criticar Lula porque, enquanto ele viaja, quem fica governando são os ministérios. Como "lulista" de primeira viagem, Geraldo Alckmin governa monitorado por Flávio Dino, Rui Costa e Fernando Haddad. Aliás, Alckmin e Haddad é que deveriam ter viajado para buscar parcerias econômicas e empresariais de outros países, não Lula.
Por isso mesmo, é que houve o risco da "política de ministros". Porque Lula estava fora do país, se pavoneando nas reuniões do G7, do G20 e, antes, de um evento ambiental internacional. Ou em visitas a outros países. Se adiasse a política externa para depois de outubro, Lula teria feito a "política de governo" que ele exigiu de sua equipe ministerial e resolvido os problemas internos enfrentados.
O que ajuda na melhoria da imagem do Brasil no exterior é seu governante cuidar primeiro dos brasileiros. É estar ali, como um pai fica ao lado do filho doente e não foge para curtir noitadas lá fora sob a desculpa de "comprar presentes, comida e remédio" para o enfermo. Primeiro se deveria melhorar a situação do Brasil de maneira precisa, pois não adianta confundir expectativas, promessas e opiniões com realizações.
O fato da realização está em ver se a realização foi feita. Se os preços baixaram, deve-se identificar os produtos que baixaram, as marcas, os supermercados e outros estabelecimentos que reduziram os preços. Até que ponto um salário de R$ 1.320 com auxílios como Bolsa Família e Auxílio Gás irão beneficiar as populações pobres?
E o emprego, será que Lula não vê que o mercado de trabalho está priorizando mais a contratação de comediantes ou a aprovação de servidores públicos resmungões, com entrevistas de emprego e concursos públicos que nunca contratam os profissionais certos?
Não seria hora de rever critérios, parar com a cobrança conhecimentos de aplicativos que ninguém ouviu falar, dar fim ao preconceito etarista, ou achar que todo candidato com jeito de animador cheio de papo firme é bom para trabalhar? Ou, no caso dos concursos públicos, evitar erros na leitura ótica ou na elaboração de gabaritos de forma a evitar que candidatos que tenham acertado 92% das questões fiquem somente com 66% de pontuação?
São questões que deveriam ser vistas e revistas. Lula não precisa aparecer para o mundo. A melhor imagem que o Brasil pode dar ao mundo é melhorar a vida dos brasileiros e combinar crescimento econômico com redistribuição de renda. É assim que o Brasil deixará de ser um pária mundial, em vez da precipitada atitude do presidente Lula viajar logo no primeiro mês para se promover com sua famosa oratória. Primeiro Lula tem que fazer o trabalho interno no Brasil, depois ele que vá se divertir lá fora.
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