LULA ESTÁ NO ALTO ASTRAL DA "NUVEM NOVE".
Momento estranho esse de hoje. Até pouco tempo atrás, Jair Bolsonaro devastou o país. Nas redes sociais, falava-se em catástrofe política, Brasil devastado, urgência total de recuperar a democracia, necessidade de reconstruir um país destruído, pior do que há vinte anos.
De repente, da noite para o dia, está tudo bem. Tudo maravilhoso, alegre, próspero. O Brasil, segundo muitos, vai se tornar potência de Primeiro Mundo, país desenvolvido, a "Escandinávia das Américas". Tudo é festa, euforia e o progresso revolucionário não é só expectativa, mas perspectiva de se tornar real, para essa parcela de formadores de opinião nas redes sociais.
Não se pode ir contra a positividade tóxica. Temos que aceitar tudo, ver o quanto tudo é "legal". Aliás, só se repercute bem na Internet quem tem a obsessão em parecer legal o tempo todo. Caso contrário, difícil divulgar textos, diante do binarismo do raciocínio algorítmico das redes sociais, quando quem critica Lula é visto de forma erroneamente generalizada como um bolsonarista.
Não se pode ter senso crítico. Não se pode criticar os erros de Lula, que não foram poucos. Aliás, devemos lembrar que "estratégia" é um eufemismo para as atitudes equivocadas e precipitadas que Lula faz, ignorando condições, conselhos alheios e necessidade de autocrítica, e que, supostamente, trazem algum resultado "positivo". Como se Lula fosse senhor e soberano nos seus impulsos mais imprudentes.
Há um otimismo cego e exagerado em torno de Lula. Eu, pessoalmente, não estou vendo esse resultado revolucionário que falam que estaria havendo. No primeiro mês de governo, por exemplo, não vi ação alguma pela reconstrução do Brasil.
Em janeiro passado, houve apenas a desconstrução do bolsonarismo, agilizada pelas investigações sobre a revolta de Oito de Janeiro - cujas mensagens, nas redes sociais, apontam um plano de golpe político - e Lula foi viajar para o exterior, sem a menor necessidade.
Não posso ser realista, apesar de ver que não houve resultados dessa tal "reconstrução" que fazem muitos lulistas comemorarem antes da hora. Não posso ter senso crítico, não posso transmitir informações verídicas, não posso fazer críticas nem análises. O que posso, para repercutir como formador de opinião, é ir no clima do conto de fadas a ponto de acreditar que Lula "trabalha muito" até se ele passar o verão europeu de férias em Saint Tropez com sua Janja.
Mas o que eu vejo salta aos olhos. Os preços dos alimentos não caíram. O leite líquido em caixinha caiu levemente, de R$ 7 para R$ 4,30, mas agora subiu para R$ 6. A picanha, a R$ 60, mal dá para comprar o osso. Nem dá para comprar queijo para acompanhar o pão nas refeições.
E o emprego? Cadê uma política de emprego, que ao mesmo tempo combata o etarismo e crie critérios mais justos para contratação? Hoje o mercado de trabalho é uma piada, literalmente falando, pois os comediantes parecem "mais confiáveis" para as empresas. Foi um comediante de 45 anos narrar uma carreira longa de jornalista de 60 anos (?!) numa entrevista de emprego e o empregador caiu na pegadinha, ignorando que é mais uma peça de stand up comedy.
Num contexto em que sete de cada dez empregadores acha que um bom profissional é aquele que faz rir, mesmo não necessariamente fazendo um bom trabalho (ou, ao menos, só faz o que se determina, sem ser muito criativo na função), então não há como aplaudir um cenário político como o atual.
A situação é muito ruim. O que vemos, na sociedade brasileira, está muito mais para um "milagre brasileiro" passado a limpo, sem AI-5, sem DOI-CODI, sem DOPS, sem Brilhante Ustra, e no lugar de um general-presidente, um ex-operário que se tornou pelego, embora quase ninguém perceba isso.
O atual governo Lula está mais fraco do que o primeiro mandato, e eu posso dizer isso porque eu vejo a realidade fora da bolha solipsista de quem usa muito as redes sociais. Paciência, o Brasil não é Tik Tok, não é Instagram, não é Facebook.
Eu fico preocupado com esse otimismo cego e exagerado que contagia os lulistas. Ninguém tem cautela, há empolgação demais, alegria maior que a festa, comemoração antes da tal reconstrução mostrar algum sinal.
Isso é uma situação perigosa. Há uma grande festa nos pedestais do Brasil. Há muita gente usando salto alto nas comemorações, não tolerando um pingo de senso crítico. A euforia é extrema, a festa é até boa, o problema vai ser quando a ressaca vir. E o Brasil é muito ruim de ressaca...
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