Recentemente, uma reportagem do portal G1 destacou a cantora do bloco carnavalesco Casa Comigo (sim, é "Casa Comigo", não "Casaco Migo", como pensaria as garotas do "Casaca Gente?"), Stella Damaris, por sinal muitíssimo bonita.
A moça é paulista, está solteira e tem 32 anos, a mesma idade com que Sylvia Telles, uma das maiores cantoras do país, encerrou sua vida, e parece ter uma boa formação, tendo tido aulas de canto e também de violão. Nas festas, ela cantou músicas de Tom Jobim e Chico Buarque, além de interpretações gravadas por Clara Nunes.
Ela parece bem intencionada em sua carreira, a não ser por uma coisa: ela tem um sonho, mesmo sem saber se irá realizá-lo, ser cantora de axé-music, ritmo que anda perdendo público até mesmo em Salvador e que vive seu inferno astral que atinge tudo e todos, do Chicletão ao mais vagabundo grupo de "pagodão" e "arrocha" cujas baixarias só fazem sucesso nas páginas policiais.
A axé-music parece ver o lado macabro da expressão "sair do chão", próxima da expressão "bater as botas" e o que existe nos bastidores da axé-music vai desde acusações de baixarias nas letras, sonegação de impostos, brigas internas entre os ídolos, músicos e empresários, além de acidentes e incdentes durante a apresentação desses ídolos.
Stella Damaris tem esse sonho que nem a atriz Emmanuelle Araújo quer mais saber. Esta segue uma linha musical próxima dos Novos Baianos, fora do perímetro axézeiro. A axé-music, hoje, é um ritmo em falência, praticamente se isolando nos camarotes VIP de mauricinhos e patricinhas riquinhos.
A axé-music é uma espécie de dance music baiana, sem muita serventia, e mesmo Ivete Sangalo, Cláudia Leitte e Bell Marques (com ou sem Chicletão) são supérfluos e quem quer música brasileira de verdade pode viver muito bem sem eles. Como um chiclete, a axé-music é algo nada nutritivo e descartável, de consumo imediato cujo sabor se perde depois de algumas mordidas.
O maior risco de Stella, o que já atingiu muita gente que começou fazendo covers de MPB e sucumbiu ao "triângulo das bermudas" do popularesco, é aderir a qualquer roubada musical, cantar ao lado de barbaridades como Psirico, Harmonia do Samba, É O Tchan e outros, e depois tentar redimir com tributos à MPB, e por aí vai.
Se Stella quer aproveitar seu talento e seguir carreira, que ela possa largar tais chupetas musicais e lutar para uma renovação verdadeira da Música Popular Brasileira autêntica, MPB com M maiúsculo, que de tão desgastada em homenagens incessantes e ecletismos vagos, se reduziu a uma sub-Jovem Guarda pós-tropicalista sem pé nem cabeça. Vide os "carneirinhos" Marcelo Jeneci e Tulipa Ruiz.
A música brasileira merece respeito. Não vamos mais cair nesse papo furado de que romper o preconceito é aceitar a breguice, porque os bregas, na verdade, eram, sim, o preconceito encarnado em música. Os bregas é que sempre rejeitaram a MPB, não tinham qualquer compromisso com a música brasileira, só queriam fazer som ao mesmo tempo comercial e matuto.
Por isso, sugerimos que Stella possa recomeçar do ponto de onde Sylvia Telles parou. Seria sim uma bela homenagem à saudosa cantora bossanovista - e um zilhão de vezes melhor do que Ivete Sangalo - e buscar beleza e expressividade nas melodias e na poesia. Sem modernices baratas, sem breguices paternalistas. A MPB, repetimos, merece respeito. Vamos recuperar a MPB.
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