A Música Popular Brasileira, sabemos, se perde em homenagens intermináveis que nada mostram de novo, e mais parecem um misto de réquiem, extrema-unção e estado de decomposição avançado de cadáver, porque os parasitas estão aí para devorar o legado do emepebista condenado ao esquecimento.
Depois do constrangedor tributo caça-níqueis de Chitãozinho & Xororó, que destruíram a obra de Antônio Carlos Jobim e anularam o que havia do espírito bossa-novista dele - ouvindo o CD Tom do Sertão, ele remete mais aos tempos das pseudo-serestas bolerificadas e mofadas de 1955 - , agora é a vez de Criolo e Ivete Sangalo pegarem carona em Tim Maia.
Ivete Sangalo é caronista de carteirinha, levando às últimas consequências, mas sem conhecimento de causa, a mania de apropriação de Caetano Veloso, tão criticada pela imprensa musical, sobretudo nos anos 70 e 80. Se deixarmos, Ivete participa até do tributo ao Ratos do Porão, João Gordo é que tem que tomar cuidado.
Criolo, por sua vez, é, ao lado do Emicida, um dos queridinhos de Pedro Alexandre Sanches, o "aluno-modelo" de Otávio Frias Filho que andou passeando tendenciosamente na imprensa de esquerda para empastelar seu debate cultural e depois abrir caminho para Rodrigo Constantino, Lobão, Luiz Felipe Pondé e companhia.
Criolo e Emicida mais parecem um pseudo-neotropicalismo com um forte odor de Soros Open Society, pessoas que fingem ameaçar uma ruptura com o esquemão midiático-cultural de hoje, para depois mergulharem fundo dentro dele e se servirem da "máfia do dendê" com um certo apelo global-folhista.
Juntos, Ivete e Criolo juntam suas respectivas formas de fazer "MPB de resultados", mais voltada ao aparato do que ao conteúdo - por sinal, sem pé e nem cabeça - para a milionária necrofilia ao exigente Tim Maia, que, descontando uma fase lamentável comandada pelo coronelista musical Michael Sullivan, o Rei do Jabá, sempre foi um grande artista da soul music brasileira.
O excesso de tributos a Tim Maia chegam mesmo a abalar completamente a aura musical do cantor e compositor, fazendo com que muitos se cansem de ouvir parte de seus clássicos como "Sossego", "Do Leme ao Pontal", "Não Quero Dinheiro", "Azul da Cor do Mar" e outros, e que mais parece uma estratégia de promover a vaidade de ídolos medíocres diante de seu vazio criativo.
Claro, tem muito ídolo de axé-music, tem muito cantor pseudo-soul, com voz de crooner de comercial de creme dental, que não compõe coisa que preste, se infiltra em reality shows para arrancar alguma visibilidade e, depois, vai feliz da vida fazer "tributo a Tim Maia" confundindo talento de cantor com talento de animador de plateia.
Afinal, o que se tem aí é cantor ou cantora muito mais preocupado com aquilo que entende como "interagir com a plateia" do que em cantar de maneira decente e com personalidade. O que se vê é um monte de gente gritando em vez de cantando e que, antes de cantar o refrão, ainda comete a besteira de dar palavras de ordem: "quero ver todo mundo cantando", "comigo", "sai do chão" etc.
Bem fez o sobrinho de Tim Maia, o também cantor, músico e compositor Ed Motta, que sabiamente recusou o convite para participar ao lado dos dois cantores, observando o caráter oportunista de ambos e a banalização das ditas homenagens ao seu falecido tio. Escreveu Ed no Facebook:
"Uma empresa de creme me procurou para fazer o "projeto" Tim Maia, a grana não era compatível com meu desprazer em fazer isso... Para mim a música de Tim Maia é intocável, fica bom mesmo é com ele, é preciso honestidade e vergonha na cara para admitir isso...
O cara que teria REALMENTE cabedal para um tributo ao Tim Maia seria o Cláudio Zoli, por conta do timbre de voz, e também a história e envolvimento de carreira.
O compromisso com o soul/funk carioca etc etc.
Mais do que sacanagem, (o "Viva Tim Maia") é um desrespeito por gente que dedicou a vida inteira a isso.
Vontade de vomitar, que coisa PODRE...".
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