O ateísmo virou uma coisa de gente à toa. Além da má compreensão do que é mesmo a descrença em Deus - uma figura lendária e folclórica que grande parte da humanidade atribui como "o Criador de todas as coisas" - , que chega mesmo a se tornar uma "religião invertida" cheia de dogmas (como a certeza da "inexistência de Jesus Cristo", sem admitir pesquisas nem debates sobre o suposto "Jesus histórico" que causa polêmicas nos meios intelectuais), há costumes estranhos nessa descrença toda.
Como se vê em comunidades como Ateísmo BR, há uma estranha complacência e até devoção em torno de um farsante religioso, o tal "médium da peruca" que transformou a Doutrina Espírita em um chiqueiro. O "médium dos pés de gelo", que amaldiçoou alguns de seus devotos famosos que, tempos depois, viam seus filhos morrerem prematuramente de repente, é defendido por supostos ateus com uma persistência muitíssimo estranha.
As alegações sempre se referem às supostas ações de caridade associada ao charlatão religioso de ideias profundamente medievais (fundamentadas na Teologia do Sofrimento, corrente radical do Catolicismo da Idade Média que foi introduzido no Brasil colonial pelos jesuítas portugueses).
Uma dessas ações a pretensa renúncia de lucros financeiros ao "doar" o faturamento dos mais de 400 livros para instituições "espíritas" nacionais e estaduais (Minas Gerais), supostamente para atender os mais pobres, mas que acabaram, sob o consentimento do próprio "médium", enriquecendo os cofres dos dirigentes dessa seita obscurantista. Tal qual Madre Teresa quando doou o "dinheiro da caridade" para os cofres dos chefões do Vaticano.
Outras ações de "amor ao próximo" estão associadas às cartas fake atribuídas a familiares mortos, pretensas "psicografias" produzidas pela combinação de fontes escritas - de notícias de jornal a diários pessoais relacionados ao falecido - com a "leitura fria", que é a interpretação subliminar de gestos, detalhes e informações trazidos pelos parentes e amigos vivos de cada pessoa morta.
Há também a "caridade" que atiçou a "masturbação dos olhos" de muitos devotos, se comovendo à toa com pessoas pobres em longas filas, humilhados numa longa espera para receber pacotes precários de poucos mantimentos que se esgotam em poucos dias, algo que mais parece beneficiar o suposto filantropo, no caso o "médium", do que os miseráveis, que já recebem o benefício desconfiados e cientes de que aquilo não era um benefício real, pois isso nunca resolveu de maneira definitiva a pobreza vivida.
Lembremos aos desavisados de plantão que não é o "médium" que fez essas ações, mas ele apenas pedia aos seus adeptos e devotos que doassem bens diversos que seriam distribuídos nos tais pacotinhos de tamanho inferior ao das cestas básicas de supermercados.
O material era entregue uma vez por mês e a "caridade", comparável ao famoso crime eleitoral de entrega de "cestas básicas" para estimular os votos do candidato defendido pelo "coronel" local. Não podemos esquecer que Uberaba e Pedro Leopoldo são grandes redutos coronelistas em Minas Gerais, regiões tão conservadoras quanto o interior rural de Santa Catarina, e que o "médium da peruca" era um serviçal dos poderosos fazendeiros do Triângulo Mineiro.
Voltando aos ateus, o "médium" abominava o ateísmo, mas em dada situação o religioso, habitualmente ranzinza e reacionário como um "Jair Bolsonaro do Cristianismo", tentou parecer cordial, dizendo "Você não acredita em Deus, mas Deus acredita em você".
Mas aí temos o fenômeno no Brasil dos galinheiros que viram templos de raposas. Galinhas endeusando raposas e pondo as patas no fogo - e no forno - para defendê-las. Esse fenômeno já é conhecido na MPB, quando o traiçoeiro compositor Michael Sullivan, que queria destruir a MPB nos anos 1980, mas três décadas depois, usou a mesma MPB para se relançar na carreira.
Ver ateus exaltando um deísta radical e inflexível, mas esperto o suficiente para forjar uma frase cordial, é coisa preocupante, e aí vemos o quanto ser ateu no Brasil é como galinha ser devota de raposa. Recentemente, nos perfis de ateísmo nas redes sociais, houve internauta choroso que tinha dúvidas se o tal "médium da peruca" era realmente um charlatão.
O que podemos explicar a respeito dessa postura complacente e até, admitamos, bastante trouxa dos membros dessas comunidades digitais de ateus, é que há muito religioso infiltrado, sobretudo os "espíritas", que oferecem o "médium da peruca" como na lenda do "velho do saco".
O "velho do saco" era uma figura perigosa que, diz essa lenda, sequestrava crianças pequenas que eram capturadas pela promessa de que o sujeito iria contar estórias lindas e mostrar brinquedos maravilhosos na casa dele. Na nossa infância, nossos pais sempre alertaram sobre esses perigos.
E aí vemos os ateus, que no Brasil são dotados, salvo honrosas exceções, como pessoas ingênuas, trouxas e crédulas, passando pano no charlatão que transformou os livros originais da Codificação em papel higiênico para as fezes dos deturpadores da causa de Allan Kardec. Gente vulnerável, tomada da mais profunda Síndrome de Estocolmo, perdendo tempo defendendo e rebatendo críticas contra um sujeito que sempre foi o oposto do que defendem e acreditam os verdadeiros ateus.
Esse caso do ateísmo mostra o quanto nosso Brasil está profundamente atrasado e muito longe de se tornar um país desenvolvido (não espalha essa constatação, não, porque o negacionista factual não gosta) e que muitos dos "heróis" que se cultuam em nosso país são ídolos que se projetaram ou fortaleceram durante a ditadura militar, da qual o "médium da peruca" era um defensor tão radical que faria o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra ficar boquiaberto de tão impressionado.
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