Há tempos se fala de uma geração de empresários, médicos, economistas, advogados e engenheiros que, nascidos nos anos 1950, estão na casa dos 60 anos. Trancados em consultórios e escritórios, eles não viram o mundo de fora mudar, mas acham que seus mundos de dentro mudaram até demais.
E o que se vê nesses homens, que até pouco tempo atrás apareciam nas colunas sociais com suas esposas mais jovens e belíssimas (jornalistas, ex-modelos, atrizes), é seu isolamento num conceito de velhice e maturidade que soa demodê até para suas próprias gerações.
Impressionados demais com seus cabelos brancos, com seus 30 anos de profissão, filhos até na casa dos 35 anos e lhe dando os primeiros netos, essa é a primeira geração de homens "influentes" que "amadurece" sem poder ter o que dizerem, e, à sua maneira "elegante", cometerem também suas gafes.
Eles tentam plagiar o que seus próprios pais foram. Tentam tomar como suas as vivências que na verdade eram de seus patrões e professores. Dessa feita, tentam enganar as novas gerações apresentando como seus referenciais que correspondem a dez ou vinte anos, para não dizer mais, anteriores a quando eles nasceram.
Eles tentam mostrar uma falsa erudição, uma pretensa sofisticação, exibindo um vestuário defasado em quarenta anos. Tentam se apropriar de referenciais mais antigos dos quais fingem se identificarem, mas fazem isso para dar a falsa impressão de que eles são "mais velhos e vividos".
Eles apenas tiveram êxitos profissionais relativamente significativos nos seus ofícios de médicos, empresários, economistas, advogados, executivos. Mas, em vez de serem os faróis das gerações mais jovens, são as lanternas das gerações mais velhas. Até os nascidos em 1953 e 1954 se comportam como se fossem os últimos nascidos nos anos 1940.
O filósofo Sócrates havia criticado, certa vez, a mania de artesões e técnicos que, só por terem uma especialização profissional, se achavam capazes de julgar os segredos seculares da humanidade. Os empresários, executivos e profissionais liberais born in the 50's são a tradução contemporânea e brasileira daquilo que Sócrates havia falado.
Há o caso de um médico de 61 anos com jeitão de granfino e uma compreensão pedante de jazz. Há o de um economista de 62 anos que achava que viver bem era visitar vinícolas no interior da França. Um outro empresário, de 60 anos, dizia que viu Tom Jobim pessoalmente na infância. Outro, de 62 anos, fazia turismos no centro antigo de Roma, algo que já ficou muito banalizado.
Eles não conseguem representar o que os homens nascidos nos anos 1920, por exemplo, representaram, quando poderiam chegar aos 60 anos exibindo sabedoria e experiência de vida, porque eles tinham a seu favor um cenário sócio-cultural e educacional que estimulavam o aprendizado.
A turma da década de 1950 não conseguiu expressar idealismo nas faculdades, porque o cenário político não permitia. Os que viraram empresários, profisisonais liberais e executivos foram mergulhados tão somente a uma formação meramente profissional e técnica, que os lançou no cativeiro de seus escritórios e consultórios.
Agora, eles veem a frustração do tempo lhes escapar das mãos, como um sabonete molhado que escorrega das mãos. Seus cabelos brancos só plantaram um grande ponto de exclamação em suas cabeças. Dois deles já se separaram de suas esposas, porque elas um dia viram que a jovialidade valia mais a pena do que viver de formalidades e eventos de gala ao lado de seus maridos.
Eles pouco têm a nos ensinar. Eles precisam apenas de meia-hora de palestra para dizer algo sobre suas carreiras profissionais, e só, sem se arriscarem a filosofar sobre coisas antigas das quais eles só têm uma compreensão superficial, um passado que eles nem sequer se identificam com naturalidade.
Por isso, em vez deles tentarem entender os anos 1950 que ocorreram à revelia de suas infâncias e as décadas anteriores das quais eles só apreciam pela força das conveniências sociais, eles devessem assumir sua imaturidade.
Esses homens devem perceber que não são eles que darão respostas a seus filhos, mas estes é que devam dar respostas e sugestões para as vidas da confusa gente grisalha que havia sido trancada em consultórios e escritórios.
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