Não dá mais para ser pragmático e aceitar o governo Jair Bolsonaro por causa de suas tiradas "divertidas".
Também não dá para ser um quenunca e ver naturalidade em caneladas sucessivas.
Jair Bolsonaro tenta acobertar as milícias, compra briga com governadores nordestinos, apronta diversas encrencas e sua permanência no poder pode fazer o Brasil despencar no abismo.
Não dá para os pragmáticos acharem que o governo Bolsonaro é "bom" ou "ótimo" porque "combate a crise econômica". Que combate?
Bolsonaro, que costuma falar muitas besteiras, foi longe demais ao corroborar as acusações do ex-funcionário da Yacows, Hans River do Rio Nascimento, fez contra a repórter da Folha de São Paulo, Patrícia Campos Mello.
Na maior cara-de-pau, Hans River disse que Patrícia "teria lhe convidado a sair com ela" em troca de um depoimento sobre as fake news nas redes sociais durante a campanha de Bolsonaro.
A declaração é mentirosa e ofensiva. Tipicamente fake news.
Pois não bastasse Eduardo Bolsonaro ter concordado com Hans, o pai do deputado, o presidente Jair Bolsonaro, também repetiu a mesma ofensa, durante um encontro com apoiadores em Brasília.
Disse o presidente:
"Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim [risos de Bolsonaro e dos presentes]. Lá em 2018 ele [Hans] já dizia que ele chegava e ia perguntando: ‘O Bolsonaro pagou pra você divulgar pelo WhatsApp informações?’ E outra, se você fez fake news contra o PT, menos com menos dá mais na matemática, se eu for mentir contra o PT, eu estou falando bem, porque o PT só fez besteira".
Além da expressão "furo" significar notícia de primeira mão, pode ser também uma expressão de insinuação sexual.
Jair Bolsonaro ainda foi esnobe e irônico ao saber que sua declaração repercutiu mal, num encontro com jornalistas:
"Alguém da Folha de São Paulo aí? Alguém da Folha de São Paulo aí? Eu agredi sexualmente uma repórter hoje? Parabéns à mídia, aí. Não quero conversa hoje. Eu cometi uma violência sexual contra a imprensa hoje?".
O presidente Bolsonaro, depois disso, abandonou a entrevista.
A ofensa a Patrícia Campos Mello recebeu o repúdio de movimentos sociais, de políticos e mídia progressistas e de entidades que representam jornalistas, além de setores da centro-direita, dos mais diversos, que também reagiram com indignação à ofensa de Bolsonaro.
Uma das entidades, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), entrou com pedido de impeachment contra Bolsonaro na Procuradoria-Geral da República.
O presidente da ABI, jornalista Paulo Jerônimo de Souza, escreveu uma carta dizendo que Jair Bolsonaro desmerece a Presidência da República e menciona o apelido "Cavalão", que o governante tinha quando era militar, há mais de 30 anos:
Nota oficial da ABI
Nesta terça-feira, mais uma vez, para vergonha dos brasileiros, que têm o mínimo de educação e civilidade, o presidente da República, Jair Bolsonaro, é ofensivo e agride, de forma covarde, a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo.
Este comportamento misógino desmerece o cargo de Presidente da República e afronta a Constituição Federal.
O que temos visto e ouvido, quase cotidianamente, não se trata de uma questão política ou ideológica. Cada dia mais, fica patente que o presidente precisa, urgentemente, de buscar um tratamento terapêutico.
A ABI conclama a sociedade brasileira a reagir às demonstrações do “Cavalão”, como era conhecido Bolsonaro na caserna, e requer à Procuradoria Geral da República que cumpra o seu papel constitucional, denunciando a quebra de decoro pelo ex-capitão Jair Bolsonaro.
Paulo Jeronimo de Sousa
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