BIELO PEREIRA E JOJO TODDYNHO: ANTI-GORDOFOBIA OU UMA FORMA DE OBJETIFICAÇÃO DO CORPO FEMININO?
A sensualidade, sem dúvida alguma, não pode ser o ponto de medida para a autoestima e o empoderamento de pessoa alguma.
Combater o preconceito através da "provocatividade" como um fim em si mesmo e apelar para a "sensualidade de guerra" feita mais para incomodar do que causar prazer, é só um tiro pela culatra.
Vide o caso da bregalização da cultura popular, que só abriu as portas para o golpe político de 2016 e para o governo Bolsonaro.
Usar o "mau gosto" como bandeira libertária é um desperdício. Até porque, à sua maneira, os bolsonaristas também se impõem pelo "mau gosto".
O "movimento corpo livre", nova menina dos olhos da intelectualidade "bacana", é uma grande falácia, que aposta na "sensualidade de guerra" como arma para impor reconhecimento.
O apelo da hora é a erotização das mulheres muito obesas, como suposta demonstração de autoestima que só causa o efeito contrário.
Afinal, como na "sensualidade de guerra" - que, no caso das mulheres siliconadas, tentou desviar, em vão, a objetificação do corpo feminino para o feminismo de esquerda - , essa apelação das obesas é feita mais para incomodar e irritar os outros do que trazer alguma valorização digna.
E o que é "liberdade do corpo" diante da escravização da consciência, ou da obrigação de que todos temos que ser "sensuais" se quisermos ser valorizados na sociedade?
Essa retórica da "liberdade do corpo" é tão rasa e contraditória quanto a "liberdade de opinião" que produz aberrações que vão de um rabugento Alexandre Garcia a moleques impulsivos como Caio Coppolla.
Existem muitas formas de combater a gordofobia que não precisam passar pela sensualidade ostensiva. Paciência. A vida não é uma revista pornô.
Afinal, existe o cotidiano profissional, o familiar, a concessão de direitos e garantias, a gentileza humana etc.
O simples fato de uma obesa tentar se sensualizar não garante a valorização esperada de sua condição física.
Muito pelo contrário, pode dar à obesa uma imagem pejorativa de "oferecida", "libertina" ou mesmo de "metida", "exibicionista" ou "arrogante".
Isso fica até pior. A erotização das obesas as inclui no rol da objetificação do corpo feminino, e, o que é mais grave, pode fortalecer a gordofobia que diz combater.
A sensualidade não pode ser a medida de todas as coisas, o centro do universo, a essência de tudo.
Um exemplo ilustrativo foi um toplesszaço ocorrido em 2011, no Rio de Janeiro.
Mulheres foram exibir os seios nus por uma finalidade educativa: mostrar a questão da afirmação feminina, em seus diversos aspectos, do repúdio ao estupro e ao assédio sexual à questão do câncer de mama.
Veio a Mulher Melão atrapalhar tudo e seu apelo sensacionalista de mulher-objeto desviou a atenção da imprensa e destruiu a essência original do evento. Depois disso, não houve mais toplesszaço, pelo menos da forma como foi feito até então.
A "liberdade do corpo" e a "provocatividade" como um fim em si mesmo causaram problemas no exterior.
Foi numa apresentação durante o intervalo do Super Bowl, o mais importante evento de futebol americano, ocorrido no último dia 02, no Hard Rock Stadium, em Miami Garden, uma cidadezinha do condado (região metropolitana) de Miami, na Flórida.
As cantoras Shakira e Jennifer Lopez fizeram uma apresentação apelativa, forçando demais na sensualidade, a ponto de suas performances serem consideradas "um show pornô".
Muitas pessoas se indignaram com as performances, durante as quais J-Lo chegou a agarrar a própria virilha.
"Isso nos leva de volta a quando o valor das mulheres vinha da sensualidade delas, não dos cérebros / personalidade, e não gosto disso em uma transmissão televisiva voltada para toda a família", escreveu um internauta.
Houve até mesmo acusações de incitação ao tráfico sexual.Um outro internauta classificou o espetáculo como "nojento".
Imagine se fosse no Brasil. A intelectualidade "bacana", aqui, passaria pano na performance das duas e escreveria algo com a costumeira hipocrisia pseudo-progressista:
"Enquanto as patrulhas estéticas e moralistas esbravejam de horror, Shakira e J-Lo esfregam na cara da sociedade hipócrita a sua sensualidade, agarrando a virília, sim, e rebolando muito, até de uma forma mais moderada do que deveria ser. Exposição ao público infantil? Sim, porque é liberdade, e liberdade tem que ser ensinada à criançada, como tudo na realidade".
E olha que, no contexto dos EUA, o repúdio à performance de Shakira e J-Lo - que, no Brasil, estaria associada à "liberdade do corpo" - não partiu de "ricas e ressentidas elites estéticas moralistas higienistas etcetera".
Essa rejeição veio das chamadas classes populares, dentro do contexto estadunidense.
E, a exemplo de um internauta, não dá para medir o valor da mulher pela sensualidade.
E é isso o tiro no pé do "movimento corpo livre".
Em vez de questionar a objetificação do corpo feminino, o "corpo livre" o recondiciona para um suposto "feminismo popular" e ainda inclui as pessoas "fora do padrão".
Ou seja, acaba transformando as obesas em mulheres-objetos. Algo como "mulheres-frutas" mais "carnudas".
A vida não é um açougue. E a sensualidade não é o centro do empoderamento humano.
O respeito às pessoas gordas se passa pelas atitudes do cotidiano e pela inclusão social e não pela erotização forçada, empurrada goela abaixo para supostas patrulhas estéticas.
Até porque a erotização, quando exagerada, extrema e forçada, investe mais no fortalecimento de preconceitos do que no combate aos mesmos.
Já nos basta que a bregalização cultural do "popular demais" nos levou ao golpe de 2016.
A sensualidade, sem dúvida alguma, não pode ser o ponto de medida para a autoestima e o empoderamento de pessoa alguma.
Combater o preconceito através da "provocatividade" como um fim em si mesmo e apelar para a "sensualidade de guerra" feita mais para incomodar do que causar prazer, é só um tiro pela culatra.
Vide o caso da bregalização da cultura popular, que só abriu as portas para o golpe político de 2016 e para o governo Bolsonaro.
Usar o "mau gosto" como bandeira libertária é um desperdício. Até porque, à sua maneira, os bolsonaristas também se impõem pelo "mau gosto".
O "movimento corpo livre", nova menina dos olhos da intelectualidade "bacana", é uma grande falácia, que aposta na "sensualidade de guerra" como arma para impor reconhecimento.
O apelo da hora é a erotização das mulheres muito obesas, como suposta demonstração de autoestima que só causa o efeito contrário.
Afinal, como na "sensualidade de guerra" - que, no caso das mulheres siliconadas, tentou desviar, em vão, a objetificação do corpo feminino para o feminismo de esquerda - , essa apelação das obesas é feita mais para incomodar e irritar os outros do que trazer alguma valorização digna.
E o que é "liberdade do corpo" diante da escravização da consciência, ou da obrigação de que todos temos que ser "sensuais" se quisermos ser valorizados na sociedade?
Essa retórica da "liberdade do corpo" é tão rasa e contraditória quanto a "liberdade de opinião" que produz aberrações que vão de um rabugento Alexandre Garcia a moleques impulsivos como Caio Coppolla.
Existem muitas formas de combater a gordofobia que não precisam passar pela sensualidade ostensiva. Paciência. A vida não é uma revista pornô.
Afinal, existe o cotidiano profissional, o familiar, a concessão de direitos e garantias, a gentileza humana etc.
O simples fato de uma obesa tentar se sensualizar não garante a valorização esperada de sua condição física.
Muito pelo contrário, pode dar à obesa uma imagem pejorativa de "oferecida", "libertina" ou mesmo de "metida", "exibicionista" ou "arrogante".
Isso fica até pior. A erotização das obesas as inclui no rol da objetificação do corpo feminino, e, o que é mais grave, pode fortalecer a gordofobia que diz combater.
A sensualidade não pode ser a medida de todas as coisas, o centro do universo, a essência de tudo.
Um exemplo ilustrativo foi um toplesszaço ocorrido em 2011, no Rio de Janeiro.
Mulheres foram exibir os seios nus por uma finalidade educativa: mostrar a questão da afirmação feminina, em seus diversos aspectos, do repúdio ao estupro e ao assédio sexual à questão do câncer de mama.
Veio a Mulher Melão atrapalhar tudo e seu apelo sensacionalista de mulher-objeto desviou a atenção da imprensa e destruiu a essência original do evento. Depois disso, não houve mais toplesszaço, pelo menos da forma como foi feito até então.
A "liberdade do corpo" e a "provocatividade" como um fim em si mesmo causaram problemas no exterior.
Foi numa apresentação durante o intervalo do Super Bowl, o mais importante evento de futebol americano, ocorrido no último dia 02, no Hard Rock Stadium, em Miami Garden, uma cidadezinha do condado (região metropolitana) de Miami, na Flórida.
As cantoras Shakira e Jennifer Lopez fizeram uma apresentação apelativa, forçando demais na sensualidade, a ponto de suas performances serem consideradas "um show pornô".
Muitas pessoas se indignaram com as performances, durante as quais J-Lo chegou a agarrar a própria virilha.
"Isso nos leva de volta a quando o valor das mulheres vinha da sensualidade delas, não dos cérebros / personalidade, e não gosto disso em uma transmissão televisiva voltada para toda a família", escreveu um internauta.
Houve até mesmo acusações de incitação ao tráfico sexual.Um outro internauta classificou o espetáculo como "nojento".
Imagine se fosse no Brasil. A intelectualidade "bacana", aqui, passaria pano na performance das duas e escreveria algo com a costumeira hipocrisia pseudo-progressista:
"Enquanto as patrulhas estéticas e moralistas esbravejam de horror, Shakira e J-Lo esfregam na cara da sociedade hipócrita a sua sensualidade, agarrando a virília, sim, e rebolando muito, até de uma forma mais moderada do que deveria ser. Exposição ao público infantil? Sim, porque é liberdade, e liberdade tem que ser ensinada à criançada, como tudo na realidade".
E olha que, no contexto dos EUA, o repúdio à performance de Shakira e J-Lo - que, no Brasil, estaria associada à "liberdade do corpo" - não partiu de "ricas e ressentidas elites estéticas moralistas higienistas etcetera".
Essa rejeição veio das chamadas classes populares, dentro do contexto estadunidense.
E, a exemplo de um internauta, não dá para medir o valor da mulher pela sensualidade.
E é isso o tiro no pé do "movimento corpo livre".
Em vez de questionar a objetificação do corpo feminino, o "corpo livre" o recondiciona para um suposto "feminismo popular" e ainda inclui as pessoas "fora do padrão".
Ou seja, acaba transformando as obesas em mulheres-objetos. Algo como "mulheres-frutas" mais "carnudas".
A vida não é um açougue. E a sensualidade não é o centro do empoderamento humano.
O respeito às pessoas gordas se passa pelas atitudes do cotidiano e pela inclusão social e não pela erotização forçada, empurrada goela abaixo para supostas patrulhas estéticas.
Até porque a erotização, quando exagerada, extrema e forçada, investe mais no fortalecimento de preconceitos do que no combate aos mesmos.
Já nos basta que a bregalização cultural do "popular demais" nos levou ao golpe de 2016.
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