Um fenômeno está ocorrendo nos últimos dias.
É a direita moderada obtendo protagonismo nas atitudes combativas diversas.
Oposicionistas ao bolsonarismo surgiram dentro de seu meio, como Alexandre Frota, Joice Hasselmann e Arthur "Mamãe Falei" do Val.
Temos também, na direita moderada propriamente dita - tipo DEM, PSDB, parte da mídia hegemônica - , as posturas de Rodrigo Maia contra os abusos do governo Bolsonaro.
E temos, recentemente, a Folha de São Paulo, que obteve o protagonismo na campanha pelo impeachment de Bolsonaro.
Isso, em si, não é ruim. É até saudável, dentro dos princípios democráticos.
É impossível não nos solidarizarmos com Patrícia Campos Mello, repórter da Folha que sofreu sucessivas ofensas e agressões de Bolsonaro e seus apoiadores.
A repórter, simplesmente, foi investigar a indústria de fake news que elegeu Jair Bolsonaro.
A última ofensa que ela recebeu foi pesada: a declaração mentirosa e cafajeste de um ex-funcionário da Yacows, envolvida com a fábrica de notícias falsas, de que Patrícia teria assediado ele para obter um depoimento.
Jair Bolsonaro defendeu o mentiroso e ainda disse que a jornalista queria "dar furo contra ele".
Neste sentido, é até justo a Folha de São Paulo obter protagonismo, protegendo - com todo mérito - sua profissional e reagindo contra os abusos feitos à repórter, mesmo vindos de um chefe do Executivo federal.
No entanto, esse protagonismo veio de um deserto de atitudes das esquerdas brasileiras.
Desde que as esquerdas jogaram a toalha quanto aos debates culturais - as esquerdas preferiram aceitar a retórica da bregalização trazida pela mídia venal e seus intelectuais associados - , as pautas progressistas foram simplesmente escapando das mãos dos próprios progressistas.
Enquanto veículos como Carta Capital, Caros Amigos e Fórum passavam pano em fenômenos popularescos patrocinados pela mídia oligárquica, jornalistas neoliberais surgidos do nada, como Rodrigo Constantino, tomavam para si as críticas contra a imbecilização cultural.
As esquerdas ficaram com seus "brinquedinhos" dados de presente pela direita moderada, até dois anos atrás: funqueiros, "médiuns espíritas", mulheres-objetos, breganejos "humanistas", jogadores de futebol garanhões.
Seja o "médium" que prega que todo sofredor tem que aceitar suas desgraças em silêncio, seja o breganejo que fala em "amizade" e vampiriza o cancioneiro do Clube da Esquina, seja a mulher-objeto que diz mostrar seu corpo para "dominar os homens".
Todos cercados de uma utopia que simbolizava, supostamente, pobres sorrindo, sem saber se eles foram manipulados por essa indústria do entretenimento que produz esses "heróis da Rede Globo".
Pior: quando se falava em manipulação do povo pobre, os intelectuais pró-brega, em surtos bolsomínions nunca assumidos (iria pegar mal), disparavam desaforos e ironias.
Eu desconfio muito, por exemplo, do suposto anti-direitismo para internauta ver do historiador mineiro Eugênio Arantes Raggi. Para mim, ele sente uma paixão secreta por Aécio Neves e não quer
assumir, enquanto finge ser esquerdista para agradar amigos estratégicos.
Estou pesquisando para meu livro sobre a intelectualidade pró-brega e ando descobrindo mais coisas, mesmo aquelas do tempo do meu blogue Mingau de Aço que, então, eu não havia noticiado.
A de que Pedro Alexandre Sanches simulou seu esquerdismo em troca de umas verbas da Lei Rouanet. Na esperança de que essas verbas voltem, ele preferiu não desembarcar do esquerdismo de fachada, mantendo, no Twitter, o codinome hipócrita "Lula Alexandre Sanches".
E as esquerdas foram dançar "funk" em 17 de abril de 2016, sem saber que o dono da Furacão 2000, Rômulo Costa, sempre esteve ao lado dos golpistas.
Vai levar tempo para as esquerdas admitirem isso e deixarem a visão infantil de que Rômulo, que sempre se filiou a partidos direitistas e é ligado à Bancada da Bíblia, seria um "marxista convicto".
Grande furada. Imagine Rômulo, se filiando ao PSL pré-Bolsonaro em 2013 e, em 2017, se reunindo com um senador golpista, Eduardo Lopes, do Republicanos, o mesmo de Marcello Crivella.
É impossível que, nesse intervalo todo, Rômulo Costa tenha tido um "surto comunista" e, se achando "marxista desde criancinha", faça um "baile funk" com o Partido dos Trabalhadores por "natural solidariedade à causa progressista". Vá entender!
Não dá para esquerdistas espernearem achando tal descoberta um absurdo. Ou criar teses para relativizar o "suposto" direitismo de Rômulo Costa.
Aliás, o "pensamento desejoso" (wishful thinking) está contaminando e imobilizando as esquerdas.
Seus "brinquedos" de centro-direita são guardados e escondidos no armário, em vez de serem jogados fora. O muxoxo ranzinza de quem quer dizer "vocês pensem o que quiserem" é inútil.
Também não adianta vomitar desaforos, em surtos bolsomínions ocultos em certos esquerdistas (mesmo alguns autênticos, mas sobretudo os falsos), dizendo que o sujeito que critica a bregalização é um "aristocrata rabugento".
Enquanto as esquerdas pensarem que estão em 2002 ou 2005, elas não vão para a frente.
A elas, só resta preparar a pipoca e assistir à mobilização da direita moderada. E preparar o estoque desse alimento de milho para a posse de Luciano Huck como presidente da República.
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