Estou finalizando meu livro sobre a intelectualidade pró-brega, e analisei, entre outras coisas, dois intelectuais reacionariamente debochados.
Um é o antropólogo baiano Roberto Albergaria, já falecido, e outro, o mineiro Eugênio Raggi, que, apesar do pseudo-esquerdismo, age como se fosse o "véio da Havan" da musicologia.
Ambos se projetaram por um discurso marcado pelo deboche, em defesa do establishment cultural brasileiro que se refere à domesticação do povo pobre.
Penso nisso quando alguns episódios vêm à tona.
De um lado, temos o ministro da Economia de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes elogiando o aumento do dólar e se queixando de que "até as empregadas domésticas estavam viajando para a Disney".
De outro, temos o deputado federal psolista, Glauber Braga, que, em audiência com Sérgio Moro na Câmara dos Deputados, chamou o ministro da Justiça de Bolsonaro de "amigo dos milicianos".
Glauber Braga, deputado fluminense, é o mesmo que chamou Moro de "juiz ladrão", tempos atrás.
Braga também chamou o ministro da Economia de "Caco Antibes da vida real", baseado em memes nas redes sociais que fizeram até o jornal carioca Extra, das Organizações Globo, pegar carona na situação.
O problema do PSOL é que ele produz frases de impacto, mas sem ações de impacto.
Eis o problema: frases que repercutem por um dia, mas depois evaporam. Afinal, não há ações que possam combater o cenário político que temos que suportar.
Infelizmente, confundimos ativismo social e o "Carnevale", que é o embrião do Carnaval.
No Carnevale, a população é autorizada a repudiar o poder vigente, temporariamente.
Foi essa a deixa de Michel Temer diante do desfile da Paraíso do Tuiuti. A intenção da escola de samba foi excelente, mas, infelizmente, não surtiu efeito.
Temer deve estar rindo até hoje do grito do "Fora Temer", que nunca passou de fogo-de-palha.
E agora Jair Bolsonaro sente o sabor, com o "Ei, Bolsonaro, vai tomar no...".
Vivemos a hegemonia da "provocatividade", que tornou-se um fim em si mesmo.
Polêmicas fúteis, provocatividades baratas, provocação que não provoca mais, de tão banal que é.
Ela só lacra a Internet, põe um assunto nos trend topics do Twitter, monopoliza, durante algumas horas, as visualizações no WhatsApp e só.
Tudo com a superficialidade de um reality show.
E ainda somos um país dos Quenuncas, aquela turma que vive dizendo "quem nunca?...".
A banalização dos erros, dos escândalos, dos conflitos, tudo isso lembra o Big Brother Brasil 20, um programa que deveria ter acabado faz tempo, se o Brasil fosse menos ingênuo.
Só que o BBB 20 segue em frente, e, o que é pior, com o cenário político brasileiro como seu maior concorrente.
Até que Paulo Guedes impeça nossas empregadas de viajar para a Disney, mas libere que nosso dinheiro migre para as contas dos paraísos fiscais do próprio ministro e de outros rentistas amigos seus.
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