SEGUNDO UM "HUMILDE MÉDIUM", PESSOAS HUMILDES QUE FORAM AO GRAN CIRCO NORTE-AMERICANO EM NITERÓI ERAM "ROMANOS SANGUINÁRIOS", ACUSAÇÃO FEITA SEM O MENOR FUNDAMENTO.
"- Querida, li que certas pessoas querem tirar o nome de nosso amado médium de uma avenida em Piratininga.
- Que pecadores! Pedindo uma coisa dessas contra o bondoso homem. Quanta falta de amor no coração.
- Não se preocupe. Vamos ficar calados. É porque mudaram o nome de outra rua, tirando o nome de um respeitado militar e colocando um nome de uma bicha que se vestia de mulher. A gente fica em silêncio, deixa a poeira passar e ninguém pede mais a mudança de nome de rua".
Conversas assim ocorrem numa Niterói acomodada que cheira a mofo e acumula problemas, porque acha que Índice de Desenvolvimento Humano cai do céu.
E aí raramente se vê mudanças em Niterói, Uma aqui, outra ali.
Há a construção do Mercado Municipal, em fase de finalização. Há a ampliação da Av. Marquês do Paraná. Há o túnel Cafubá-Charitas. E há a mudança do nome da Rua Coronel Moreira César para Rua Ator Paulo Gustavo, a "bicha" do diálogo hipotético mas potencialmente realista.
Mudanças a conta-gotas.
Mas nada da nova avenida de Rio do Ouro a Várzea das Moças, apesar de um terrenão dando mole para uma caprichada avenida ou rodovia. Pobre da RJ-106 que, em Niterói, continua sofrendo o fardo de "avenida de bairro".
Nada de novo hotel no Parque da Cidade. Nada de passarelas de pedestres na Marquês do Paraná e nas estradas Francisco da Cruz Nunes e Caetano Monteiro. Nada de mergulhão no cruzamento da Av. Jansen de Mello com as ruas Marechal Deodoro e São Lourenço.
Enquanto mobilidade urbana, para o niteroiense médio, se limitar ao solipsismo das ciclovias e do recapeamento de asfaltos, Niterói nunca vai progredir de verdade.
E aí o pessoal se assusta quando lançamos a campanha pela retirada de um nome dado à Avenida da Ciclovia, em Piratininga, mudando para o da saudosa dramaturga Fernanda Young.
"Meu Deus, retirar o nome de uma pessoa de bem, que só viveu pelo próximo!", dizem, iludidos, os partidários de tal religioso, um "médium" farsante, charlatão, pioneiro na literatura fake e uma das pessoas mais reacionárias do Brasil.
Devemos lembrar que a "caridade" que serve de carteirada para blindar o "médium" dos piores erros nunca passou de conversa para boi dormir.
O que ele fazia é distribuir doações de outras pessoas, e repassar casarões e a grana dos direitos autorais de seus mentirosos 400 e tantos livros (que NADA dizem com muito palavreado) para o patrimônio financeiro dos chefões do "movimento espírita".
Um desses terríveis livros de mistificação e palavras perigosamente diabéticas fez justamente acusações infundadas contra multidões de pessoas pobres e, agindo pelo falso testemunho, atribuiu autoria a um escritor falecido três décadas antes. Fácil falar besteiras e grosserias e pôr tudo na autoria de um morto.
As pessoas se apavoram quando dissemos que o "médium" nada contribuiu para Niterói, e falam que o nome da avenida leva em conta um "homem reconhecido e admirado no Brasil e no mundo (sic)".
Pois se o "bondoso homem" contribuiu para Niterói, foi de maneira vergonhosamente negativa.
É sério. E muito, muitíssimo grave.
Foi em relação ás vítimas humildes que tinham, entre as poucas alegrias, assistir a um espetáculo de circo, ainda mais às vésperas do Natal.
O famoso incêndio foi um ato criminoso que atingiu o Gran Circo Norte-Americano, montado na altura da Praça dos Expedicionários, entre a Av. Feliciano Sodré e a Av. Jansen de Mello. O dia foi 17 de dezembro de 1961, por volta de 17 horas.
Oficialmente, cerca de 500 pessoas morreram. Mas o número pode ter sido maior.
No livro Cartas e Crônicas, o "humilde médium" disparou o seguinte juízo de valor contra pessoas HUMILDES: eram "reencarnação" de patrícios que tinham fome de sangue jogando pessoas para morrerem queimadas em estádios da Gália, atual França, no século II. O livro é de 1966.
A acusação foi feita sem o menor fundamento, movida por especulações moralistas infelizes.
E como o "médium" não queria levar culpa, ele fez falso testemunho e disse que as alegações vinham de Humberto de Campos, muito mal disfarçado, este, por um pseudônimo risível que parece de personagem de desenho animado. O pobre do Humberto faleceu 32 anos antes do pavoroso livro.
Recentemente, em 2009, outro "médium" farsante, Woyne Figner Sachettin, de São José do Rio Preto, se passou por Alberto Santos Dumont no livro O Voo da Esperança e usou o mestre da aviação para um juízo de valor semelhante.
Foi feita uma acusação, também sem fundamento, de que as vítimas de um acidente com um avião da TAM, em 2007 (foram 29 mortos no acidente de Congonhas, aqui em São Paulo), de também terem sido "patrícios romanos sanguinários" do século II.
Só para se ter uma ideia, a acusação do dr. Woyne, rendeu processo judicial por danos morais movido por três famílias dos passageiros mortos. Não tive conhecimento de um processo que tenha sido movido pelos herdeiros legais de Santos Dumont, por ter usado o nome dele nas acusações ofensivas.
E isso é grave. O "bondoso médium", que quase foi para a cadeia em 1944 e, por sorte, tornou-se, até hoje, postumamente, o brasileiro que mais recebe passagem de pano na história de nosso país, podia também ter sido alvo de processo judicial em 1966 por tamanha atrocidade.
A carteirada da suposta caridade do "médium" o livrou até de ser tratado como suspeito.
Mas a diferença é que os mortos do acidente da TAM eram gente abastada. Teve até uma editora de uma revista feminina entre os mortos.
Já os frequentadores do Gran Circo Norte-Americanos, coitados, não tinham dinheiro nem consciência para contratar um advogado.
Poderiam recorrer à assistência jurídica gratuita, ainda que a Defensoria Pública, hoje dedicada a este fim, tivesse surgido oficialmente em 1975. Mas não tinham ideia dessa possibilidade, mesmo numa época como 1966, quando a ditadura havia avisado que veio pra ficar.
Foi uma ofensa sem tamanho, da mais extrema gravidade, uma atitude altamente deplorável e condenável vinda de um homem idolatrado por um suposto "trabalho do bem", que nunca passou de "carteirada", à maneira de Luciano Huck nos últimos anos.
O "médium" ainda ofendeu mais vezes. Uma delas, agrediu os amigos do falecido engenheiro Jair Presente, que desconfiaram das "psicografias" por conhecerem bem o finado amigo. O "médium" chamou essa desconfiança de "bobagem da grossa". Foi em 1974.
Espera-se um bom samaritano que não se iluda com mitificações e mistificações religiosas e que escreva um livro descrevendo o lado podre do "bondoso médium" que usava peruca e depois boné (ficou a cara do Eustáquio de Coragem o Cão Covarde), sem passagens de pano de qualquer espécie.
O "bom homem" era, no fundo, ranzinza. Suas "mensagens lindas" eram uma combinação bruta e sem graça de trocadilhos baratos, com apologias sádicas ao sofrimento humano, e muitas das "lindas estórias" foram meras lorotas feitas para reforçar o mito religioso do "médium".
Ver que essas lorotas vindas de escritores que se diziam "jornalistas investigativos" ou até "biógrafos ateus" é um horror.
Só pela acusação contra o povo pobre, em maioria negro, índio e mestiço, que ia ver atrações de circo e tiveram a tristeza de morrerem, serem feridos ou sobreviverem de forma traumática à tragédia que viram na frente, desqualifica o "médium" totalmente.
E pela gravidade desta acusação, a obrigação é que se retire imediatamente o nome dele da Avenida da Ciclovia em Piratininga, bairro de Niterói, uma "avenida" que nem tem cara de avenida nem de ciclovia, mas de uma rua sem asfalto, improvisada em estradas de areia, barro e grama.
Quem defender a permanência desse nome deplorável deveria sentir vergonha de tamanha obsessão, movida por um enrustido fanatismo religioso!
Daí que se deve mudar esse nome, para o bem do progresso que Niterói necessita ter, para o da saudosa dramaturga Fernanda Young, que realizou, sim, uma caridade real, alegrando e animando muita gente por conta de sua arte, principalmente pelos seriados de comédia altamente criativos.
Ela nasceu em Niterói e, portanto, tem a ver com a cultura da nossa cidade.
Se mudar o nome, quem sabe também se estimule o ânimo de melhorar a Avenida da Ciclovia e reformá-la para transformar numa avenida de verdade e com espaço para ciclovia na calçada.
A fé não pode servir de desculpa para obsessões e idolatrias viciadas, alimentadas por uma emotividade piegas e uma positividade tóxica que, quando tudo está bem, fazem os devotos serem mansos e dóceis, mas diante da menor contrariedade, os fazem explodir em fúrias violentas.
Portanto, que lutemos para que a Av. da Ciclovia, em Niterói, se torne a Av. da Ciclovia Fernanda Young!
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