Sabe quando alguém solta uma alegação sem ter o menor fundamento, sem mostrar argumentos consistentes? É o que as esquerdas lulistas estão fazendo em relação ao presidente Lula, fazendo uma avaliação do primeiro mês de seu governo cheia de declarações que soam especulativas.
Fala-se que Lula começou um governo "mais à esquerda", "voltado para as bases populares" e cumprindo "dez meses em um". Seja a mídia corporativa, como a Folha de São Paulo, seja a mídia de esquerda, do qual o Brasil 247 é o maior propagandista de Lula, soltam-se avaliações positivas que se atolam nos enunciados, pois, lendo com mais atenção, elas carecem de fundamentação, de embasamento e, principalmente, de argumentos consistentes.
Tudo fica naquele clima do "porque sim". Desculpas como o uso de "linguagem neutra" (a linguagem agênero de jargões como "todxs" ou "todes"), o enfrentamento dos militares e as frases de efeito, como prometer isenção de imposto de renda - às vezes beneficiando quem recebe até dois salários mínimos, às vezes favorecendo quem ganha até R$ 5 mil - , não são suficientes para justificar o suposto "governo mais à esquerda".
Lendo essas matérias, fica parecendo que a mídia progressista, que prometia a recuperação do jornalismo de verdade, perdeu o gosto de tal finalidade. A mídia corporativa, como a Folha de São Paulo - dona do portal UOL, que certa vez teve a covardia de se referir ao cantor Art Garfunkel, da mundialmente famosíssima dupla Simon & Garfunkel, como apenas "um ator americano" - , já comete seus escorregos informativos há tempos e isso é compreensível.
Mas a mídia progressista não. Sua promessa de recuperar o verdadeiro jornalismo, contratando jornalistas experientes e consagrados, vários deles premiados por grandes reportagens, se dissolveu como pó. Na campanha presidencial, a defesa de Lula se deu através de textos especulativos, vagos, muitos arrogantes na demonização da Terceira Via, outros se apropriando de líderes falecidos, como Leonel Brizola, se esquecendo de que este reprovaria a aliança de Lula com Geraldo Alckmin.
A falta de objetividade é tanta, mas é um reflexo de uma sociedade afobada em derrubar o bolsonarismo, não com a calma cirúrgica de exterminar um mal gravíssimo, mas com o nervosismo e a ansiedade de quem não se compromete com escrúpulos, com a consciência e com a verdade.
E o que Lula realmente fez no primeiro mês de governo?
Ele fez apenas três coisas: blindar sua imagem, alimentar a popularidade e desmontar o bolsonarismo. A terceira tarefa não é especificidade de Lula, com a única exceção dele decidir destituir quadros bolsonaristas nos ministérios e instituições públicas. Ministério da Justiça e Supremo Tribunal Federal, e, a serviço deles, a Polícia Federal, já têm atributos suficientes para combater o bolsonarismo, que recentemente teve garimpeiros ilegais fugindo da reserva indígena Yanomami.
A iniciativa principal, o combate à fome, que deveria ser a primeira medida de Lula, não teve uma decisão sequer. Até a viagem de Lula a Roraima, para acompanhar a tragédia Yanomami, se insere no contexto do desmonte do bolsonarismo. Parece que a única grande realização de Lula é derrubar o bolsonarismo. Uma atitude válida, mas não a única.
Fora isso, o que Lula fez? Viajar para falar com outros presidentes. E, depois, fazer promessas ou propostas, como se ainda estivesse em campanha, tudo limitado a ideias imprecisas e vagas. E, além disso, há as bravatas de Lula "contra o mercado", surfando na crise das Lojas Americanas, cujo um dos sócios é o "rei da cerveja" Jorge Paulo Lemann, por sinal inserido também no revanchismo anti-Bolsonaro do atual presidente da República.
Lula, aliás, entrou em contradição. Na sua campanha presidencial, Lula falou que não saiu da prisão para fazer vingança, que só queria perdoar, que seu governo seria apenas de reconstrução do Brasil, da defesa da democracia e do combate à fome.
De repente o começo do governo Lula se concentrou na supervalorização do desmonte do bolsonarismo, uma medida justa, mas, da forma como está sendo feita, deixa vazar o revanchismo do presidente contra aqueles que contribuíram para sua prisão em 2018.
Eu não percebi um governo "mais à esquerda" de Lula. Aliás, nem esquerda nem direita, pois Lula simplesmente não começou a governar. E, se governasse, também Lula não seria de esquerda, vide as alianças da frente ampla que não vão aceitar as ousadias de Lula, se é que o presidente, hoje mais do que moderado, vai querer ousar, em que pesem as frases de efeito que sugiram este sentido.
Sabe aquele dono de uma casa em ruínas que, quando deveria reconstruí-la com as devidas obras de recuperação, se preocupa demais em matar pernilongos, cupins e baratas? Pois é, é Lula querendo "matar" os bolsonaristas, se esquecendo todavia de, paralelamente, adotar medidas para combater a fome e a miséria.
E isso é grave. Pois Jair Bolsonaro, nos quatro anos de seu governo, não se interessou em melhorar a vida dos brasileiros. Ele deixou um déficit social muito grande, que Lula deveria estar começando a reparar no primeiro dia de seu governo. Em vez disso, Lula deixou a sua maior causa, o combate à fome, esperar.
Lula quis tanto ser eleito usando a fome como bandeira de sua campanha, que até chorou ao enfatizar que o Brasil está sofrendo com tanta gente pobre e faminta. Sua frase, repetida tantas vezes, é bem famosa: "Se o povo brasileiro puder ter três refeições por dia, eu considero a minha missão cumprida".
É, mas até agora essa missão nem sequer começou a sair da promessa. Os bolsonaristas estão indo para a cadeia, mas a barriga do povo brasileiro continua roncando, e muita gente já morreu de fome no janeiro de 2023 que foi deixado para trás.
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