LÉO BATISTA EM 1964 E NO SEU ÚLTIMO ANIVERSÁRIO, EM JULHO DE 2024.
Há poucos dias, faleceu o apresentador Léo Batista, um dos contratados mais antigos da Rede Globo - ele estava na emissora desde 1970 - , e que foi um dos profissionais mais íntegros e talentosos da televisão e do rádio brasileiro. Era um sujeito simples e modesto, mas de talento inegável e até se adaptou aos tempos atuais, conseguindo assimilar a informalidade linguística dos programas esportivos contemporâneos, mas Léo há muito desenvolveu o estilo descontraído e leve que o consagrou.
Léo deixou uma grande história. Foi o locutor da Rádio Globo que primeiro noticiou a morte de Getúlio Vargas, em 1954. Apresentou o Telejornal Pirelli, um dos jornalísticos da fase inicial da TV brasileira (1950-1965) e, depois, foi um dos criadores do Globo Esporte, já na Rede Globo, onde também participou do quadro de apresentadores da primeira edição do Jornal Hoje, em 1971.
Num momento em que se banaliza o termo "Jornalismo", pesquisei, antes de fazer minha análise, a respeito de Léo Batista ser considerado como tal. E devo admitir que Léo, diferente de Cid Moreira, que era apenas um locutor, foi jornalista. No seu currículo, Léo fez redação de informativos radiofônicos e reportagens de TV. De fato, chamar Léo de "jornalista" soa bastante correto. Ultimamente ele atuava como leitor de textos, mas já atuou em atividades consideradas de fato como jornalísticas.
Mas o que incomoda é que Léo é definido como "jornalista" da maneira errada pelo público leigo, como um leitor de textos. Isso é comparável a chamar um ator de "roteirista" ou um garçom de "cozinheiro". Mesmo que Léo Batista tenha sido realmente um jornalista, as gerações mais recentes ignoram isso e pensam que ele teve essa atribuição porque "lia notícias".
Infelizmente, o Jornalismo virou um terreno para aproveitadores, desde os anos 1990. Primeiro, o oportunismo que o opinionismo representou, sobretudo com o bonapartismo do "jornalismo de FM" que derrubou até rádios de rock históricas. No interior do Brasil ou mesmo em lugares na Bahia, isso propiciou a ascensão de pseudojornalistas que, sem ter formação nem talento no setor, comentavam até sob o que não entendiam, sobretudo com um português sofrível embora falsamente "bem falado".
Ultimamente, veio a praga dos "humoristas-jornalistas" através do "efeito CQC", que além de fazer com que influenciadores e comediantes inventem do nada uma "carreira jornalística" simultânea a suas trajetórias no humor, fez o Pânico da Pan virar um dublê de programa jornalístico. E não estamos falando da indústria de fake news que se tornou o filho repentino e indesejado dos abusos do opinionismo.
Léo Batista foi um profissional de outros tempos que, tendo sido um remanescente até pouco tempo atrás, nos deixou, reforçando um elenco de profissionais que deveria ser divulgado e estudado pelas faculdades de Jornalismo e de Comunicação em geral, de forma a mostrar que, antes de perseguir o prestígio, deve-se desenvolver o talento, o trabalho árduo e, principalmente, a humildade, que o já saudoso apresentador esportivo tinha de sobra.
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