Pular para o conteúdo principal

LULISTAS DESCONTEXTUALIZAM A DITADURA, BOTANDO NO COLO DE BOLSONARO


Sabemos que Jair Bolsonaro é uma figura nefasta e prejudicial, nociva para o Brasil. Mas torna-se exagero botar todos os males do golpismo político no colo dele. Afinal, Bolsonaro é criatura e não criador, sendo mais um subproduto de um culturalismo ultraconservador que, vigente na ditadura militar, tenta sobreviver sendo "ressignificado" para o contexto da "democracia" lulista de hoje.

Enquanto os verdadeiros algozes civis da ditadura militar agora se transformam em lobos em peles de cordeiros, uns até exagerando na pose de "esquerda democrática", os lulistas, mesmo os sindicatos mais influentes - como a CUT e o Sindicato dos Bancários - , estão mordendo a isca da doença infantil de atribuir todo o autoritarismo político ao "capitão".

A tendenciosa associação das imagens da ditadura militar fundidas com a foto de Jair Bolsonaro, publicadas nas páginas da CUT e do Sindicato dos Bancários, segue a mesma retórica usada por Lula que, por um lado, passa pano no golpe militar de 1964 propriamente dito, enquanto, por outro lado, joga toda a culpa do autoritarismo no seu rival maior da campanha de 2022.

Lula fala tanto em "democracia", mas as pessoas se esquecem que o próprio petista sabotou o compromisso democrático de enfrentar uma diversidade de concorrentes. A humilhação dada a Ciro Gomes, contra o qual os lulistas agiram abertamente como valentões da escola, mostra o quanto o discurso de "democracia" trazido por Lula é hipócrita, pois Lula só quer a democracia para si, o que na verdade nada tem de democrático.

É vergonhoso o atual mandato de Lula, pelos vários aspectos que este blogue anda publicando. E Lula, mais uma vez, fracassa depois de ter atraído públicos menores desde que, na campanha presidencial, tentou reeditar o movimento Diretas Já no Vale do Anhangabaú e, depois de tornado presidente, enfrentar os fracassos da baixa adesão do público no Primeiro de Maio em 2024 e no recente Abraço da Democracia.

Mesmo as supostas pesquisas de opinião já não conseguem esconder a queda de popularidade de Lula, que andou sendo criticado até por aliados quando divulgou os tais "recordes históricos" que a realidade não mostra. 

Afinal, a inflação está em alta, o dólar está em alta, os preços caríssimos, o salário é baixo, os empregos que mais aparecem são precarizados envolvendo aberrações dignas de senhores de engenho como a escala 6x1 - seis dias de trabalho e um de descanso - e o trabalho 100% comissionado, quando, na ausência de salário, a remuneração depende da comissão de quem comprar um produto, o que é uma probabilidade, mas não uma certeza.

E aí vemos Lula decepcionando o povo brasileiro, porque, para se promover como o "maior líder democrático do mundo", estabelece alianças com as classes dominantes, como um grande pelego. E, com isso, Lula atrai para si o apoio de antigos algozes da ditadura militar ou antigos neoliberais privatistas. Assim, Lula tenta somar para si o apoio da burguesia, mas subtrai o apoio das classes populares.


A forçada associação de Jair Bolsonaro à ditadura militar, em que pese os atos violentos de Oito de Janeiro, soam caricatas e grosseiras. De repente, personalidades que foram assassinadas pela repressão na época da juventude tenra de Bolsonaro, como Vladimir Herzog e Rubens Paiva, viraram "vítimas" do militar que só governou o Brasil entre 2019 e 2022, mas que nos anos de chumbo era um jovem preocupado com sua vida pessoal.

A descontextualização da ditadura militar acaba sendo um desserviço à verdadeira memória da repressão ditatorial. Tudo se tornou uma pantomima movida pela emoção dos lulistas, que em vez de pedirem justiça contra Bolsonaro pelos crimes que ele cometeu - como o desprezo à necessidade sanitária de combater a pandemia da Covid-19 e o envolvimento com grupos paramilitares, como no caso dos milicianos - , culpam ele até pelo que ele não fez.

Vladimir Herzog e Rubens Paiva foram mortos em contextos muito diferentes dos de Marielle Franco, morta ainda sob o governo Temer, mas na ocasião da ascensão artificial de Bolsonaro. A polarização teatral entre a "ditadura" de Bolsonaro e a "democracia" de Lula mais parece uma rinha de galos política, sem contribuição para a verdadeira democracia nem para a verdadeira memória da repressão.

Para os lulistas, capazes de promover um sucesso de axé-music a "hino marxista" e a cultuar gente tão direitista como Bolsonaro só porque, supostamente, faz pobre sorrir, a redução da ideia de democracia à figura de um homem, por sinal bastante idoso e o único cotado para um novo mandato, só faz envergonhar o povo brasileiro, que se afasta do lulismo cada vez mais, se sentindo abandonado e traído pelo presidente.

O pior e que os lulistas acabam prestando im péssimo serviço aos estudantes de História do Brasil, que correm o risco de confundirem dois momentos políticos bem diferentes, a ditadura militar de 1064-1985 e o governo Bolsonaro de 2019-2022. A memória histórica sairá corrompida com esta confusão, mesmo que a velha ditadura e o bolsonarismo se igualem em malefícios à nação.

Depois o presidente Lula troca o comando da Secretaria de Comunicação do governo porque não se convenceu a realidade a atender os desejos pessoais do chefe da Nação. Enquanto isso, as gerações mais recentes ficam tão confusas que devem imaginar que quem planejou o golpe militar de 1964 foi um menino de nove anos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"ANIMAIS CONSUMISTAS"AJUDAM A ENCARECER PRODUTOS

O consumismo voraz dos "bem de vida" mostra o quanto o impulso de comprar, sem ver o preço, ajuda a tornar os produtos ainda mais caros. Mesmo no Brasil de Lula, que promete melhorias no poder aquisitivo da população, a carestia é um perigo constante e ameaçador. A "boa" sociedade dos que se acham "melhores do que todo mundo", que sonha com um protagonismo mundial quase totalitário, entrou no auge no período do declínio da pandemia e do bolsonarismo, agora como uma elite pretensamente esclarecida pronta a realizar seu desejo de "substituir" o povo brasileiro traçado desde o golpe de 1964. Vemos também que a “boa” sociedade brasileira tem um apetite voraz pelo consumo. São animais consumistas porque sua primeira razão é ter dinheiro e consumir, atendendo ao que seus instintos e impulsos, que estão no lugar de emoções e razões, ordenam.  Para eles, ter vale mais do que ser. Eles só “são” quando têm. Preferem acumular dinheiro sem motivo e fazer de ...

QUANDO, NO ATEÍSMO, O GALINHEIRO SE TRANSFORMA EM TEMPLO DE RAPOSA

O ateísmo virou uma coisa de gente à toa. Além da má compreensão do que é mesmo a descrença em Deus - uma figura lendária e folclórica que grande parte da humanidade atribui como "o Criador de todas as coisas" - , que chega mesmo a se tornar uma "religião invertida" cheia de dogmas (como a certeza da "inexistência de Jesus Cristo", sem admitir pesquisas nem debates sobre o suposto "Jesus histórico" que causa polêmicas nos meios intelectuais), há costumes estranhos nessa descrença toda. Como se vê em comunidades como Ateísmo BR, há uma estranha complacência e até devoção em torno de um farsante religioso, o tal "médium da peruca" que transformou a Doutrina Espírita em um chiqueiro. O "médium dos pés de gelo", que amaldiçoou alguns de seus devotos famosos que, tempos depois, viam seus filhos morrerem prematuramente de repente, é defendido por supostos ateus com uma persistência muitíssimo estranha. As alegações sempre se referem...

A PROIBIÇÃO DO "FUNK" E DO USO DOS CELULARES NAS ESCOLAS

Nos dois lados da polarização, há iniciativas que, embora bastante polêmicas, pretendem diminuir a fuga de foco dos alunos dos ensinos fundamental e médio no cotidiano escolar. Do lado lulista, temos a aprovação de uma lei que limita o uso de telefones celulares para fins pedagógicos, proibindo o uso recreativo nos ambientes escolares. Do lado bolsonarista, várias propostas proíbem projetos que proíbem o "funk" e outras músicas maliciosas a serem tocados nas escolas. Lula sancionou a lei surgida a partir da aprovação do Projeto de Lei 104, de 03 de fevereiro de 2015, do deputado Alceu Moreira (MDB-RS), que estabelece a proibição do uso informal dos telefones celulares pelos alunos das escolas públicas e privadas. A lei só autoriza o uso dos celulares para fins pedagógicos, como pesquisar textos indicados pelos professores para exercícios em salas de aula. ""Essa sanção aqui significa o reconhecimento do trabalho de todas as pessoas sérias que cuidam da educação, de ...

DOUTORADO SOBRE "FUNK" É CHEIO DE EQUÍVOCOS

Não ia escrever mais um texto consecutivo sobre "funk", ocupado com tantas coisas - estou começando a vida em São Paulo - , mas uma matéria me obrigou a comentar mais o assunto. Uma reportagem do Splash , portal de entretenimento do UOL, narrou a iniciativa de Thiago de Souza, o Thiagson, músico formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) que resolveu estudar o "funk". Thiagson é autor de uma tese de doutorado sobre o gênero para a Universidade de São Paulo (USP) e já começa com um erro: o de dizer que o "funk" é o ritmo menos aceito pelos meios acadêmicos. Relaxe, rapaz: a USP, nos anos 1990, mostrou que se formou uma intelectualidade bem "bacaninha", que é a que mais defende o "funk", vide a campanha "contra o preconceito" que eu escrevi no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... . O meu livro, paciência, foi desenvolvido combinando pesquisa e senso crítico que se tornam raros nas teses de pós-graduação que, em s...

BOLSONARISTAS CAUSAM PÂNICO COM MENTIRAS SOBRE PIX

Os últimos dias foram marcados, na Economia brasileira, por um escândalo provocado por uma onda de mentiras transmitidas por bolsonaristas, a partir de um vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). Assim que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que pretende aumentar a fiscalização para movimentações financeiras, as mentiras se voltaram para a hipotética taxação do Pix. Trata-se de uma interpretação leviana do que a equipe econômica cogitava fazer, que seria o aumento da fiscalização sobre transferências em valores superiores a R$ 5 mil através do Pix de pessoas físicas e acima de R$ 15 mil de pessoas jurídicas (empresas). A interpretação supunha que o Governo Federal iria aumentar os impostos de pessoas físicas que utilizassem pagamentos através do Pix, sistema de pagamento criado pelo Banco Central. Várias pessoas ligadas a grupos bolsonaristas espalharam a mentira e estarão sob investigação pela Polícia Federal, a pedido da Advocacia-Geral da União. A medida causou pânic...

NÃO SE ACHA UM WALTER SALLES EM QUALQUER BOATE DESCOLADA OU BAR DA ESQUINA

Costumo dizer que exceção é como um micro-ônibus no qual as muitos querem que tenha a lotação de um trem-bala. Todos querem ser exceção à regra. A regra quer ser exceção de si mesma. E num Brasil afundado de muito pretensiosismo e falsidade, todos querem ser reconhecidos pelo que realmente eles não são. Na burguesia e, principalmente, na elite financeira, temos uma brilhante exceção que é o cineasta Walter Salles, de uma obra humanista e progressista. Por uma questão de vínculo familiar, Walter é membro de uma família de banqueiros, acompanhou o auge da carreira do pai, Walther Moreira Salles - do qual herdou o nome, acrescido da palavra "Júnior" - , e é uma das pessoas mais ricas do país. Mas Walter Salles é uma grande exceção à regra, e o seu cinema tem uma proposta de lançar questões que ele mesmo tem em mente, indo do documentário sobre Chico Buarque ao recente drama sobre Rubens Paiva, Eu Ainda Estou Aqui , passando por temas como a geração beat  e a juventude de Che Gue...

O PAPEL DEVASTADOR DA FOLHA DE SÃO PAULO NA CULTURA BRASILEIRA

O papel da Folha de São Paulo na degradação cultural do Brasil pode não ter sido tão explícito quanto a Rede Globo ou o SBT, mas todos, durante a ditadura militar, tiveram uma participação decisiva na conduta cultural dos brasileiros, visando atingir os objetivos estratégicos da plutocracia que a simples repressão violenta não poderia alcançar. Muito pelo contrário, a violência física e logística - como a censura - da ditadura militar, se levada às últimas consequências, poderia trazer os efeitos contrários. A morte de Vladimir Herzog foi um exemplo, a de Zuzu Angel também. E já havia denúncias de crimes contra os direitos humanos que a então autoproclamada "revolução democrática" havia cometido, e isso poderia botar tudo a perder. Daí que, vendo que boa parte dessas denúncias vinha de setores progressistas da Igreja Católica, identificados com a Teologia da Libertação, a ditadura, sob a desculpa da "diversidade religiosa", teria financiado o crescimento de outros m...

PRÉ-CANDIDATURA DE GUSTTAVO LIMA À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA REVELA ESTRATEGISMO PERIGOSO DA EXTREMA-DIREITA

RONALDO CAIADO APADRINHA A POSSIBILIDADE DO BREGANEJO GUSTTAVO LIMA SER CANDIDATO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. O anúncio do cantor breganejo Gusttavo Lima para se candidatar à Presidência da República em 2026 revela uma habilidade estratégica da extrema-direita em diversificar suas opções e pulverizar o jogo eleitoral. Diferente dos lulistas, que apostam na velha opção de Lula, que busca reeleição, numa arriscada iniciativa de investir num idoso para conduzir o futuro do Brasil, os extremo-direitistas buscam renovar e diversificar as opções, buscando atrair o público jovem e as classes populares. O caso de Pablo Marçal, influenciador e empresário, mas representante do brasileiro “indignado”, foi um teste adotado na campanha para a Prefeitura de São Paulo. É uma tendência perigosa, que mostra a habilidade dos extremo-direitistas em jogar pelo improviso. Eles podem ser patéticos no conjunto da obra, mas são muito, muito habilidosos em suas estratégias. O Brasil vive um cenário viciado de ...

A VELHA ORDEM SOCIAL LUTOU PARA SOBREVIVER EM 2024

OS NETOS DA GERAÇÃO GOLPISTA DE 1964 SE ACHAM OS PREDESTINADOS E "DONOS" DO FUTURO DO BRASIL. O nosso país vive uma não declarada pandemia do egoísmo. A "liberdade" desenfreada de quem quer demais na vida, de uma elite que não se sentiu representada por Jair Bolsonaro e que viveu as limitações da Covid-19, mostra o quanto o Brasil preferiu, de 2022 para cá, viver em ilusões, a ponto de haver um novo "isentão", o negacionista factual, que sente fobia de senso crítico e mede a qualidade da informação pelo prestígio de quem diz, pouco importando se o fato é verídico ou não (e, se for, é mera coincidência). Como jornalista, minha missão é juntar as peças dos quebra-cabeças e não me contentar com a realidade fragmentada que confunde contradição com equilíbrio ou versatilidade. Criando uma "linha do tempo" da elite do atraso, vejo que não há contraste entre a "democracia" pedida pelos que defendiam a queda de João Goulart em 1964 e a "de...

AS REAÇÕES PARANOICAS DO BURGUÊS ENRUSTIDO

Na “sociedade do amor” guiada pela “democracia de um homem só” de Lula, a burguesia comanda uma “frente ampla” social que vai do ex-pobre “reMEDIAdo” por loterias e promoções de produtos ao famoso e/ou subcelebridade dotado de muito dinheiro e extravagância. Nessa fauna de “animais consumistas”, essa frente, a elite do bom atraso, é dotada também de muita falsidade, além de um culturalismo vira-lata que os faz gostarem de músicas de gosto duvidoso e a falarem jargões como a intragável e cafona gíria “balada” (© Jovem Pan) e neologismos em portinglês como “doguinho” e “lovezinho”. Mesmo os mais “modestos” membros dessa classe cujos avós suplicaram a queda de João Goulart em 1964 nem que seja pelo preço de uma guerra - conforme revelaram documentos da felizmente nunca realizada Operação Brother Sam, décadas depois - podem ser incluídos nesse banquete simbólico da burguesia, por compartilharem, pelo menos em parte, dos privilégios e interesses da aristocracia bronzeada que temos. A falsid...