Na semana passada, o empresário do grupo Meta (famoso pelas marcas Facebook e Instagram), Mark Zuckerberg, anunciou a desativação do mecanismo de checagem de fatos em suas plataformas, o que causou grande pânico entre aqueles que veem nessa atitude um estímulo para a veiculação de fake news.
Embora Zuckerberg tenha se posicionado como um rival e concorrente de Elon Musk, o dono do Facebook sempre demonstrou ser um empresário conservador, apesar de sua aparência de bom rapaz com trejeitos de estudante universitário. Ainda na semana passada, Zuckerberg manifestou seu machismo sentindo falta de "energia masculina" nas corporações do mundo inteiro.
A checagem de fatos era um procedimento que visava avaliar se as mensagens produzidas na Internet eram verídicas, e se não havia alguma intervenção da Inteligência Artificial na veiculação das mesmas. Era uma maneira de ajudar a combater a veiculação de notícias falsas, que é produzida em quantidades industriais, ameaçando a humanidade em todos os aspectos.
Realmente é preocupante essa atitude de Zuckerberg e sua omissão diante das mentiras que se produzem e se propagam como um câncer nas redes sociais, e devemos nos mobilizar para combater tudo isso, denunciando a atitude do dono da Meta como uma postura nefasta e prejudicial.
Mas, infelizmente, no Brasil, os lulistas andam dando mau exemplo, tentando forçar a associação à ditadura militar e sua simbologia à pessoa de Jair Bolsonaro. Reconhecemos que Bolsonaro é uma figura nociva e também prejudicial, até por ser um defensor de fake news dos mais cínicos e irresponsáveis, mas ele se situa num contexto muito diferente do período ditatorial, por mais que este tenha inspirado e conquistado o coração do "capitão".
Tentando surfar no sucesso de Eu Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, descontextualizando a tragédia do ex-deputado Rubens Paiva, os lulistas prestam um desserviço confundindo as gerações mais recentes que, no calor da emoção, são desviadas de qualquer análise objetiva ao associar a antiga ditadura militar à atuação pessoal de Bolsonaro.
Em primeiro lugar, Bolsonaro, como personagem político, só começou a atuar em 1987. Era época da redemocratização que ocorria, mesmo de maneira torta, com um presidente eleito de forma indireta que faleceu doente e foi substituído pelo vice, e com a Censura Federal agonizante e prestes a ser extinta apenas em 1988. Mesmo assim, a ditadura militar, na sua essência, já era coisa do passado.
Se ele sempre foi um defensor da ditadura militar e era admirador do regime que vigorou entre 1964 e 1985, não quer dizer que sua relação com os anos de chumbo seja direta, a ponto da CUT e do Sindicato dos Bancários mesclar, de forma irresponsável, imagens da repressão militar ao AI-5 com fotos do "capitão".
Jair Bolsonaro não conheceu Rubens Paiva - afinal, o ex-deputado vítima da ditadura "inexistia" na imprensa da época - e estava ocupado com sua vida pessoal no auge da repressão militar. É de uma grande irresponsabilidade querer associar Bolsonaro a coisas fora de seu tempo.
Devemos ser honestos com a História e sua memória. Uma coisa foi o golpe civil-militar de 1964, sua ditadura e suas repressões que duraram até 1985. Outra coisa foi o Oito de Janeiro, evento de 2023 que consistiu numa baderna de bolsonaristas revoltados com a vitória eleitoral de Lula, que causou um quebra-quebra monstruoso.
Ambos os eventos são nocivos, mas cada um à sua parte. Se a ditadura militar inspira os bolsonaristas, isso não os faz serem associados diretamente aos anos de chumbo. Devemos ver a ditadura e o Oito de Janeiro como eventos distintos, embora devemos também reconhecer que são eventos que atentam contra a dignidade da nação e com a verdadeira democracia, essa palavra que anda sendo muito banalizada de maneira leviana e sem serventia para o povo.
Portanto, nada de transformar Jair Bolsonaro na raiz de todos os males da humanidade. Ele é nocivo, sim, e é extremamente perigoso no conjunto da obra, mas devemos também reconhecer que ele é um subproduto do sistema de valores ultraconservadores que, sim, geraram a ditadura militar.
Só que as esquerdas lulistas acolheram muitos valores e personalidades da ditadura militar, porque supostamente faziam pobres sorrirem e por estarem associados a palavras "mágicas" como "mobilidade urbana", "interatividade" e "paz".
Ou seja, para os lulistas que chegaram a endeusar um "médium espírita" que, num programa de TV de grande audiência, pedia para "orarmos pelos militares" porque eles estavam construindo um "reino de amor" - por associação, os beneficiados por esse apelo incluem o coronel Brilhante Ustra - , soa até mesmo leviano reduzir os males da direita ditatorial a Bolsonaro.
Por isso é necessário um tanto de cautela, e separar os fenômenos conforme os contextos. Até existe uma relação entre ditadura militar e Bolsonaro, mas são eventos bastante diferentes. Confundi-los será perigoso até mesmo para nossos jovens, aos quais está reservado o futuro do nosso país. Caso contrário, os lulistas acabam nivelando a gente como Mark Zuckerberg.
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