Para um país que demorou para abolir formalmente a escravidão, defender a escala de trabalho 6x1 e o emprego durante fins de semana e feriados, sobretudo no fim de noite, faz com que nosso patronato, uma burguesia enrustida que finge não ser burguesa, tivesse uma informação fértil para inventar estórias.
Na corretagem, como haviamos citado em outras postagens, tem sempre aquele apelo: "Eu gostaria de estar com minha família, meus filhos, descansando, mas preciso pagar minhas contas e tenho que trabalhar no plantão de domingo e até no feriado, que é quando há mais gente querendo comprar um imóvel, por causa do tempo livre em sua vida".
Certo. E esse discurso todo vale até para dias de tempestade, mesmo quando é um fim de noite de domingo, véspera de uma madrugada, com as ruas vazias e alagadas e muita trovoada. O que mostra o quanto o aparentemente atrativo mercado de corretor de imóveis esconde uma realidade que poderia ser muito bem atribuída a antes de maio de 1888.
Quando um estagiário de corretagem avisa ao seu gerente que pretende folgar nos fins de semana para arrumar a casa ou tirar cinco dias de folga para rever a família, o gerente salta da cadeira e dispara uma ironia: "Ué, você está cheio da grana?". E depois apela dizendo que "não tem gerente de plantão" e força o pobre coitado a ficar à toa no estande de vendas, esperando por um freguês que não vem.
No mercado da corretagem e no de telemarketing, até parece que, quando dá uma coceira nas pessoas, elas decidem comprar imóveis ou planos de Internet. Estes empregos, que esbanjam na precarização profissional e na exploração de mão-de-obra herdados do "pacote de maldades" de Michel Temer, do qual Lula não sinalizou uma ruptura definitiva e corajosa, promovem essa paranoia visando a obsessão pelo lucro.
As livrarias ficam fechadas nos fins de semana e feriados, com exceção daquelas que se situam em shoppings ou no horário matinal do comércio nos sábados. Um livro é mais importante do que um plano de Internet residencial, e um imóvel, que é mais caro, não pode ser comprado com a facilidade com que se compra um pão numa padaria.
Daí que esses empregos não oferecem descanso digno para seus empregados. É uma situação muito triste, pois a sobrecarga horária que essas profissões oferecem dificulta o digno rendimento, pois não se dá um horário digno de descanso nem de folga, tudo para garantir o lucro obsessivo do empresariado que posa de moderno mas parece viver no tempo colonialista de seus tataravós.
E depois muita gente acredita que o Brasil está pronto para ser um país desenvolvido. Vá entender.
Comentários
Postar um comentário