Nunca vi alguém assobiar um diálogo ou narração de spot publicitário.
Infelizmente, os anúncios publicitários de rádio FM têm um quê de autistas.
Quando se anuncia para televisão, o objetivo é vender um produto.
Quando se anuncia para jornal ou revista, o objetivo é vender um produto.
Há também um apelo neste sentido na Internet, não tão explícito.
Agora, quando se anuncia para rádio, parece que o objetivo é outro.
O objetivo é ganhar um prêmio num evento de Publicidade e Propaganda.
Existem campanhas comerciais que já torraram o sacode tão repetitivas.
Um é aquela esquete cômica em que uma voz de um senhor bonachão dialoga com a voz de uma madame.
Outro, é aquele diálogo telefônico de uma moça e um rapaz.
Terceiro, é aquele comercial de clínica médica em que se promete "atendimento personalizado". Agora falam "humanizado".
Ninguém aguenta mais esses comerciais.
Eles passam e você nem tem ideia do produto que estão vendendo, fora os comerciais das clínicas médicas, é claro.
Mas também "atendimento personalizado" ou "humanizado" são coisas que qualquer clínica de quinta categoria promete.
Dessas clínicas que matam pacientes por erro médico ou falta de higiene.
Além disso, jogar comerciais nestes em rádios noticiosas é dar um tiro no pé.
Num turbilhão de notícias, um anúncio de uma clínica se perde diante de tantos fatos noticiados.
A mocinha do "telefonema" publicitário é passada para trás pela repórter que, pelo telefone, narra a situação do trânsito em alguma localidade.
A voz pomposa do bonachão da peça publicitária é abafada pela voz pomposa do comentarista político com ares preciosistas (mas em certos casos de comentários mesquinhos, vide CBN e Jovem Pan).
No mar de notícias o blablablá publicitário morre afogado.
Em muitos casos, cria-se uma peça publicitária pensando no prêmio Publicidade e Propaganda de 25 anos atrás.
Essas peças que só o diretor da Agência de Publicidade acha muito bacana.
Daí que a solução deveria ser priorizar os jingles, canções publicitárias.
Várias delas marcaram história e ajudam, e muito, a chamar a atenção e vender o produto.
É um investimento um tanto amargo.
Se numa peça publicitária de diálogo entre duas pessoas, se empregam dois atores, numa peça musical se empregam vários músicos e um cantor (ou cantor-músico).
Mas o custo-benefício é bem maior, se o jingle não apelar pela fórmula simplória de um sintetizador e cantores com vozes caricatas que mais parecem de desenho animado.
Se fizer um jingle bem arranjado, como se fosse música de verdade e de qualidade, a campanha publicitária pega e o produto tem mais chances de ser vendido.
E terá mais chance de levar um prêmio em Publicidade e Propaganda.
Com bons instrumentais, boas composições e um bom cantor, a campanha publicitária deslancha.
E aí fica uma grande curiosidade.
Na música brega-popularesca que se ouve nas rádios musicais, as canções lembram muito os piores jingles publicitários.
Me lembro do caso de "Mineirinho", do Só Pra Contrariar, que soa jingle de banco paulista.
Ou então das canções de axé-music, que também possuem um ranço forte de jingle ruim.
Muitos sucessos do Chiclete Com Banana são puramente publicitários: "Chiclete... Oba, oba!", "Chiclete! Chiclete! Quero Chiclete, Chiclete!".
Daí inverter a situação e colocar música de qualidade nos jingles de rádio seria uma boa pedida.
E agora que o Rio de Janeiro perdeu uma destacada rádio de MPB, é preciso que a MPB se renove em outras frentes.
Um bom jingle não faria feio nos intervalos do programa do Ricardo Boechat na Band News.
Muito melhor do que aquelas mesmas clínicas que (ai, que sono!) prometem "atendimento personalizado".
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