O fim brusco da MPB FM abalou, no pior sentido, o já desgastado rádio carioca.
No seu lugar entrou uma clone da Band News Fluminense FM, uma rádio que, nos 94,9 mhz, nunca teve grande audiência.
Em 12 anos de existência, a rádio noticiosa sempre viveu em traços de audiência.
Só Ricardo Boechat emplacava no Ibope, mesmo assim com no máximo um terço da audiência que o âncora recebe no Jornal da Band.
A Band News Fluminense só emplacava no DataUmbigo de certos internautas nas redes sociais.
DataUmbigo é quando alguém fala: "a rádio tem boa audiência porque eu sintonizo ela".
Vem um cara dizer isso e meia-dúzia de amigos fazendo apoio em comentários previamente combinados.
Mas nem o DataUmbigo salvou a Super Rádio Tupi, não enche bolso de anunciante e nem evita passaralho (demissão em massa) de emissora de rádio.
Enquanto a turma do DataUmbigo dizia que a Tupi tinha "zerentos mil ouvintes", a emissora ficava tão mal que chegou a ficar sem locutor em alguns horários.
A Band News Fluminense nunca saiu dos índices de audiência comparáveis aos da antiga Fluminense FM nos seus momentos agonizantes.
A dupla sintonia, que "queima" muita emissora de rádio e indica manobras de superfaturamento das emissoras, só deixará a Band News num índice ainda anoréxico de audiência.
A dupla sintonia em rádio, seja "AM+FM" ou "FM+FM", é um truque usado pelos empresários de rádio para garantir superfaturamento.
São rádios que trabalham como uma só e recebem como duas, porque têm registros diferentes. Se a sintonia for tripla ("AM+FM+FM" ou "FM+FM+FM"), a rádio recebe por três.
E tudo geralmente vai para os bolsos dos donos ou dos radialistas mais badalados.
E não garante audiência. Boa parte do desgaste da Tupi foi por causa da armação do "AM+FM".
O desgaste do rádio carioca, aliás, é tão generalizado que está em plena sintonia do desgaste generalizado que vive o Rio de Janeiro.
E isso cria situações surreais, como órfãos da Fluminense FM achando a Rádio Cidade uma "boa rádio rock", mesmo com programas nada roqueiros de namoro e besteirol esportivo.
Tinha que dar errado.
E agora temos a MPB FM fora do ar, sem outro espaço que a substitua.
As rádios de pop adulto, em tese, poderiam reduzir o número de músicas estrangeiras e aumentar o de brasileiras.
Já emissoras como FM O Dia poderiam mudar o perfil, tirando os nomes brega-popularescos aos poucos e colocar emepebistas no lugar.
Mas fica complicado, diante do lobby que o brega-popularesco tem na mídia e no mercado.
A FM O Dia irá tocar as canastrices musicais de Alexandre Pires, Chitãozinho & Xororó, Belo, Daniel e outros, neo-bregas dos anos 90 que viraram fantoches de luxo de arranjadores de MPB.
Esses "emepebistas-biônicos" também não preencherão a lacuna da MPB que aparecia nos 90,3 mhz.
Na boa, é mais fácil um narrador de futebol gravar um bom disco de MPB do que um funqueiro ou um neo-brega dos anos 90.
Mas como o Brasil está em séria crise política, e o Estado do Rio de Janeiro leva isso às últimas consequências, a MPB autêntica tinha que perder espaço no rádio, num contexto destes.
Isso favorece a expansão do brega-popularesco, ritmo que já exerce influência totalitária na juventude brasileira.
A mesma MPB que empolgava os jovens dos anos 1960 é vista como "chata" pela juventude atual, a "geração MBL" (Movimento Brega Legal?).
O fim da MPB também é culpa dos próprios executivos de rádio.
Eles nunca se interessaram em expandir o segmento rádio de MPB autêntica.
E a própria MPB tocada se limitava aos sucessos radiofônicos, subordinado ao império das trilhas sonoras de novelas.
Hoje as pessoas tem que se contentar em ver a MPB como grocery music, pois praticamente rádios de lojas de alimentos se especializam em música brasileira de qualidade.
A MPB anda muito gastronômica, para o bem e para o mal.
E corre o risco de ser escravizada pelo couvert artístico, para alegria dos neo-bregas que podem pegar carona nos covers de MPB.
Será um péssimo precedente para os brega-popularescos parasitarem a MPB sem terem a visceralidade necessária para renovar o já congelado cenário emepebista.
Enquanto isso, o ultracomercialismo de safadões, luans, anittas, luccos e boréis predomina e os barões do agronegócio investem pesado em "sertanejo universitário".
É aquele "agropop" fajuto, com aquele mesmo estilo de dupla com cantor fanho e outro esganiçado.
O "sertanejo universitário" cresceu tanto que se monta uma dupla até em condomínio dos Jardins.
Tem até cantor vindo de Niterói. Sério.
E aí vemos "sertanejos", funqueiros, forrozeiros-bregas e os pedantes sambregas - os cantores e grupos de "pagode romântico" cada vez mais recorrem aos "discos de arranjador" - dominando o mercado.
Com Wesley Safadão mais rico do que muito bossanovista tido como "aristocrático".
O brega-popularesco musical é a trilha sonora da Era Temer.
O fim da MPB FM é uma rendição a mais a esses tempos sombrios.
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