O mundo cabe num escritório? Evidentemente, não.
Observando o comportamento de empresários, executivos e profissionais liberais na hora do lazer, observa-se uma coisa.
Nas suas profissões, eles possuem uma dedicação e uma visão de mundo com admirável amplitude.
Até quando eles são ultraconservadores, parecem ter um firme empenho em suas causas.
Fora do trabalho, onde a vida realmente acontece e vibra, ocorre o contrário.
Observa-se que, em maioria, pessoas assim não possuem a desenvoltura que têm em escritórios ou consultórios.
Numa comparação ligeira, um jovem estagiário tende a superar as suas primeiras gafes quando se acostuma com a rotina de trabalho.
Mas, muitas vezes, um empresário tem muito mais dificuldade de superar suas gafes na hora do lazer, pouco se acostumando a essas situações.
Existem exceções, é claro.
Todavia, o que se vê é uma pouca intimidade dos engravatados com o lazer.
Embora não se compare o trabalho nestas esferas com o trabalho braçal, a dedicação toma tempo e a vida em salas vira um quase isolamento.
Isso sem falar das regras de etiqueta que, de tão rijas, "robotizam" as pessoas.
Essa rotina faz com que muitos profissionais se atrapalhem no lazer.
Sem intimidade para o entretenimento, se isolam em festas, até mesmo infantis, falando de políticas e amenidades.
São suas últimas brincadeiras infantis.
Falam de política como se estivessem na ONU ou em algum fórum administrativo.
Falam de artes e cultura como se fossem analistas culturais, ou de assuntos da cidade como se fossem membros do Legislativo municipal.
Ultimamente já estão mais descontraídos, mas pouco tempo atrás os quarentões, cinquentões e sessentões que mergulham no mundo dos ternos e gravatas era bem mais sisudo e mais pedante do que pedante ainda é.
E esse mundo de formalidades, acumulação de dinheiro e racionalidade profissional pode dar um preço amargo.
Pode fazer com que os engravatados percam até 10 anos de vivência social.
Em qualidade, talvez percam ainda mais.
Engravatados de 48 anos, caminhando para os 50 como se ainda tivessem que viver o estilo de vida dos 30 anos.
Algo que talvez o seriado Friends pudesse ajudar.
E os de 50, 60, também precisando reoxigenar o lazer.
Até pouco tempo atrás, chegava-se aos 50 anos com muita gula, querendo ter a bagagem mental de 70 anos.
Calminha.
Entender longamente o passado é coisa de especialistas e vocação vinda da juventude.
Não é boa ideia qualquer um que nasceu nos anos 1950 querer ser "bamba" em anos 1940. Ou nascer entre 1965 e 1970 e fingir que havia sido um marmanjão na plateia de Woodstock 1969.
Um escritório é apenas uma forma adulta do quartinho de adolescente.
Parece ser o mundo, mas é apenas um "mundo imaginário" de seu detentor.
Infelizmente, o cacoete do nosso Brasil é acreditar que o mundo pode ser enfiado em quatro paredes.
Seja redação de jornal, estúdio de rádio, escritório empresarial.
Nada disso. Tais ambientes são apenas microscópicas partes de um grande mundo.
Para conhecer o mundo, só fora deles e vendo o ar em volta.
Talvez nem precisando entendê-lo demais na meia-idade, mas curtindo e gostando dele.
A melhor vivência está no arejamento da alma e não na erudição forçada.
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