A MPB autêntica, aquela que não depende de lotação de plateias para ter prestígio, anda perdendo muitos espaços.
Recentemente, um de seus principais espaços de divulgação, a MPB FM, saiu do ar, para dar lugar a um outro espectro da Band News FM.
Num contexto complicado em que o grande público depende de rádio e de trilha de novela da Globo para ouvir música brasileira de qualidade, isso foi um baque.
E num cenário em que a MPB acaba virando refém de suas homenagens intermináveis, como se celebrasse algo que já é passado, isso piora cada vez mais a situação.
E o que vamos ter, afinal?
Mais um emepebista manifestou sua complacência com o brega-popularesco.
O grande compositor Renato Teixeira, um dos poucos da música caipira autêntica e havia até criticado o "sertanejo universitário", deu mais uma demonstração.
Disse que o "sertanejo universitário" ainda mostrará "artistas com a mesma força dos que surgiram no auge da MPB".
Talvez seja boa-fé ou algum elogio de quem quer entrar no esquema fechado das apresentações em eventos musicais do interior.
Afinal, esse papo de "combate ao preconceito" endossado pela MPB é apenas um recurso para os emepebistas serem aceitos num mercado em que os brega-popularescos são donos do esquema.
Se você vê um dueto de Zezé di Camargo & Luciano e Nando Reis, você pensa que é a dupla goiana que está pedindo espaço provavelmente "no primeiro time da MPB".
Grande engano. Quem pede espaço é Nando Reis. Zezé di Camargo & Luciano já têm espaços demais de divulgação, Nando é que precisa tocar nos eventos dominados pelos popularescos.
E aí temos também a manobra do profissionalismo.
Uma MPB bonitinha, Música Profissional Brasileira ou, talvez, Música Profissional Bonitinha.
Depois dos "discos de produtor" que marcaram a MPB dos anos 1980, já temos os "discos de arranjador" que envolvem ídolos brega-popularescos do "pagode" e "sertanejo".
A geração 90 dos "pagodeiros" e "sertanejos" neo-bregas agora soa "mais MPB"?
Agradeça aos arranjadores. Eles é que fazem tudo, até recompõem as canções dos intérpretes.
Os cantores só têm que botar voz. E, quando tocam algum instrumento, já recebem o arranjo pronto para tocarem, tem até músico experiente de estúdio mostrando as notas da partitura.
E tudo fica profissional. A roupa exata, os arranjos exatos, o cantor tem até os gestos exatos para cada climax na música cantada.
A combinação correta da bateria, do contrabaixo, a iluminação certa no palco, os CDs com capa estilosa, a boa mixagem, as resenhas elogiosas do CD ou DVD.
Todo um faz-de-conta, como se bastasse a música ser agradável e digestiva.
Afinal, vai ser a música da reunião da família no domingo, do aniversário de um "bacana" na noite de sábado etc.
O "pagodeiro" ou "sertanejo" que cantavam breguices na Era Collor precisam acertar no tom, até porque já recebem tudo de bandeja: o repertório já foi todo arranjado previamente.
Isso pode "ser MPB" para o crítico musical que promove o "equilíbrio" entre o jabaculê e a musicologia, tipo um Mauro Ferreira.
Mas não tem a espontaneidade e a força artística dos verdadeiros emepebistas.
Tudo será profissionalmente correto, parecerá bonito, agradável, digerível.
Mas não tem aquela sinceridade, aquela naturalidade que se espera de um artista.
O que se vê são cantores e músicos amestrados e adestrados, fingindo que são "gênios da MPB" às custas do trabalho de arranjadores a serviço deles.
Pode dar certo nos jantares e almoços dos novos ricos, com suas reuniões de família, seus aniversários etc.
Mas nada acrescenta à MPB que perde até seus próprios espaços para os brega-popularescos.
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