O assunto parece coisa relativamente velha, mas teve que vir à tona.
Estou lendo o livro Metendo o Pé na Lama - Os Bastidores do Rock In Rio de 1985, de Cid Castro, publicitário que trabalhou na Artplan.
A certa altura do livro, Cid descreve sobre um "redator baiano" que havia passado pela Artplan, a empresa da família Medina.
Só um parêntesis. Nessa época ainda atuava o empresário Abraham Medina, ou Abraão Medina, famoso, nos anos 1950-1960, pela rede de lojas O Rei da Voz.
O "redator baiano" em questão era Nizan Guanaes.
Ele sugeriu, na Artplan, que os funcionários da empresa, que então entravam pela porta dos fundos, entrassem pela porta da frente.
Era considerado um dos mais criativos da agência que se tornou notável pela organização de um dos maiores festivais de música do Brasil, com franquias em outras partes do mundo.
Observando os esboços que Cid Castro fazia para o logotipo do Rock In Rio, Nizan havia dado um conselho.
"Tudo o que é verdadeiramente bom em propaganda tem um grande conceito por trás", foi o que Nizan disse.
Ele, como publicitário, sabe muito bem que um produto deve ser feito para agradar e atrair o público.
O produto tem que ser bom, e a campanha tem que se empenhar para atrair a maior demanda possível de consumidores.
Ninguém vende um produto ruim e ele também não se sobressai se o público o rejeita.
Mas aí houve a reunião do Conselhão, o grupo de cidadãos de elite que traz sugestões para o governo Temer, e Nizan rasgou as lições que aprendeu e até ensinou.
Disse que Temer tem que aproveitar impopularidade para adotar medidas impopulares.
"Popularidade é uma jaula. O senhor tem que puxar isso para o senhor e falar à nação", afirmou Guanaes.
E mais: "Então aproveite que o senhor ainda não tem altos índices de popularidade e faça coisas impopulares que serão necessárias e que vão desenhar esse governo para os próprios anos".
Nizan ainda teve coragem de dizer: "Esse é o grande desafio das democracias do mundo".
O publicitário ainda se esqueceu de que as leis de Getúlio Vargas beneficiaram os trabalhadores em muitos e muitos aspectos.
"O empresariado não pode competir com o mundo com leis da época de Getúlio Vargas", disse.
Como se estimular a competitividade empresarial passasse por cima de reformas que, na verdade, retrocedem o padrão de mercado de trabalho e aposentadoria para antes de 1930.
"Ninguém faz coisas contundentes com alta popularidade", "Tome medidas amargas", "O senhor deve puxar para si a responsabilidade da comunicação", foram outras frases de Nizan.
Foi uma posição anti-publicitária, porque simplesmente menospreza a vontade e o interesse do público.
Portanto, foi essa a análise que me veio à tona quando lia uma página do livro de Cid Castro.
Simplesmente, Nizan Guanaes deu um tiro no pé. Manchou sua carreira com seus comentários no Conselhão.
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