A intelectualidade "bacana", a "mais legal do Brasil", que em parte contribuiu para a ascensão ao poder do governo Michel Temer, resolveu uma nova estratégia.
Festejando o desmonte da Música Popular Brasileira e seu enfraquecimento no Rio de Janeiro com o fim da MPB FM, a intelligentzia transbrasileira resolveu ser "boazinha".
Agora ela faz retrospectiva dos emepebistas que circulam fora do perímetro bossanovista-buarqueano.
Resolvem agora exaltar nomes como Bezerra da Silva e Clementina de Jesus, além de outros sambistas de valor, mas menos pela música que eles fizeram e mais pela atitude que simbolizam.
Primeiro porque esses intelectuais precisam estar em boa conta com as esquerdas, ainda que repercutissem mal com o ciúme que sentem por Chico Buarque.
Segundo, porque querem passar uma aparente brasilidade, dando a impressão de que existem mil possibilidades no hoje totalitário comercialismo musical brasileiro.
A ideia não é estimular os jovens dos morros a serem novos Bezerra da Silva, Clementina de Jesus, Donga, Jackson do Pandeiro, Zé Dantas etc.
A ideia é apenas fornecer alguns clichês e até matéria-prima para aventuras pedantes dos ídolos brega-popularescos ou para algum vínculo ideológico com os "provocativos" de plantão.
Mas há um cheiro tendencioso nisso. Bezerra da Silva, por exemplo, falava de assuntos como a violência nos morros, mas com aquele senso de humor caraterístico dele.
Seria uma forma de "traduzir" a mensagem de Bezerra da Silva para um contexto mais próximo do gangsta rap?
Seria um meio de abastecer funqueiros e "provocadores" com uma temática mais "realista" das periferias?
A esperança é o quê? Que venha um novo rapper-funqueiro-provocador vier com um discurso "revolucionário" que, anos depois, será servido até para a plateia do Caldeirão do Huck?
No caso de Clementina de Jesus, ela será traduzida para um contexto de uma já banalizada cena de "garotas provocativas" que já deturparam, nos EUA, as lições das riot grrrrls?
Fica um cheiro de Nova York nesse aparente resgate das raízes brasileiras.
E isso quando o comercialismo na música brasileira se torna voraz, totalitário, ocupando espaços que antes eram da MPB.
São tempos em que a canastrice de "pagodeiros" e "sertanejos" dos anos 1990 agora está a serviço da vampirização da mesma MPB que queriam destruir.
Eles agora pensam que são os "donos da MPB".
Só porque tiveram curso trainée e agora adotam uma estrutura de luxo.
Mas quando gravam repertório, os arranjadores já deixam tudo pronto: arranjos, instrumentais, até recomposição das músicas dos neo-bregas, que mais parecem rascunhos de canções.
Seria muito bom se houvesse mesmo a continuidade da linha evolutiva na MPB.
Não essa linha involutiva de ídolos lotadores de plateias que dominam toda a grande mídia.
E aí pensamos: o que servirá o legado de antigos sambistas, violeiros, sanfoneiros etc?
Será para "estadunizá-los" dentro de formas mercantilizadas de provocação e subversão comportamental?
Ou servirão para alimentar o pedantismo de neo-bregas quando lhes faltarem músicas para preencher a quantidade de canções para um novo CD?
Creio que não seja solução "gangstizar" Bezerra da Silva como se fosse um 2-Pac Shakur.
Ou "riotizar" Clementina de Jesus como se fosse uma rapper raivosa do Bronx.
Diante da ameaça que temos de ver nossos próprios territórios adquiridos por empresas estrangeiras, como se não bastassem elas levarem nossas riquezas, teremos uma "revalorização" americanizada do antigo patrimônio cultural brasileiro?
Enquanto isso, a última do sambrega é parodiar o primeiro dos sambas gravados em disco, transformando "Pelo Telefone" em "Pelo Zap-Zap".
Os sociopatas das mídias sociais piram.
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