Pular para o conteúdo principal

A PRIMEIRA GRANDE GAFE DE LULA

LULA, AINDA NO SEGUNDO MANDATO, CUMPRIMENTANDO O PRESIDENTE RUSSO VLADIMIR PUTIN; E VOLODYMIR ZELENSKY CONVERSANDO COM LULA POR VIDEOCONFERÊNCIA.

Seis meses se passaram e o governo Lula fez poucas realizações. Acertos houve, sim, mas longe de render aplausos em pé e louvações entusiasmadas. Se os primeiros governos Lula, ao virarem passado, renderam críticas até mesmo das esquerdas, não será o terceiro e atual governo que irá se livrar das mesmas.

Os salários aumentaram de maneira medíocre. Comparemos o aumento de R$ 1.320 com alguns auxílios para o povo pobre, com o que Lula pagou só para a Câmara dos Deputados aprovar suas medidas. Enquanto deputados reembolsaram, só destes investimentos, feitos em etapas para aprovar votação de emendas, quase R$ 58,5 milhões, o povo pobre não consegue alcançar R$ 3 mil reais por pessoa com o salário-mínimo e o Bolsa Família, pois o total vai para R$ 2.205,50. Com outros auxílios, a grana somada só serve para pagar as contas referentes, como auxílio-gás.

Eu andei, na semana passada, pelo entorno do Terminal Dom Pedro II e na Avenida Rangel Pestana, no Centro de São Paulo, e vi ainda muitos moradores de rua. Observando os noticiários, vejo que as favelas continuam na sua situação dramática de sempre e um trágico incêndio ocorreu em Guarujá, destruindo várias casas. Não deixou feridos, mas já é tragédia por conta da perda de bens, do pouco que os pobres conseguem adquirir com dificuldade.

Pobreza não pode ser considerada "identidade". Pobreza é problema social. É vergonhoso ver que os intelectuais mais festejados no seu meio, por conta da campanha do "combate ao preconceito" - um engodo tão hipócrita quanto o bolsolavajatismo - , que teve o descaramento de vender a miséria do povo pobre como se fosse uma "etnia" e até um "modelo de vida". E tudo isso vindo de antropólogos, cineastas, jornalistas culturais etc, com pose de vitimismo mas cheio de prestígios nas colunas sociais, nos meios acadêmicos e santificados até nas buscas do Google, Bing e outras plataformas.

Tivemos a reforma tributária, uma coisa morna que, como previ, não se arriscou a fazer o que eu temia que não se fizesse: cobrar impostos dos mais ricos. Quanta tinta Renato Aroeira consumiu com sua Niara teorizando sobre "cobrar taxas para super-ricos", acreditando que o presidente Lula pudesse cobrar impostos dos magnatas para movimentar a nossa economia.

Me despindo de paixonites esquerdistas e de devaneios opinativos, pude criticar o governo Lula sem cair na cartilha bolsolavajatista do antipetismo. Pude ver o quanto Lula deixou de fazer e o quanto ele errou, desde a campanha presidencial até agora. E Lula colhe os frutos dos seus erros, como os conflitos com a frente ampla e uma grande gafe internacional.

Afinal, no primeiro mês de governo, em vez de Lula ficar quieto e trabalhar para socorrer os brasileiros, ele preferiu viajar para o exterior. Querendo bancar o "maior pacifista do mundo", Lula se intrometeu no conflito entre Rússia e Ucrânia, como se fosse alguém metendo o nariz onde não foi chamado. E Lula foi, realmente, esse alguém.

Lula queria parecer "grandioso" com a conversa de paz e, propondo um "clube da paz" composto de países neutros no conflito e comandados pelo Brasil através do presidente da República, este criou polêmicas desnecessárias com os EUA, que acusou o petista de compactuar com o governo de Vladimir Putin, da Rússia. Lula também teve que engolir um comentário irônico do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que jocosamente definiu a proposta de Lula como "original demais".

Lula ainda desqualificou a Organização das Nações Unidas (ONU), na sua tarefa de promover acordo de paz entre os dois países beligerantes. O presidente brasileiro queria uma organização paralela, um grupo pelo qual o petista pudesse se projetar como "o maior líder pacifista do planeta", ganhando destaque no noticiário internacional e, quem sabe, podendo ser indicado para o Nobel da Paz.

Lula rompeu com sua maior promessa de campanha, a de combater a fome e a miséria, não bastasse a grandiloquência de sua constrangedora campanha presidencial, que o petista pretendia ser "uma campanha gigantesca de redemocratização do Brasil", a ponto de desqualificar a competitividade eleitoral em prol de uma inconcebível "democracia de um candidato só", ou seja, a "democracia de cabresto" (aquele papo de "ou Lula ou nada").

O presidente brasileiro trocou a campanha contra a fome e a miséria pelas viagens ao exterior, sob a desculpa de "recolocar o Brasil no mapa do mundo", uma atitude bastante precipitada e que mostra a confusão de Lula entre admitir, da boca para fora, que a situação do Brasil está pior do que há vinte anos, e em contrapartida tratar o nosso país como se os problemas já estivessem resolvidos. Uma "reconstrução" que mal começaria e já era tratada como se estivesse "concluída".

Lá fora, Lula foi tratado como ingênuo pelas autoridades estrangeiras e visto com certa desconfiança pelo governo de Washington. Lula achou que as reuniões com autoridades estrangeiras fossem como no banheiro de fábrica em São Bernardo do Campo, onde o petista pudesse falar o que quisesse. Na reunião do G7, Lula foi só um convidado observador e, no entanto, ele quis roubar o protagonismo falando como se fosse numa reunião entre sindicalistas e empresários.

Lula teve que desistir da ideia de ser o intermediário do acordo de paz entre Rússia e Ucrânia e essa busca de pretensa grandeza para o presidente brasileiro foi mal. Lula queimou munição querendo aparecer para o mundo, na sua excursão feita em etapas fora do Brasil. Se exibindo demais na Europa e nos EUA, o presidente brasileiro acabou se desgastando e, hoje, ele prefere ser não mais o líder mundial de seus sonhos, mas um líder da América Latina, se contentando em presidir o Mercosul.

Foram momentos constrangedores e desnecessários. Na ocasião em que ocorreram, não se podia criticar as atitudes de Lula. Era cancelamento na certa. Cara feia de leitores que só aceitam a "democracia do sim", da conformidade, do conformismo, da subordinação e da obediência. Uma "democracia" de braços cruzados, nunca uma democracia do questionamento, da dúvida, da contestação ou mesmo da indignação.

Para todo efeito, esses lulistas acham que Lula "reconstrói o Brasil" até tomando banho de mar na Bahia. Tudo tem que ser festa, uma "democracia" feita mais para pular o Carnaval do que para analisar os problemas do nosso país. Daí que as pessoas que apoiam Lula deixam a máscara cair, pois são pessoas bem de vida, com seus carrões a lhes transportar em passeios de qualquer lugar, suas contas bancárias com valores altos para poderem gastar em viagens para Bariloche, Orlando, Paris e Barcelona.

Diante de relatos exagerados que definem os primeiros meses de Lula como "60 anos em seis meses", quando se viu pouca coisa de relevante em seu governo - que apenas "arrumou o país", mas é bem mais medíocre do que os dois mandatos anteriores - , nota-se que o sonho do Brasil virar potência de Primeiro Mundo é uma ilusão igual ao da "nova classe média" do governo Dilma Rousseff. Com um Brasil precarizado, sobretudo social e culturalmente, ainda teremos muito que fazer só para sermos um país emergente um pouco mais razoável.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

ESQUERDAS CORTEJANDO UMA CANTORA IDENTITARISTA... MAS CAPITALISTA

CARTAZ DA BOITEMPO JUNTANDO KARL MARX E MADONNA NO MESMO BALAIO. O Brasil está tendo uma aula gratuita do que é peleguismo, com Lula fazendo duplo jogo político enganando o povo pobre e se aliando com os ricos, e do que é pequena burguesia, com uma elite de classe média abastada que aoosta num esquerdismo infantilizado, identitarista e indiferente aos verdadeiros problemas das classes trabalhadoras. As esquerdas mainstream do Brasil, as esquerdas médias, são a tradução local da pequena burguesia falada pela teoria marxista. Uma esquerda que quer soar pop e que, através dos “brinquedos culturais” que fazem do Brasil a versão vida real da novela das 21 horas da Rede Globo, quer o mundo da direita moderada convertido num pretenso patrimônio esquerdista. Isso faz as esquerdas soarem patéticas em muitos momentos. Como se observa tanto na complacência do jornalista Julinho Bittencourt, da Revista Fórum, com o fato da apresentação de Madonna em Copacabana, no Rio de Janeiro, não ter músicos e

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

O PESADELO GAÚCHO QUE DESAFIA O "SONHO BRASILEIRO"

O CENTRO DE PORTO ALEGRE COM ÁGUA QUE ATINGIU CINCO METROS DE ALAGAMENTO. Não há como sonhar grande. O risco de cair da cama é total. A terrível tragédia do temporal no Rio Grande do Sul é algo que nos faz parar para pensar. Isso é normal para um país próspero? Falta alguma consciência ambiental no nosso país? Até o fechamento deste texto, 56 pessoas morreram e vários estão entre feridos, desabrigados e desaparecidos. Porto Alegre, Caxias do Sul e Gramado estão entre as inúmeras cidades atingidas por chuvas intensas, vendavais, trovoadas e transborda de rios, entre eles o Guaíba. E nós manifestamos pesar sobre essa traumatizante ocorrência e solidariedade às vítimas. A situação é muito triste, mas não deixa de ser lamentável o oportunismo das subcelebridades, aspirantes a super-ricos, de oferecer doações milionárias para as vítimas das enchentes. Uma sociedade que, em condições naturais, quer demais para si e, egoísta, não quer abrir mão do supérfluo para ajudar o próximo a ter o neces

BRASIL NO APOGEU DO EGOÍSMO HUMANO

A "SOCIEDADE DO AMOR" E SEU APETITE VORAZ DE CONSUMIR O DINHEIRO EM EXCESSO QUE TEM. Nunca o egoísmo esteve tão em moda no Brasil. Pessoas com mão-de-vaca consumindo que nem loucos mas se recusando a ajudar o próximo. Poucos ajudam os miseráveis, poucos dão dinheiro para quem precisa. Muitos, porém, dizem não ter dinheiro para ajudar o próximo, e declaram isso com falsa gentileza, mal escondendo sua irritação. Mas são essas mesmas pessoas que têm muito dinheiro para comprar cigarros e cervejas, esses dois venenos cancerígenos que a "boa" sociedade consome em dimensões bíblicas, achando que vão viver até os 100 anos com essa verdadeira dieta do mal à base de muita nicotina e muito álcool. A dita "sociedade do amor", sem medo e sem amor, que é a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, está consumindo feito animais vorazes o que seus instintos veem como algo prazeroso. Pessoas transformadas em bichos, dominadas apenas por seus instin

FLUMINENSE FM E O RADIALISMO ROCK QUE QUASE NÃO EXISTE MAIS

É vergonhoso ver como a cultura rock e seu mercado radiofônico se reduziram hoje em dia, num verdadeiro lixo que só serve para alimentar fortunas do empresariado do entretenimento, de promotoras de eventos, de anunciantes, da mídia associada, às custas de produtos caros que vendem para jovens desavisados em eventos musicais.  São os novos super-ricos a arrancar cada vez mais o dinheiro, o couro e até os rins de quem consome música em geral, e o rock, hoje reduzido a um teatro de marionetes e um picadeiro da Faria Lima, se tornou uma grande piada, mergulhada na mesmice do hit-parade . Ninguém mais garimpa grandes canções, conformada com os mesmos sucessos de sempre, esperando que Stranger Things e Velozes e Furiosos façam alguma canção obscura se popularizar. Nos anos 1980, houve uma rádio muito brilhante, que até hoje não deixou sucessora à altura, seja pelos critérios de programação, pelo leque amplo de músicas tocadas e pela linguagem própria de seus locutores, seja pelo alcance do s