BOB FIELDS III.
Querendo fazer tudo ao mesmo tempo agora, Lula, que concorreu à campanha presidencial sem ter um programa de governo em suas mãos, começou seu atual mandato sem agir para reconstruir o Brasil. A reconstrução propriamente dita só começou em maio e, mesmo assim, arrastando, pois o presidente comete o erro crasso de querer ser líder mundial, atitude que empolga os lulistas, mas não traz resultados concretos e diretos para o povo brasileiro.
Lula já acumula erros desnecessários e vergonhosos em seu governo. Sua aventura internacional fez ele cometer gafes, seja em atitudes, como seu projeto de paz entre Rússia e Ucrânia visto como ingênuo pelas autoridades internacionais, seu pretensiosismo em ser protagonista na reunião do G7, no Japão, sua obsessão em criar uma instituição paralela à ONU, em ajudar os outros países quando o Brasil é que mais pede socorro, e tropeçar nos discursos, como recentemente, ao agradecer aos "350 anos de escravidão" pelos benefícios produzidos no Brasil pelos africanos e seus descendentes brasileiros.
Cabe aqui, aliás, abrir tristes parênteses para um relatório em que mostra que, diferente de anos atrás, quando a violência em Salvador parecia uma estatística exagerada, o período bolsonarista acionou o crime organizado para dizimar negros pobres que nem número eram nas estatísticas da capital baiana. A redução da população soteropolitana, que fez a capital baiana cair do terceiro para quarto lugar em capitais mais populosas, e a subida de posição como segunda capital estadual mais violenta do Brasil, revela o quanto a mentalidade da Casa Grande continua prevalecendo no nosso país até hoje.
Voltando ao governo Lula, sua obsessão em ser líder mundial , a pretexto de colocar o Brasil no "mapa mundial", mesmo estando nosso país sucateado social e culturalmente, fez com que o desemprego no Brasil piorasse nos três últimos meses e só desse uma aliviada pouco depois. Mesmo assim, não há uma mudança no sistema de valores e parece que nossos empregadores não sabem contratar gente com talento, indo pela aparência do candidato e até pela sua qualidade de piadista que, pelo jeito, pesa mais do que desempenhar um bom trabalho.
Depois essas empresas entram em crise, passam por momentos difíceis e não vão poder contar com o profissional humorista, porque a especialidade dele é "brincar com os colegas", pois ele não tem estratégia de ação para recuperar ou manter a empresa em ordem e a direção vai ter que recorrer a uma consultoria empresarial e daí buscar um advogado administrador para recuperar as finanças.
A coisa está difícil, enquanto Lula se pavoneia mundo afora e arrisca os limites de sua saúde precária para viajar e se sobrecarregar em compromissos pesados e sujeitos a muita tensão. E de tanto se limitar em apenas opinar contra os juros altos, o presidente brasileiro deixou fortalecer o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, confiante na sua ganância e arrogância de economista neto do icônico ex-ministro da ditadura militar com o mesmo nome.
Em entrevista à firma estadunidense BlackRock, ligada à gestão de fundos trilionários, Campos Neto afirmou que "está aberto" para terceirizar a gestão de ativos da União. Para quem não sabe, vamos mostrar um pouco de Economia e Administração. Ativos são os bens e direitos que uma empresa ou instituição possuem que têm valor financeiro. Eles se contrapõem aos passivos, que são obrigações e dívidas, na hipótese destas haverem na empresa ou instituição.
O que isso significa? Significa que Campos Neto quer contratar empresas privadas para administrar os ativos da União, uma reserva que está em torno de US$ 380 bilhões (atualmente, R$ 1,824 trilhão). Quer submeter a poupança da União ao mercado, como se privatizasse o dinheiro guardado para situações emergenciais.
Aliados de Lula se revoltaram e o casal Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias fizeram duras críticas ao presidente do Banco Central. Tudo bem. Mas o próprio Lula deixou Roberto Campos Neto crescer, em vez de ficar no Brasil para cuidar somente dos brasileiros. O protagonismo internacional se poderia deixar para depois. A prioridade deveria ser Lula passar um ano só cuidando do Brasil.
Se Lula tivesse evitado tanta aventura e desventura no exterior, poderia ter tido mais tempo para enfraquecer politicamente Roberto Campos Neto e, já em março, teríamos juros bem mais baixos e a Economia reaquecida de maneira melhor do que a de hoje. As quedas dos preços seriam bem mais significativas e o Brasil não só respiraria como retomaria fôlego e robustez para o crescimento.
Noto, infelizmente, que muita gente fica indiferente às críticas a Lula. Parecem crianças mimadas que se empolgam quando veem Lula no exterior, aparecendo na imprensa estrangeira, ainda que seja por jogos de cena, criticando o presidente chileno Gabriel Boric quando o próprio Lula é que mereceria umas duras críticas.
O que esse pessoal quer? Espetáculo de entretenimento? Ver Lula brincando de ser orador e produzindo fatos políticos para divertir a criançada lulista? Enquanto os lulistas não aceitam críticas, mesmo as mais realistas, prejuízos ocorrem, porque no primeiro momento Lula está sempre com a razão, mas depois os resultados negativos surgem ou, quando há benefícios, eles são muito aquém do esperado.
O pessoal tem que ser realista e aceitar que se critique seu ídolo. Não estamos sendo binários nem algorítmicos. As críticas aqui fogem dos clichês do bolsonarismo, do tucanato e do lavajatismo, pois aqui não se critica Lula por um hipotético "radicalismo de esquerda" que, na verdade, não existe mais. Hoje Lula está tão moderado, bem mais do que nos dois mandatos anteriores, que seu atual mandato mais parece um mix entre José Sarney e Fernando Henrique Cardoso com algum lance mais assistencialista.
Se as pessoas esperarem fantasia, diversão e ilusão e só desejarem ler textos agradáveis sobre Lula, a decepção que evitam ter com estes textos se mostrará nos próximos instantes da realidade dura do nosso país. Por sonharem demais, vão despencar da "nuvem nove", cair no chão e gemer de dor. Aceitem as críticas ao governo Lula, porque dói menos.
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