No mercado de trabalho, em funções como Analista de Mídias Sociais, verdadeiras aberrações ocorrem. Além de exigir tantos novos aplicativos, ferramentas que nem se ouviu falar que surgem com tanta frequência que o Avast Anti-Vírus um dia vai começar a verificar, temos o caso dos humoristas que abocanham, através de um bom papo, um trabalho jornalístico do qual não têm a menor necessidade.
No Brasil, infelizmente, funciona assim: o destino dá asas a quem não sabe nem quer voar. E num tempo de positividade tóxica, nada como o mercado de trabalho priorizar comediantes do que gente talentosa. Ainda há muito etarismo, muita exigência de experiência - quando duas semanas de treinamento poderiam muito bem habilitar quem, em tese, não está preparado para um cargo a que se candidatou - e outras frescuras que fazem com que o empregador dificilmente arrume o profissional adequado.
Foi constrangedor o caso do humorista de 45 anos, membro de um famoso grupo de comédia, enganar o empregador fazendo um longo resumo de uma carreira jornalística com editorias demais. Ou seja, o humorista narrou uma carreira jornalística longa demais da que sua idade sugere. O empregador caiu na pegadinha e contratou o cara, devido à desenvoltura, típica de modernos grupos humorísticos pós-CQC e também presente nos influenciadores digitais da moda.
Depois que o Casseta & Planeta popularizou a fórmula do "jornalismo mentira, humorismo verdade", vieram programas humorísticos que parodiam noticiários, com aqueles repórteres espertos com barbinha sarada e um certo pedantismo que os faz achar que sacam qualquer coisa.
Nas primeiras gerações, até que tivemos bons humoristas-jornalistas, "filhos" da geração Pasquim que combinava boas informações e bom humor. Gente como Millôr Fernandes e Sérgio Porto, este também conhecido pelo pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, são verdadeiros mestres nessa tarefa.
Mas com o tempo surgem gerações que se perdem em qualidade e passam a ter mais pretensão e menos talento, parecendo mais espertos do que engraçados, mas fazendo graça para uma parcela da sociedade que está de acordo com esse culturalismo politicamente correto de hoje. Um contexto no qual aqueles que mais trazem audiência, leitores, admiradores etc são aqueles que procuram produzir sentido em coisa sem sentido, num Brasil de hoje que adora transformar o supérfluo em artigo de primeira necessidade.
Pois nas redes sociais já estão surgindo, em quantidade estranhamente grande, humoristas que também se autoproclamam "jornalistas" e que, portanto, roubam de quem mais precisa um emprego ligado a mídias sociais, uma função de analista que corresponde, hoje, a um mercado rentável de jornalismo, diante de uma realidade em que os veículos de imprensa estão demitindo vários jornalistas experientes para, por ironia, contratar novos profissionais com a vivência superficial dos influenciadores digitais.
Ou seja, de um lado jornalistas novos que não conseguem entender o mundo fora de suas bolhas sociais, e, de outro, humoristas que invadem funções sérias de jornalismo sem necessidade. Afinal, esses humoristas já integram grupos que podem, com facilidade, solicitar ao Ministério da Cultura financiamento para realizar turnês de sucesso e abocanhar uma grana com isso.
O Brasil não ficou justo e igualitário. Os entulhos sociais que temos que remover não se limitam ao caso recente do bolsonarismo. Há um sistema de valores podre e decadente que tenta resistir e se passa por "novo" surfando no apoio tendencioso ao governo Lula. E o clima de positividade tóxica em que vivemos mostra o quanto tem muita "coisa legal" que merece ser posta em xeque. O nosso mercado de trabalho é um deles.
Enquanto o mercado de trabalho ainda resiste no preconceito etarista, rejeitando profissionais talentosos, criativos, com senso crítico (necessário para criar estratégias de superar crises numa empresa) e vigorosos só porque têm mais de 50 anos. Concursos públicos que não aprovam os candidatos certos, porque elaboram questões de prova longas e confusas demais, inserem Raciocínio Lógico e Matemática em funções que não precisam disso, e quando montam gabaritos, sempre há uma margem de erro, como respostas do nível de "golfinho não é mamífero, mas peixe-boi sim".
E aí tem a onda dos humoristas-jornalistas que montam uma pegadinha nas entrevistas de emprego e pegam o trabalho na maior moleza, sem muita necessidade. Isso é mais um item de um Brasil deteriorado que, no momento em que escrevo, vizinhos de forma completamente abusiva fazem festas barulhentas até quatro horas da manhã, dotados de um senso de humanidade ZERO. Se é este o Brasil que quer se tornar potência de Primeiro Mundo, isso é uma ameaça séria à humanidade planetária.
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