A elite do bom atraso sente alergia do senso crítico. O pensamento crítico lhe causa fobia, desmascarando a ilusão de uma elite que, há 60 anos, não suportava um segundo sob João Goulart na presidência do Brasil e, agora, quer reeleger Lula. Desvendar o que a burguesia de chinelos, invisível a olho nu, fez nos verões passados, é considerado um acinte.
Não se pide criticar o governo Lula, que tornou-se um governo do faz-de-conta. Finge-se que é um governo socialista e nossa pequena burguesia, que passeia de SUV mas frequenta os pontos boêmios mais, digamos, "vagabundos", finge ser o proletariado, enquanto sonha com o "pobre de novela" descendo as favelas dos morros dançando como foliões de Carnaval.
Para que discutir com madame, com doutor, com intelectual, se essa gente "bacana", só por ter mais dinheiro - ainda que menos que a "nata" das elites financeiras e juristas - , acha que pode julgar em nome dos pobres, sobretudo quanto ao "salário de fome" de R$ 1.412.
Para essa elite, a elite do bom atraso, Lula faz sempre certo mesmo quando erra. Se "viajou demais", foi para "reconstruir o Brasil", uma reconstrução que ninguém explica se começou, ainda vai começar ou se já está concluída. Paciência, é a elite que, como vaqueiro a cavalo conduzindo o gado bovino, toma as rédeas das narrativas dominantes nas redes sociais. Dane-se a realidade, o que interessa é o que essa burguesia ilustrada pensa, imagina, acredita, julga e deseja.
E aí vemos Lula sonhando demais e falando demais ainda. No evento ocorrido há alguns dias na Universidade de São Paulo (USP), Lula enfatizou a educação de tal forma que usou um termo considerado perigoso para seus opositores: "revolução cultural".
Fora da bolha lulista eu vejo, em todo lugar que percorro, que a popularidade do presidente brasileiro está baixa. E como o governo Lula estabelece aliança com a China para organizar o "Sul Global", os opositores da direita civilizada mas indignada, metidos a sabedores de História, vão logo se lembrando da "revolução cultural" de Mao Tsé Tung, um dos "ditadores comunistas" do imaginário dessa direita ressentida.
Lula decepciona porque prefere fazer propaganda de si mesmo, visando abertamente a promoção pessoal. O presidente faz marketing, e acha que governar gira em torno de artifícios como dados estatísticos, invertidas nas redes sociais contra críticas ao presidente e todo um ritual de imagens e contextos como falar de acordo com o que o público espera ouvir ou aproveitar efemérides para lançar medidas.
Tudo gira em torno do simulacro comunicativo - paciência, eu sou jornalista formado em faculdade e com registro na FENAJ e repudio tanto fake news que rompi com o Espiritismo brasileiro, em parte, por sua literatura fake falsamente atribuída a autores mortos - , que não condiz com a realidade prática em que vivemos.
O problema é que a burguesia de chinelos que domina as narrativas, com seus "insentões do bem" e sua imparcialidade de plástico, quer que suas visões "objetivas" da realidade se sobreponham à própria realidade.
O lance é que, como essa elite tem dinheiro no bolso, coleciona bens e possui considerável multidão de centenas de seguidores nas redes sociais, eles se acham no direito de julgar a realidade conforme as suas vontades. A realidade, para eles, não é o que ela realmente é, mas aquilo que eles acreditam que seja. E ai de quem criticar isso.
Pouco lhes importa se o presidente Lula fala mais do que faz. Na coreografia das palavras que praticam o vale-tudo das narrativas nas tedes sociais, Lula já está fazendo quando fala demais, viaja demais e realiza muita propaganda, com direito a chamar supostos representantes das classes pobres para encenar eventos de lançamento de medidas, só para fazer crer que as mesmas não se limitam a canetadas.
Com isso, a elite do bom atraso, embora se ache "a mais democrática do mundo", demonstra ser autoritária, sem autocrítica e sofrendo fobia pelo pensamento crítico que movimenta as sociedades desenvolvidas europeias. A elite do bom atraso brasileira é vira-lata mas não se assume como tal, ainda mais quando deseja dominar o mundo através desse protagonismo postiço estimulado pelo governo Lula.
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