Qual o mínimo denominador comum da elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu por estar fantasiada de "gente simples"? Fala-se do mínimo denominador comum dos conceitos de "liberdade" e "democracia", separados por seis décadas.
Em 1964, essas duas ideias serviam de pretexto para os protestos contra João Goulart, definido pelos opositores como o "governo da aventura", depois que Jango, como era conhecido o presidente, prometeu levar adiante as reformas de base, ou seja, propostas ousadas visando o progresso real do Brasil.
As ideias de "liberdade" e "democracia" eram desculpas para pedir o golpe militar para derrubar Jango e instalar um regime mais de acordo ao conservadorismo econômico, religioso, cultural e social que beneficiassem uma classe com muito dinheiro no bolso. Daí pedirem uma "liberdade" para essa elite gozar dos seus privilégios e uma "democracia" na qual só ela poderia se expressar e defender seus interesses.
E agora? As ideias de "liberdade" e "democracia" retomaram a pureza de sentido e a amplitude e a plenitude de seu alcance social, com ênfase nos interesses dos excluídos sociais?
E resposta é NÃO.
Os conceitos de "liberdade" e "democracia" continuam tão restritivos quanto em 1964. A diferença é que o discurso deixou o raivismo crônico, uma vez que os netos das elites do dinheiro se tornaram mais flexíveis, num contexto em que os empresários das Big Techs - a nova grande mídia que investe na recreação diária da "boa" sociedade brasileira - se vestem quase sempre como estudantes universitários.
Ou seja, mudou-se para continuar o mesmo, mas dispensando o "poder duro" da violência física. Exclui-se os pobres reais, os caseiros solitários, os intelectualizados, não necessariamente reprimindo-os, mas dando prestígio baixo e limitando benefícios. Por exemplo, o sujeito que ganha fácil na sorte grande mantém sua ganância egoísta de gastar tudo com supérfluos, em detrimento daquele que não ganha e acumula contas na sua involuntária inadimplência.
O mercado de trabalho prioriza gente "divertida" na esfera privada e gente "zangada" na esfera pública, que é um meio voltado à burocracia. Hoje, porém, a "democracia" não reprime, mas seleciona quem mais receberá a luz do Sol. Não tem lugar para todo mundo neste "Brasil único", onde todos são livres, mas poucos são mais livres do que outros.
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