A elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, podendo ser vista espalhada pelas ruas, geralmente tomando cerveja e vendo redes sociais acima da média do público médio, inventou uma nova espécie humana, destinada a dominar o mundo e sepultar o continente europeu.
É o "homo ludicus", a espécie mais legal do planeta, prestes a "tomar no cool" sem reclamar de coisa alguma, usando o raciocínio apenas para "coisas práticas " como justificar suas convicções e criar uma narrativa para moldar sua realidade de acordo com seus interesses.
O "homo ludicus" é o substituto do "homo sapiens" espécie que, segundo a "boa" sociedade de hoje, se desgastou com desvarios existencialistas que culminaram nas visões distópicas de hoje. Que toda a distopia seja jogada para longe, no tempo e no espaço. Existencialismo que fique no repouso do esquecimento em algum momento da primeira metade da década de 1960. Distopia que fique lá nos terrenos gelados das nações eslavas ou em algum centro urbano das Coreias.
Aqui o Brasil é só festa. Uma reconstrução que nunca se explicou se vai começar ou se já terminou, mas que desde o primeiro momento teve um clima de festa. Afinal, a sociedade que em 1964 derrubou Jango e, em 1968, pediu mais rigor na ditadura, agora conquistou a "paz social" necessária para ela posar de boazinha e apoiar Lula a ponto de passar pano nos erros do presidente, como priorizar a política externa antes da própria resolução dos problemas brasileiros.
Também, vendo o proletariado decadente, o lumpesinato tornado invisível na sociedade, jovens ficarem infantilizados a ponto de um secundarista de 60 anos atrás ser culturalmente mais relevante que um universitário dos dias de hoje. O campesinato está longe, sofrendo sua tragédia sem a proteção das instituições. E até os roqueiros no Brasil, amestrados por uma rádio medíocre da Faria Lima, tornaram-se um rebanho de ovelhas negras branqueadas e inofensivas de tão obedientes.
O "homo ludicus" é, portanto, a espécie "mais legal do planeta", preocupado com as "coisas mais importantes da vida": beber muita cerveja, fazer festas todo fim de semana, comprar carros de alto gabarito e fazer viagens banais para se pavonear no exterior.
Profissionalmente, o "homo ludicus" é o mais divertido. Faz um trabalho qualquer nota, pois o mercado anda muito indisposto a contratar gente de talento, em poucos minutos, e aproveita a maior parte do expediente para contar piadas e brincar com os colegas. Em casos extremos, até fazer assédios morais ou sexuais, quando se sente superior o bastante para cometer tais abusos.
O "homo ludicus" estava ali quieto, há 50 anos, quando a ditadura ainda exterminava opositores, o latifúndio dizimava, via pistolagem, o campesinato, enquanto "médiuns" falavam das "maravilhas" de suportar calado as desgraças sem fim e os ídolos bregas, gourmetizando a pobreza, falavam das "maravilhas" de consumir bebida alcoólica para esquecer os problemas.
A fêmea do homo ludicus é também peculiar, com seu estilo hedonista de ser, sem medo e sem amor, pois "amor" se limita a ser apenas a oposição ao ódio bolsonarista. Ela não gosta de romantismo, vê o homem como um rival em potencial e sua obsessão por diversão envolve curtir cigarro, cerveja, noitadas, futebol e música popularesca, principalmente "funk" e o pop identitarista de Pabblo Vittar, Gloria Groove, Johnny Rooker, Jão e Luisa Sonza, entre outros.
A espécie do homo ludicus quase se extinguiu prematuramente nos anos 1980, quando o fim da ditadura militar trouxe os antigos fantasmas socioculturais do pré-1964. Mas o "homo ludicus" foi reabilitado por Collor, FHC, pela sabotagem culturalista dos governos Lula e Dilma Rousseff - a intelectualidade "bacana" pró-brega que usava o "combate ao preconceito" como conversa para boi dormir - e pelos retrocessos de Temer e Bolsonaro.
O "homo ludicus" tinha que se impor como modelo de humanidade e até conseguiu ser a espécie dominante no Brasil, pelo menos atuando de maneira hegemônica nas redes sociais e, dentro dessa bolha, traçar um plano de dominação do resto do mundo, animada pela esperança de ver a Escandinávia soterrada pelas lavas vulcânicas islandesas.
Ao som do "brega vintage" e sob o comando de um Lula convertido em um serviçal da esquerda festiva e identitária, o "homo ludicus" apresenta uma mutação fincional: o cérebro deixou de ser o órgão de manifestação do raciocínio, função que agora remete ao coração. Com as funções racionais bastante limitadas, o cérebro se linita agora a trabalhar para somente justificar com argumentos as convicções do coração. O homo ludicus se acha melhor que o homo sapiens por conta do império da emoção que põe a fantasia acima da realidade e a Fé acima da Razão, o que faz sentido nessa sociedade tóxica do Brasil de hoje.
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