VELHOS ZUMBIS DO "MILAGRE BRASILEIRO" AGORA QUEREM DOMINAR O MUNDO SE ACHANDO A "GENTE MAIS LEGAL DO MUNDO".
O desespero de uma elite brasileira em obter o protagonismo mundial e aproveitar as benesses de sua prosperidade nos tempos atuais, em que uma democracia formal lhe atende aos interesses de seus privilégios plenos, mostra o quanto o Brasil é "um só país" para uns e não para os outros que não vivem a festa hedonista, consumista e identitária atual.
Uma classe que sempre usufruiu de seus privilégios de séculos, mas que, em contextos mais recentes, está no poder há pelo menos 50 anos, tenta resistir apagando seu passado, como quem tira os anéis para preservar seus dedos. Abertamente conservadora, essa classe tenta agora mostrar uma embalagem mais moderna e arrojada, daí o esquerdismo de fachada de hoje.
A intolerância ao pensamento crítico, herança dos tempos golpistas "clássicos" - portanto, os de 1964-1985 e não o bolsonarismo cômico de hoje - , e a forma paternalista com que encaram o povo pobre, a ponto de defender a vida nas favelas ou em situação de rua como um processo permanente, revela o quanto essa autoproclamada "sociedade do amor" não é diferente na essência do gado humano bolsonarista.
A elite do bom atraso, a burguesia invisível a olho nu, agora "apaixonada" pelos pobres, pela vanguarda cultural e pelo marxismo, na verdade esconde seu golpismo, seu reacionarismo antes expresso aos berros e nas ruas.
O culturalismo vira-lata não assumido, que se tornaram os brinquedos culturais que a direita cordial jogou para as esquerdas médias consumirem e apreciarem e que fazem do Brasil uma versão "vida real" da novela das nove da Rede Globo, mostram a herança da ditadura militar no imaginário que se acredita "democrático" e "progressista".
Ver que a gente não consegue recuperar os debates culturais do pré-1964, é assustador. Ver que não se pode expressar o pensamento crítico nos documentários de cinema e nas monografias universitárias, é estarrecedor. Ver que essa verdadeira censura é feita sob as desculpas de viabilidade econômica, responsabilidade social, abordagem científica e até combate ao preconceito é de fazer careca arrancar os cabelos que não tem.
Fala-se mal da falsa imparcialidade de Sérgio Moro, mas ninguém percebe que há muita hipocrisia por trás da não menos falsa imparcialidade de monografias, de documentários, de teses de pós-graduação. Os pretextos de que essa suposta neutralidade é para garantir o equilíbrio nas relações sociais, econômicas e similares dominantes mostram o grau de cinismo que a velha ordem do atraso enrustido utiliza para defender a "democracia" de poucos, que não representa ruptura real com os valores retrógrados que prevaleceram no período ditatorial.
Ainda temos uma "democracia" marcada por um neoliberalismo tecnocrata, em que o senso comum ou mesmo os direitos dos pobres dependem do juízo de valor de meia-dúzia de poderosos. E isso é uma regra típica dos tempos do general Médici, mas que tenta resistir a qualquer preço, mesmo sob a democracia formal de hoje. Como se esses valores, típicos de uma burguesia repressiva de 50 anos atrás, fossem "democráticos", "progressistas", "populares" e "atemporais"
É necessário contestar e desafiar tudo isso. Se é mais possível expressar o pensamento crítico em comédias do cinema comercial estadunidense do que em documentários brasileiros que se julgam de visão pretensamente objetiva, então ainda estamos presos a uma velha ordem social que dominou a ditadura militar e hoje se disfarça de esquerda democrática, enquanto injeta na nossa sociedade os valores podres de uma socialidade elitista e meritocrática de 50 anos atrás. E aí se vê como essa elite adora transformar valores aberrantes em novo normal para acostumar mal o povo do nosso país.
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