Os lulistas, tomados de tanto deslumbramento com o momento político atual no Brasil, pouco se importam se nosso país ainda entrará em reconstrução ou se a reconstrução já está concluída. Dependendo das conveniências do momento, o próprio Lula, às vezes, tenta fazer crer que o Brasil já está reconstruído, e, em outras, afirma que ainda vai dar início à reconstrução do país.
A gente precisa desenhar, porque os lulistas não gostam de criticar o governo Lula, quanto mais indagar se há ou não a prometida reconstrução do Brasil, uma reconstrução estranha, em que a festa vem antes do trabalho, em que a política externa vem antes das medidas em prol do nosso país. Para todo efeito, o lulista deseja pensar que o Brasil hoje é um país de contos de fadas.
Pois vamos aproveitar o fato de que eu estou fazendo estágio de corretor de imóveis, já que Jornalismo agora virou piada de comediante de stand up metido a ser repórter - um "repórter de pirarucu", a fazer perguntas de duplo sentido em enquetes de rua, mas se achando o Tom Wolfe brasileiro - , e eu tenho que agora me inventar em outra área, para explicar com mais exatidão a tal reconstrução do Brasil.
Vamos supor que há um novo empreendimento imobiliário, o Bubble Flat Dona Carochinha, no hipotético bairro de Vila Dona Carochinha. Ele está em pré-lançamento, mas já existe material de divulgação do empreendimento, um condomínio de, digamos, quatro torres de edifícios residenciais. Mas até agora só existe uma área que nem sequer foi trabalhada sequer para preparar o solo para tamanhas construções.
Digamos que o edifício está no estágio de plantas, mas não há apartamentos decorados para mostrar aos clientes como serão as unidades a serem vendidas. Além das plantas, digamos que há também desenhos dos apartamentos, traçados por arquitetos, e esses apartamentos têm área de, em média, 64 m².
Há esse planejamento e, no entanto, o terreno ainda nem foi trabalhado. Ele está cru, é uma área que está ainda no estado anterior ao da aquisição da construtora, que realiza a comercialização do empreendimento em parceria com uma incorporadora.
Será que, em tais condições, o corretor de imóveis irá dizer ao cliente que o condomínio está pronto e basta o cliente fazer as mudanças necessárias para ir, imediatamente, morar num apartamento inexistente, porque nem o solo foi preparado para tais construções, ainda mais cada um dos edifícios previstos?
A resposta é não.
Tudo está ainda para ser construído, com o solo preparado para as bases de sustentação dos edifícios, com todos os processos técnicos que eu me sinto incapaz de detalhar, por não ser um engenheiro. Mas o que posso assegurar que não dá para dizer que o condomínio está pronto, porque ele precisa ser construído e isso levará um tempo, um cronograma que já está previsto no planejamento das obras.
Imaginemos então o Brasil. Fala-se que o bolsonarismo arrasou o Brasil, embora lembremos que foi Michel Temer que traçou o (des)caminho para Jair Bolsonaro (des)governar apenas em favor de seus amigos e familiares.
Certo. Certíssimo. Mas vamos combinar que a elite do bom atraso que hoje é a "nata" dos apoiadores de Lula nunca foi prejudicada por Temer nem Bolsonaro, vivendo sempre bem, passeando por bairros bacanas, viajando para o exterior, tomando cerveja adoidado, jogando comida fora no almoço e se divertindo no Instagram e indo para shows "bacanas" de música brega-popularesca. Essa "boa" sociedade, que finge ter sido prejudicada por Bolsonaro, sempre viveu, nos períodos golpistas de 2016 a 2022, com "muito dinheiro no bolso e saúde pra dar e vender".
Por isso é essa "gente bem", essa elite invisível a olho nu que se fantasia de "gente simples" para impor seus valores privativos - que inclui uma religiosidade mofada e um culturalismo precário que envolve a mesmice de curtir futebol e música popularesca (além do mesmo hit-parade estrangeiro dos mesmos "sucessos internacionais" tocados 200 vezes por dia nas rádios), não está aí para saber se o Brasil será ou já foi reconstruído.
A metáfora do empreendimento imobiliário explica como devemos entender a reconstrução que, na prática, ainda não ocorreu, pois Lula foi se pavonear no exterior, forçando a barra para intervir em políticas internacionais, cujo resultado foi bastante infeliz (apesar dos lulistas celebrarem o contrário, dentro do bordão "O Brasil voltou!!"). O país pedindo socorro e Lula pensando mais na reconstrução da Ucrânia e da construção da pátria palestina, antes mesmo a recuperação do nosso país.
E agora Lula quer correr contra o tempo, vendo que sua popularidade, que já perdeu adesões pouco a pouco, desde a campanha presidencial de 2022, corre o risco de se limitar ainda mais a um clubinho pequeno de lulistas fanáticos (o que, creio, é inevitável de acontecer), e aí vemos o quanto o presidente, agora, quer "viajar pelo Brasil para ouvir o povo".
Diante de uma coleção de erros do governo Lula, não creio que sua popularidade irá recuperar, pois hoje o presidente só consegue a adesão real do 30% do seu eleitorado. Na melhor das hipóteses, nem mais e nem menos, embora supostas pesquisas de opinião aleguem que até bolsonaristas estão começando a aderir a Lula. Mas a realidade é muito complexa para lulistas e bolsonaristas compreenderem, cada lado apegado nas suas fantasias persistentes.
Comentários
Postar um comentário