KID VINIL, EM UMA DE SUAS ÚLTIMAS APRESENTAÇÕES COM O GRUPO KID VINIL XPERIENCE.
Perdemos Antônio Carlos Senefonte, o Kid Vinil, num momento muito delicado.
Um momento frágil, não só politicamente, ou no âmbito econômico, institucional ou de segurança, mas também cultural.
Kid Vinil acompanha, no contexto do Rock Brasil, as perdas que se vê na Música Popular Brasileira.
No rock, o público já sofre com a repentina morte do cantor e músico estadunidense Chris Cornell, do Soundgarden e Audioslave e também da banda-tributo Temple of the Dog.
Kid Vinil, a exemplo de Belchior, tinha aquela aparência de "titio", mas ambos eram amigos da cultura independente e batalharam pela cultura alternativa, cada um no seu âmbito musical.
Eles vieram de um tempo de muito idealismo, que falta até mesmo nos jovens de hoje, cada vez mais reduzidos a marionetes dos valores midiáticos.
Kid Vinil era um grande colecionador de discos de rock e um profundo conhecedor de rock alternativo.
Nos anos 1970, ele estava para São Paulo o que Renato Russo estava para Brasília, na transmissão de novidades do punk rock, com um mínimo de esforço de manter não só a instantaneidade, como mostrar algo além, ou seja, coisas mais alternativas.
Cada um adquiria um disco importado e saía por aí mostrando as novidades para a turma. E cada um à sua maneira.
Kid Vinil fazia isso como radialista, na Rádio Excelsior FM. Graças a ele, São Paulo nutriu de muitas novidades do punk e pós-punk quase que ao mesmo tempo das tendências dos EUA e Reino Unido.
A indústria fonográfica tentou "podá-lo", mudando o nome da banda Verminose para Magazine e podando o som pós-punk do grupo para uma new wave que sofria com o terrível padrão de mixagem que as gravadoras trabalhavam na época.
Era um padrão "adocicado" que fazia as músicas serem "tocáveis no rádio", mas faziam perder a energia original das apresentações ao vivo. Essa queixa tornou-se muito famosa no lançamento do primeiro LP do Barão Vermelho.
Mesmo assim, Kid Vinil não perdia a postura e o Magazine era parcialmente livre da confusão com uma homônima banda britânica (a Magazine, de Manchester, do ex-Buzzcocks Howard Devoto), devido à pronúncia diferenciada em inglês e português (no inglês, Magazine lê-se "megazáim").
Além disso, o "megazáim" de Howard Devoto é praticamente desconhecido do Brasil.
O público roqueiro médio não conhece sequer os Buzzcocks. Num país em que Deep Purple e AC/DC viram "bandas de um sucesso só", isso é um detalhe vergonhoso.
Kid Vinil era o farol de tantas tendências e novidades no rock, e ultimamente seu papel brilhante era muito subestimado.
Hoje se vê tantos roqueiros novos caprichando no visual ripongo, na cabeleira crespa, no barulho das guitarras, mas falta criatividade e as referências musicais são muito superficiais.
Ver que roqueiro hoje só ouve "sucesso" é constrangedor. Até parece que o público roqueiro médio "matou" Kid Vinil.
Kid Vinil também foi vocalista da banda de rockabilly "Heróis do Brasil". Ultimamente ele estava à frente da banda Kid Vinil Xperience, da última apresentação em Conselheiro Lafaiette, interior de Minas Gerais.
Foi na noite de 15 de abril de 2017. Kid, de 62 anos, passou mal e teve que ser socorrido para um hospital local.
Foi preciso uma campanha na Internet para ele ser depois transferido para um hospital em Vila Mariana, São Paulo.
Ele chegou em estado grave e passou cerca de um mês em coma induzido, até morrer hoje.
Não só pelos conhecimentos musicais, mas pelo seu bom humor e inigualável simpatia, Kid Vinil faz falta entre nós.
Como cantor, ele cantava letras que faziam críticas bem humoradas do cotidiano, como se fosse um "punk com humor", em músicas como "Soy Boy" e "Tic-Tic Nervoso", do Magazine, e "A Conta da Light", dos Heróis do Brasil.
Era um dos poucos sessentões naturalmente joviais, de uma geração que em boa parte revela transtornados coroas mentalmente envelhecidos, sisudos e moralmente inconsequentes.
Por ironia, Kid Vinil era exatos cinco anos mais velho do que Aécio Neves, político negativamente destacado hoje em dia por conta da corrupção. Kid nasceu em um 10 de março, em 1955.
Fica aqui meu pesar pela perda de Kid Vinil. Espero que ele tenha deixado sementes de sua trajetória entre nós, que seguimos em frente.
Perdemos Antônio Carlos Senefonte, o Kid Vinil, num momento muito delicado.
Um momento frágil, não só politicamente, ou no âmbito econômico, institucional ou de segurança, mas também cultural.
Kid Vinil acompanha, no contexto do Rock Brasil, as perdas que se vê na Música Popular Brasileira.
No rock, o público já sofre com a repentina morte do cantor e músico estadunidense Chris Cornell, do Soundgarden e Audioslave e também da banda-tributo Temple of the Dog.
Kid Vinil, a exemplo de Belchior, tinha aquela aparência de "titio", mas ambos eram amigos da cultura independente e batalharam pela cultura alternativa, cada um no seu âmbito musical.
Eles vieram de um tempo de muito idealismo, que falta até mesmo nos jovens de hoje, cada vez mais reduzidos a marionetes dos valores midiáticos.
Kid Vinil era um grande colecionador de discos de rock e um profundo conhecedor de rock alternativo.
Nos anos 1970, ele estava para São Paulo o que Renato Russo estava para Brasília, na transmissão de novidades do punk rock, com um mínimo de esforço de manter não só a instantaneidade, como mostrar algo além, ou seja, coisas mais alternativas.
Cada um adquiria um disco importado e saía por aí mostrando as novidades para a turma. E cada um à sua maneira.
Kid Vinil fazia isso como radialista, na Rádio Excelsior FM. Graças a ele, São Paulo nutriu de muitas novidades do punk e pós-punk quase que ao mesmo tempo das tendências dos EUA e Reino Unido.
A indústria fonográfica tentou "podá-lo", mudando o nome da banda Verminose para Magazine e podando o som pós-punk do grupo para uma new wave que sofria com o terrível padrão de mixagem que as gravadoras trabalhavam na época.
Era um padrão "adocicado" que fazia as músicas serem "tocáveis no rádio", mas faziam perder a energia original das apresentações ao vivo. Essa queixa tornou-se muito famosa no lançamento do primeiro LP do Barão Vermelho.
Mesmo assim, Kid Vinil não perdia a postura e o Magazine era parcialmente livre da confusão com uma homônima banda britânica (a Magazine, de Manchester, do ex-Buzzcocks Howard Devoto), devido à pronúncia diferenciada em inglês e português (no inglês, Magazine lê-se "megazáim").
Além disso, o "megazáim" de Howard Devoto é praticamente desconhecido do Brasil.
O público roqueiro médio não conhece sequer os Buzzcocks. Num país em que Deep Purple e AC/DC viram "bandas de um sucesso só", isso é um detalhe vergonhoso.
Kid Vinil era o farol de tantas tendências e novidades no rock, e ultimamente seu papel brilhante era muito subestimado.
Hoje se vê tantos roqueiros novos caprichando no visual ripongo, na cabeleira crespa, no barulho das guitarras, mas falta criatividade e as referências musicais são muito superficiais.
Ver que roqueiro hoje só ouve "sucesso" é constrangedor. Até parece que o público roqueiro médio "matou" Kid Vinil.
Kid Vinil também foi vocalista da banda de rockabilly "Heróis do Brasil". Ultimamente ele estava à frente da banda Kid Vinil Xperience, da última apresentação em Conselheiro Lafaiette, interior de Minas Gerais.
Foi na noite de 15 de abril de 2017. Kid, de 62 anos, passou mal e teve que ser socorrido para um hospital local.
Foi preciso uma campanha na Internet para ele ser depois transferido para um hospital em Vila Mariana, São Paulo.
Ele chegou em estado grave e passou cerca de um mês em coma induzido, até morrer hoje.
Não só pelos conhecimentos musicais, mas pelo seu bom humor e inigualável simpatia, Kid Vinil faz falta entre nós.
Como cantor, ele cantava letras que faziam críticas bem humoradas do cotidiano, como se fosse um "punk com humor", em músicas como "Soy Boy" e "Tic-Tic Nervoso", do Magazine, e "A Conta da Light", dos Heróis do Brasil.
Era um dos poucos sessentões naturalmente joviais, de uma geração que em boa parte revela transtornados coroas mentalmente envelhecidos, sisudos e moralmente inconsequentes.
Por ironia, Kid Vinil era exatos cinco anos mais velho do que Aécio Neves, político negativamente destacado hoje em dia por conta da corrupção. Kid nasceu em um 10 de março, em 1955.
Fica aqui meu pesar pela perda de Kid Vinil. Espero que ele tenha deixado sementes de sua trajetória entre nós, que seguimos em frente.
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