MARÍLIA MEDALHA E EDU LOBO - MPB de qualidade é o que os intelectuais pró-brega queriam evitar.
É certo que existe uma grande analogia entre o governo de Michel Temer, que completou um ano, e a ditadura militar, ainda que com certas diferenças de contexto e forças de poder.
Descontando a diferença da substituição das fardas militares pelas togas de juízes e ministros do Judiciário, o governo Temer lembra muito o autoritarismo dos governos militares.
A um só momento, Temer fundiu a pretensão econômica do governo Castelo Branco, a democracia amestrada do governo Ernesto Geisel e as convulsões sociais do governo João Figueiredo.
Uma grande diferença, porém, se observava.
Em vez da vibrante reação de músicos brasileiros intelectualizados e engajados, que se revelaram nos festivais de música nas emissoras de TV - destacando o trabalho pioneiro da TV Excelsior - vemos a MPB se evaporando pouco a pouco.
Primeiro, pelo fato de, em vez de haver novas e grandes canções, a MPB se torna prisioneira de suas próprias homenagens.
Sempre as músicas do passado, os tributos, as efemérides, com um gosto amargo de que o que entendemos como MPB autêntica está virando coisa do passado.
Os próprios artistas acabam se entregando, fazendo homenagens e homenagens, até a si mesmos, como se sua arte estivesse virando peça de museu.
Segundo, porque uma "panelinha" de intelectuais, vindos da Folha, Globo e Abril que foi fazer proselitismo na mídia progressista para sabotar os debates sobre cultura brasileira.
Além de difundirem o ideal da "pobreza linda" e da "miséria legal", eles impuseram a degradação musical do brega-popularesco, sob o pretexto do "combate ao preconceito".
Isso criou muitos estragos, porque o preconceito não foi combatido.
O preconceito apenas mudou de alvo: em vez da música de gosto duvidoso, era a música de qualidade que passou a sofrer séria discriminação.
Enquanto as esquerdas, na boa-fé, achavam, por exemplo, que reprovar o "funk" era "agenda de direita", os sociopatas elegiam o gênero, junto ao "sertanejo", a sua trilha sonora.
Se esquecem que MC Leonardo voltou a cena com uma ajudinha de um cineasta do Instituto Millenium e Zezé di Camargo & Luciano eram eleitores de Ronaldo Caiado.
Os dois eram "guevarizados" mesmo relacionados a filmes produzidos pela Globo Filmes, o funqueiro na trilha sonora (ao lado de MC Júnior) e a dupla, na cinebiografia dramatizada e na trilha sonora.
Enquanto Zezé di Camargo & Luciano expunham seu pretenso humanismo nos seus "quinze minutos de fama" ao lado de gente mais intelectualizada, os sociopatas patrulhavam para ofender e difamar quem não era fã da dupla.
De um lado, intelectuais "bacanas" promoviam a breguice musical sob a falsa imagem de "revolução comportamental".
De outro, sociopatas esnobavam e ridicularizaram internautas que fizessem alguma crítica à breguice musical.
E a mídia venal promovendo a breguice musical que, na boa-fé, os periódicos de esquerda endossaram sem saber do perigo dessa atitude.
Resultado: a MPB que foi uma alternativa de manifestação de inteligência e criatividade, e cujo exemplo impulsionou os jovens a se mobilizarem, foi deixada de lado em nome do "fim do preconceito com o brega".
Um "fim do preconceito" que não passou de falácia, por ser tão somente a aceitação de manifestações "culturais", sobretudo musicais, que tratavam o povo pobre de maneira preconceituosa, caricatural.
Com isso, os intelectuais "bacanas" deixaram a MPB à margem até do gosto juvenil, praticamente submisso ao brega, e abriu o caminho, culturalmente, para as mobilizações reacionárias.
A "santíssima trindade" dos intelectuais "bacanas", Paulo César Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna, acabaram criando Frankensteins culturais.
Graças às pregações pró-brega, pró-funqueira, pró-Tchan ou coisa parecida, eles abriram caminho para a urubologia e para o ativismo "coxinha" de Reinaldo Azevedo, Kim Kataguiri, Joyce Hasselmann etc.
Todo o burburinho de que o "funk" supostamente traria o socialismo para o Brasil resultou, isso sim, na chegada do intragável Michel Temer ao poder.
A "guevarização" de Waldick Soriano (que, direitista, foi o "Lobão" da música brega "de raiz") acabou pondo o burocrático conservador Roberto Freire para o Ministério da Cultura.
O povo pobre era "convidado" pelos intelectuais "bacanas" a não pedir melhorias, sob a falácia de que isso era "intervir" na "pobreza linda e inocente" das "periferias" (termo herdado da Teoria da Dependência de Fernando Henrique Cardoso).
Esvaziou-se o debate cultural das classes populares, abrindo caminho para os supostos debates da direita raivosa.
A intelectualidade "bacana", que tanto posa de "boa esquerdista", partia para cima de Chico Buarque com o mesmo apetite da mídia venal contra José Dirceu, Lula e Dilma Rousseff.
E o que isso deu? Num grande baixo astral cultural.
Como se acreditou, em 1964, que a burguesia nacional e a poetização do subdesenvolvimento iriam trazer o socialismo mas trouxe a ditadura, acreditou-se que o "funk" e o brega trariam o socialismo de hoje, mas trouxe o governo plutocrata de Temer.
Como Cabo Anselmo em seu tempo, o "funk", tão "amigo das esquerdas", as apunhalou pelas costas e foi comemorar suas vitórias na Rede Globo, Folha, Caras e Jovem Pan, e abraçados a gente como Luciano Huck, Danilo Gentili e Fausto Silva.
A MPB, que esperava que a breguice cultural lhes desse cadeira cativa pela aparente "confraternização", foi deixada de lado, à margem do mercado.
Belchior via o mercado musical ficar hipócrita e se isolava do show business, se recusando talvez a fazer papel de "escada" para algum neo-brega vampirizando as músicas do cearense.
Belchior morreu e, em seguida, Almir Guineto.
Luiz Melodia está internado tratando de câncer, criando um clima de apreensão de que ele poderá ser o próximo.
E ele ainda teve a casa invadida por ladrões.
São aspectos dramáticos de um cenário em que a MPB faz eternos tributos e homenagens, regravando e reinterpretando as mesmas velhas canções.
Refém das trilhas sonoras da Globo, a MPB autêntica há muito deixou a força artística que até 1977 garantia alta popularidade.
Depois de 1977, vieram os "discos de produtor" que pasteurizaram a MPB e que viraram molde para os "discos de arranjador" que reembalavam os neo-bregas da Era Collor como pretensos neo-emepebistas.
Criou-se uma péssima educação musical que resultou nesse pop-brega comercial dos funqueiros e "sertanejos universitários" de hoje, das popozudas e safadões que desmoralizam nossa cultura musical.
Temos hoje o comercialismo extremo de luans, anittas, simones e simarias, henriques e julianos, thiaguinhos, ivetes, luccos, guis e guimês, joelmas, que se encaixam no estado de espírito degradado do governo Temer.
É a degradação da música brasileira como trilha sonora de um projeto político que degrada o mercado de trabalho como um todo.
Não temos Marília Medalha, no lugar há outra Marília, a Marília Mendonça, comprometida com a breguice e o comercialismo.
O cenário musical brasileiro não poderia ser mais desolador.
A cultura popular privatizada, e até a MPB de classe média substituída por um brega de classe média que rola nas festas de socialites e nas boates de ricaços em Jurerê Internacional, Trancoso e similares.
Estamos perdendo os grandes artistas, para dar lugar a subcelebridades que se projetam mais pelas relações amorosas que tentam renegar do que por alguma produção musical, por sinal ruim.
A ditabranda do mau gosto prevaleceu e os intelectuais "bacanas", como quem quebrou o vidro na casa vizinha, fugiram ou mudaram de assunto.
Tem até intelectual "bacana" que agora fala da Maria da Cocada que labuta há 45 anos na MPB genuina.
Eles também sentem que, da festa que queriam promover, só se conseguiu produzir a ressaca.
Combatiam iniciativas similares ao CPC da UNE e à Bossa Nova, impedindo criar cenários semelhantes aos dos festivais da canção.
Acabaram liberando o ativismo dos "coxinhas" e "urubólogos" que ouviam "funk" e "sertanejo" escondidos em suas trincheiras reaças das mídias sociais.
Daí que a defesa da breguice cultural, que no fundo era uma forma de forçar o povo pobre a aceitar sua inferioridade social, acabou abrindo caminho para um projeto político que consolida essa apologia à pobreza, através das reformas trabalhista e previdenciária.
De um povo alegremente cafona, se produziu um povo dramaticamente escravo.
É certo que existe uma grande analogia entre o governo de Michel Temer, que completou um ano, e a ditadura militar, ainda que com certas diferenças de contexto e forças de poder.
Descontando a diferença da substituição das fardas militares pelas togas de juízes e ministros do Judiciário, o governo Temer lembra muito o autoritarismo dos governos militares.
A um só momento, Temer fundiu a pretensão econômica do governo Castelo Branco, a democracia amestrada do governo Ernesto Geisel e as convulsões sociais do governo João Figueiredo.
Uma grande diferença, porém, se observava.
Em vez da vibrante reação de músicos brasileiros intelectualizados e engajados, que se revelaram nos festivais de música nas emissoras de TV - destacando o trabalho pioneiro da TV Excelsior - vemos a MPB se evaporando pouco a pouco.
Primeiro, pelo fato de, em vez de haver novas e grandes canções, a MPB se torna prisioneira de suas próprias homenagens.
Sempre as músicas do passado, os tributos, as efemérides, com um gosto amargo de que o que entendemos como MPB autêntica está virando coisa do passado.
Os próprios artistas acabam se entregando, fazendo homenagens e homenagens, até a si mesmos, como se sua arte estivesse virando peça de museu.
Segundo, porque uma "panelinha" de intelectuais, vindos da Folha, Globo e Abril que foi fazer proselitismo na mídia progressista para sabotar os debates sobre cultura brasileira.
Além de difundirem o ideal da "pobreza linda" e da "miséria legal", eles impuseram a degradação musical do brega-popularesco, sob o pretexto do "combate ao preconceito".
Isso criou muitos estragos, porque o preconceito não foi combatido.
O preconceito apenas mudou de alvo: em vez da música de gosto duvidoso, era a música de qualidade que passou a sofrer séria discriminação.
Enquanto as esquerdas, na boa-fé, achavam, por exemplo, que reprovar o "funk" era "agenda de direita", os sociopatas elegiam o gênero, junto ao "sertanejo", a sua trilha sonora.
Se esquecem que MC Leonardo voltou a cena com uma ajudinha de um cineasta do Instituto Millenium e Zezé di Camargo & Luciano eram eleitores de Ronaldo Caiado.
Os dois eram "guevarizados" mesmo relacionados a filmes produzidos pela Globo Filmes, o funqueiro na trilha sonora (ao lado de MC Júnior) e a dupla, na cinebiografia dramatizada e na trilha sonora.
Enquanto Zezé di Camargo & Luciano expunham seu pretenso humanismo nos seus "quinze minutos de fama" ao lado de gente mais intelectualizada, os sociopatas patrulhavam para ofender e difamar quem não era fã da dupla.
De um lado, intelectuais "bacanas" promoviam a breguice musical sob a falsa imagem de "revolução comportamental".
De outro, sociopatas esnobavam e ridicularizaram internautas que fizessem alguma crítica à breguice musical.
E a mídia venal promovendo a breguice musical que, na boa-fé, os periódicos de esquerda endossaram sem saber do perigo dessa atitude.
Resultado: a MPB que foi uma alternativa de manifestação de inteligência e criatividade, e cujo exemplo impulsionou os jovens a se mobilizarem, foi deixada de lado em nome do "fim do preconceito com o brega".
Um "fim do preconceito" que não passou de falácia, por ser tão somente a aceitação de manifestações "culturais", sobretudo musicais, que tratavam o povo pobre de maneira preconceituosa, caricatural.
Com isso, os intelectuais "bacanas" deixaram a MPB à margem até do gosto juvenil, praticamente submisso ao brega, e abriu o caminho, culturalmente, para as mobilizações reacionárias.
A "santíssima trindade" dos intelectuais "bacanas", Paulo César Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna, acabaram criando Frankensteins culturais.
Graças às pregações pró-brega, pró-funqueira, pró-Tchan ou coisa parecida, eles abriram caminho para a urubologia e para o ativismo "coxinha" de Reinaldo Azevedo, Kim Kataguiri, Joyce Hasselmann etc.
Todo o burburinho de que o "funk" supostamente traria o socialismo para o Brasil resultou, isso sim, na chegada do intragável Michel Temer ao poder.
A "guevarização" de Waldick Soriano (que, direitista, foi o "Lobão" da música brega "de raiz") acabou pondo o burocrático conservador Roberto Freire para o Ministério da Cultura.
O povo pobre era "convidado" pelos intelectuais "bacanas" a não pedir melhorias, sob a falácia de que isso era "intervir" na "pobreza linda e inocente" das "periferias" (termo herdado da Teoria da Dependência de Fernando Henrique Cardoso).
Esvaziou-se o debate cultural das classes populares, abrindo caminho para os supostos debates da direita raivosa.
A intelectualidade "bacana", que tanto posa de "boa esquerdista", partia para cima de Chico Buarque com o mesmo apetite da mídia venal contra José Dirceu, Lula e Dilma Rousseff.
E o que isso deu? Num grande baixo astral cultural.
Como se acreditou, em 1964, que a burguesia nacional e a poetização do subdesenvolvimento iriam trazer o socialismo mas trouxe a ditadura, acreditou-se que o "funk" e o brega trariam o socialismo de hoje, mas trouxe o governo plutocrata de Temer.
Como Cabo Anselmo em seu tempo, o "funk", tão "amigo das esquerdas", as apunhalou pelas costas e foi comemorar suas vitórias na Rede Globo, Folha, Caras e Jovem Pan, e abraçados a gente como Luciano Huck, Danilo Gentili e Fausto Silva.
A MPB, que esperava que a breguice cultural lhes desse cadeira cativa pela aparente "confraternização", foi deixada de lado, à margem do mercado.
Belchior via o mercado musical ficar hipócrita e se isolava do show business, se recusando talvez a fazer papel de "escada" para algum neo-brega vampirizando as músicas do cearense.
Belchior morreu e, em seguida, Almir Guineto.
Luiz Melodia está internado tratando de câncer, criando um clima de apreensão de que ele poderá ser o próximo.
E ele ainda teve a casa invadida por ladrões.
São aspectos dramáticos de um cenário em que a MPB faz eternos tributos e homenagens, regravando e reinterpretando as mesmas velhas canções.
Refém das trilhas sonoras da Globo, a MPB autêntica há muito deixou a força artística que até 1977 garantia alta popularidade.
Depois de 1977, vieram os "discos de produtor" que pasteurizaram a MPB e que viraram molde para os "discos de arranjador" que reembalavam os neo-bregas da Era Collor como pretensos neo-emepebistas.
Criou-se uma péssima educação musical que resultou nesse pop-brega comercial dos funqueiros e "sertanejos universitários" de hoje, das popozudas e safadões que desmoralizam nossa cultura musical.
Temos hoje o comercialismo extremo de luans, anittas, simones e simarias, henriques e julianos, thiaguinhos, ivetes, luccos, guis e guimês, joelmas, que se encaixam no estado de espírito degradado do governo Temer.
É a degradação da música brasileira como trilha sonora de um projeto político que degrada o mercado de trabalho como um todo.
Não temos Marília Medalha, no lugar há outra Marília, a Marília Mendonça, comprometida com a breguice e o comercialismo.
O cenário musical brasileiro não poderia ser mais desolador.
A cultura popular privatizada, e até a MPB de classe média substituída por um brega de classe média que rola nas festas de socialites e nas boates de ricaços em Jurerê Internacional, Trancoso e similares.
Estamos perdendo os grandes artistas, para dar lugar a subcelebridades que se projetam mais pelas relações amorosas que tentam renegar do que por alguma produção musical, por sinal ruim.
A ditabranda do mau gosto prevaleceu e os intelectuais "bacanas", como quem quebrou o vidro na casa vizinha, fugiram ou mudaram de assunto.
Tem até intelectual "bacana" que agora fala da Maria da Cocada que labuta há 45 anos na MPB genuina.
Eles também sentem que, da festa que queriam promover, só se conseguiu produzir a ressaca.
Combatiam iniciativas similares ao CPC da UNE e à Bossa Nova, impedindo criar cenários semelhantes aos dos festivais da canção.
Acabaram liberando o ativismo dos "coxinhas" e "urubólogos" que ouviam "funk" e "sertanejo" escondidos em suas trincheiras reaças das mídias sociais.
Daí que a defesa da breguice cultural, que no fundo era uma forma de forçar o povo pobre a aceitar sua inferioridade social, acabou abrindo caminho para um projeto político que consolida essa apologia à pobreza, através das reformas trabalhista e previdenciária.
De um povo alegremente cafona, se produziu um povo dramaticamente escravo.
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