Hoje houve sequência de uma série de protestos, em várias cidades do país, contra o governo Michel Temer, seu esquema de corrupção e suas reformas impopulares.
Geralmente protestos desse nível costumam se destacar mais em São Paulo e, às vezes, no Rio de Janeiro.
Mas desta vez Brasília, a capital do nosso país, se destacou nos noticiários.
Foi um acontecimento que ganhou destaque até na imprensa estrangeira, só perdendo para o chocante atentado terrorista depois de uma apresentação de Ariana Grande, em Manchester, Grã-Bretanha.
Neste evento, 22 pessoas morreram. Ariana suspendeu parte da turnê por alguns dias e vários artistas cancelaram apresentações na cidade britânica. Um possível mentor do atentado está preso e outros suspeitos estão sendo investigados.
Mas o acontecimento brasileiro também foi explosivo e atinge mortalmente a reputação do presidente Michel Temer.
De certo, houve atos de vandalismo que atingiram prédios da Esplanada dos Ministérios.
Os prédios dos ministérios da Fazenda, da Cultura e da Agricultura foram incendiados.
Vários outros, como o do Trabalho e da Integração Nacional, além de parte do da Cultura e da Agricultura, foram depredados.
Manifestantes chegaram a entrar em confronto com policiais, que agiram de maneira bastante repressiva.
Michel Temer definiu os ataques dos manifestantes contra seu governo nos prédios dos ministérios como "baderna".
O ministro da Agricultura, Osmar Terra, até cometeu uma gafe, ao mostrar um incêndio acidental no prédio do INSS em Brasília, em 2005, como amostra do vandalismo de hoje.
"Criminosos se manifestando. Punição tem que ser exemplar para quem faz isso é (sic) para quem lidera", disse a mensagem no perfil do ministro Terra no Twitter.
Mas essa desordem é um efeito dos retrocessos de um governo que virou as costas para o povo, fingindo que atendida a seus interesses.
Paralelamente a tais protestos, houve também confusão na Câmara dos Deputados.
Um grupo de opositores do governo Temer chegou a ocupar o plenário da Câmara para pedir encerramento das sessões, em protesto.
Os deputados Edmilson Rodrigues, do PSOL do Pará, e Darcísio Perondi, do PMDB gaúcho, este também vice-líder do governo Temer na Câmara, chegaram a se enfrentar no empurra-empurra.
O vice-presidente da Câmara, André Fufuca, do PP maranhense, que exerceu o comando na ausência do presidente da casa, Rodrigo Maia, chegou a suspender a sessão por dez minutos.
Aliados do governo Temer pediam para Fufuca ordenar para reiniciar os trabalhos.
Deputados da oposição chegavam com amostras de cápsulas de bombas jogadas pela polícia contra os manifestantes. O deputado Glauber Braga, do PSOL fluminense, declarou haver feridos nos protestos.
A crise do governo Temer se agravou quando o presidente mandou acionar o Exército para vigiar a Esplanada dos Ministérios durante uma semana.
Juristas sérios definem essa atitude, adotada de forma autoritária e desnecessária, como "crime de responsabilidade", conforme afirmou reportagem de Carta Capital.
O crime consiste na atitude de Temer, que recorreu ao Exército quando poderia apenas reforçar o policiamento.
Mesmo diante de um contexto de depredação do patrimônio público e insegurança, não é uma situação que apele para o uso das Forças Armadas.
Além disso, o protesto se radicalizou em resposta à própria radicalização do reacionarismo de Temer.
E a própria reação das depredações e incêndios se deu após a repressão policial diante do avanço dos manifestantes à Esplanada dos Ministérios.
Consta-se que a própria polícia provocou os manifestantes e os vandalismos teriam ocorrido em resposta à violência e bombas dos policiais militares.
Michel Temer vê sua situação ficar insustentável e os aliados já começam a planejar sua sucessão, por via indireta.
Surgem rumores de uma chapa com Nelson Jobim, político do PMDB gaúcho e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, e Tasso Jereissati, do PSDB cearense.
Nelson Jobim foi ministro dos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula, e é visto como "conciliador".
Enquanto isso, há vários pedidos de impeachment do governo Michel Temer, chegando a nove com o novo pedido da OAB, enviado ao Congresso Nacional há poucos dias.
Mas Rodrigo Maia parece empurrar com a barriga e foi acusado de engavetar os pedidos, para tentar salvar Temer, de quem o deputado carioca, presidente da Câmara, é aliado fiel.
Disse que não pode analisar os pedidos de impeachment "como em um drive-thru", alusão ao serviço de atendimento às pessoas que permanecem em seus carros.
Rodrigo Maia disse que "é preciso paciência" para analisar os pedidos.
"Não é uma decisão que se tome da noite para o dia", alegou Maia.
Mas Temer se esgota a cada dia e o vandalismo na Esplanada dos Ministérios mostra o quanto o governo temeroso está acuado.
A situação se encontra insustentável e gravíssima, mas não se pode adiar a análise dos pedidos de impeachment.
Que, sendo tantos, deveriam ser apreciados, sim, de forma imediata.
A desculpa de Rodrigo Maia é um tiro no pé nesse agravamento de crise política.
A imagem de Temer se desgasta e não é a saída dele que trará instabilidade.
A instabilidade está justamente na sua permanência. Daí o caos de hoje.
Comentários
Postar um comentário