A crise política do governo Michel Temer não significa que os retrocessos sociais não possam ser levados adiante.
Temer é apenas o "funcionário de plantão" de um projeto que envolve interesses empresariais e elitistas diversos.
Vendo que várias empresas, como Riachuelo, McDonalds, Marisa e outros exploram trabalho escravo direta ou indiretamente, é bastante assustador.
E ainda há a solução das eleições indiretas, feitas por um Congresso Nacional que em maioria age às costas do povo.
Penso até na música "Hand in Glove", dos Smiths: "Mão na luva... O sol brilha às nossas costas...".
Do mesmo Morrissey que mais tarde colocaria uma referência ao problema político brasileiro numa de suas letras.
E os estrangeiros vendo melhor o Brasil que muitos brasileiros que só conhecem o mundo pelo Jornal Nacional.
No cada vez mais provinciano Rio de Janeiro, os cariocas (e os demais fluminenses, por conseguinte), só conseguem conhecer o mundo de duas fontes: o Jornal Nacional e o jornal O Dia.
O carioca só acorda mesmo quando a manchete de O Dia na primeira página for "Acorda, Carioca".
Não precisa de despertador.
O carioca médio dorme vendo o "mundo" pelo Jornal Nacional e acorda o "mundo" por O Dia, e, em muitos casos, também por O Globo. Mas aí O Globo repete a pauta do JN, por razões óbvias.
Quantas pessoas pensavam estar no paraíso com Temer.
Quantas preocupantes despreocupações das pessoas, que ensaiavam uma "felicidade" depois que Dilma Rousseff foi expulsa do poder.
Uma alegria que causava aflição, o que parece incrível não fossem os motivos que estavam por trás.
A desinformação da maioria das pessoas e o cinismo de uma parcela de elitistas.
Juntos, havia o consentimento das reformas amargas do governo Michel Temer: a previdenciária e a trabalhista, que, juntas, irão degradar a rotina profissional do brasileiro em geral.
E aí eu deparei com a foto acima, publicada no UOL.
Um grupo de máquinas agrícolas realizando uma colheita na fazenda Morro Azul, no interior de São Paulo.
De perto, são máquinas cortando plantações para a colheita das safras agrícolas.
Mas, de longe, parecem um monte de lápides de um cemitério.
Isso diz muito sobretudo aos trabalhadores rurais, que sentirão ainda mais o gosto mais amargo das tais reformas temerosas que a plutocracia deseja ver sobrevivendo após Temer.
Aposentadorias cada vez mais distantes, em regiões onde se morre mais cedo, e remunerações que podem se reduzir a, simplesmente, comida e alojamentos, gerando subnutrição e residências em condições degradantes.
Daí as máquinas agrícolas que, de longe, lembram lápides sepulcrais. A fumaça mais parece do frio intenso e não da ação dos motores.
Pode ser uma ilusão de ótica, mas essa ilusão ilustra muito bem a dura realidade do Brasil.
As tragédias no campo são uma rotina, como as recentes chacinas no Mato Grosso e Pará, e, quando as populações rurais, expulsas das roças violentas, vão para as cidades criar suas favelas, encaram a violência cada vez maior.
As classes populares vivem um drama que ficará pior quando institucionalizado pelas reformas e pela terceirização.
Quando os problemas relacionados ao descaso dos patrões serão vistos como "soluções" e medidas antes irresponsáveis passarão a ter status de leis.
Daí a preocupação com a alegria de pessoas de classe média "felizes demais" num momento tão frágil e arriscado que vive o Brasil.
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