Em dois episódios, mais uma luta por protagonismo histórico.
Na Câmara dos Deputados, estava em pauta a votação da PEC que estabelece eleições diretas no caso de vacância do presidente da República.
A base aliada do governo Michel Temer, dominante na casa legislativa, já tinha colocado a PEC das Diretas, proposta de autoria de Miro Teixeira (REDE-RJ), como pauta secundária.
Aí tentou, na tarde de ontem, atrapalhar os debates da Comissão de Constituição e Justiça quando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, iniciou a sessão, o que paralisa os trabalhos das comissões.
Maia é braço-direito do presidente Michel Temer, e defende a realização de eleições indiretas se o temeroso presidente tiver que deixar o mandato.
A oposição a Temer tentou reverter a situação, mas a votação foi adiada para as 10 horas da manhã de hoje.
A ideia dos aliados de Temer é empurrar com a barriga a PEC das Diretas até ela ser reprovada ou, ao menos, engavetada.
O Legislativo quer o protagonismo na escolha do sucessor de Michel Temer e evitar a eleição de algum progressista pelo voto popular.
Outro episódio foi a divulgação, pela Polícia Federal e sob ordens da Procuradoria-Geral da República, de um grampo telefônico de uma conversa do jornalista Reinaldo Azevedo com a irmã de Aécio Neves, a empresária Andrea Neves.
Conhecido por seu reacionarismo, Reinaldo Azevedo estava se aproximando do PSDB.
Ele estava comentando com Andrea que considerava "nojenta" uma reportagem da revista Veja sobre Aécio.
Era sobre a acusação de que o empresário Alexandre Accioly teria emprestado uma conta para Aécio receber propina da Odebrecht.
Reinaldo, sabe-se, era até pouco tempo articulista da Veja e comentarista do Jornal da Manhã da Jovem Pan (AM e FM), na seção "Os Pingos nos Is".
Com a divulgação do grampo, ele pediu demissão dos dois veículos. Ele também tem coluna no jornal Folha de São Paulo.
A divulgação de grampo é considerado abusivo por especialistas, mas Reinaldo Azevedo havia defendido os grampos de gravações de conversas de Lula e Dilma.
Mas a situação do Brasil é esta, a plutocracia brigando pelo protagonismo.
As pessoas apoiaram as ações da Polícia Federal, do Poder Judiciário e do Ministério Público contra Lula e Dilma Rousseff, acreditando neste suposto "combate à corrupção" e acabaram vendo surgir monstros.
A situação hoje se tornou instável porque há uma briga de protagonismo que cria uma luta fratricida entre os plutocratas.
De repente, o PSDB perdeu a imunidade e Aécio Neves, que processou a chapa Dilma-Temer recusando a reconhecer sua vitória, queria traçar seu caminho para a Presidência da República, mas o mineiro viu seu maior sonho lhe escapar das mãos.
Pior: foi afastado do mandato de senador e perdeu a presidência nacional do PSDB.
Reinaldo Azevedo já estava brigado com a ex-colega Joyce Hasselmann, que virou adepta de Jair Bolsonaro, outro acusado de envolvimento com esquemas de propinas, como Furnas e JBS.
Por trás disso, evidentemente, está o protagonismo de Rodrigo Janot, que, de repente, desistiu de blindar os plutocratas políticos.
Por outro lado, temos Rodrigo Maia querendo ser o protagonista do processo indireto de sucessão de Michel Temer, caso ele não tenha seu mandato salvo.
E isso sob a desculpa de obedecer a Constituição que, quando agrada os plutocratas, é respeitada, mas, quando desagrada, é mutiliada em PECs maldosas, como a dos gastos públicos.
Infelizmente, temos forças elitistas querendo disputar o triunfo histórico à revelia do povo.
E isso só vai trazer mais crises, não bastasse a gravidade da crise que veio desde 2016.
Evidentemente, vai haver o efeito dominó e a mídia já começa também a revelar a corrupção e o tendenciosismo dos plutocratas.
Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi vivem seu inferno astral, mas blindados como Merval Pereira também não escondem sua aflição.
É uma briga de lobo contra lobo, pela disputa de quem será o "maior herói" diante dessa crise toda.
E o povo assiste a esse triste espetáculo tendo apenas a solução dos protestos nas ruas.
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