Antigo herói da luta contra a ditadura militar, José Dirceu teve anunciado o habeas corpus, decidido por votação ontem pelos ministros do Supremo Tribunal Federal.
Os ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes decidiram pela sua soltura, enquanto Edson Fachin e Celso de Mello optaram para mantê-lo preso. Foram três votos a dois.
A situação deve ser tomada como cautela.
Ultimamente, Supremo Tribunal Federal e Ministério Público andam se desentendendo.
As disputas por supremacia e protagonismo político fazem com que, de repente, interesses de Gilmar Mendes e Sérgio Moro ou Deltan Dallagnol entrem em colisão.
A Justiça quer obter os triunfos que antes os políticos obtiveram.
E a soltura de José Dirceu, sob o consentimento estranho de Gilmar Mendes, é algo que merece um debate.
Os fatos recentes que apresentam aparentes vantagens aos petistas não podem representar uma vitória potencial, porque a situação do Brasil é indelicada e imprevisível.
Já houve vídeo no YouTube clamando por "intervenção militar" ao noticiar a soltura de Dirceu.
Além disso, o juiz midiático Sérgio Moro, da "República de Curitiba", estuda alternativas para manter Dirceu sob "custódia".
Uma delas é o uso de tornozeleiras. Também não está descartada a prisão domiciliar.
Dirceu está preso desde 03 de agosto de 2015, acusado de "corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa" pelo esquema da Lava Jato.
É a segunda prisão de Dirceu, pois em 1968 ele foi um dos detidos pela polícia numa operação surpresa para reprimir o Congresso da UNE naquele ano.
Foi solto porque estava entre os presos políticos a serem trocados pela soltura do embaixador estadunidense Charles Elbrick, sequestrado por um grupo de guerrilheiros, em 1969.
Dois deles se destacaram depois como jornalistas, Fernando Gabeira e Franklin Martins.
Mas Gabeira mudou para o outro lado, sendo o mais surpreendente caso de esquerdista rumando para a direita. Recentemente, Gabeira apareceu ao lado de militantes do Movimento Brasil Livre.
Franklin Martins foi para a Globo mas não sucumbiu à direita e pôde depois fazer parte da equipe dos governos Lula e Dilma, e integrar os quadros da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), até ser um dos demitidos pelo presidente Michel Temer.
Dirceu foi ao exílio, alterou sua aparência e, na volta ao Brasil, se destacou como um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores.
Ultimamente, Dirceu é tão odiado quanto Lula e Dilma Rousseff pelos oposicionistas de direita.
A soltura, mesmo justa - Dirceu foi preso sob acusação sem provas - , causa um profundo ódio naqueles que não podem ver na frente a combinação das letras "P" e "T".
Juntos, Dirceu, Dilma e Lula podem rearticular a volta deste último ao Governo Federal.
Será bom para as forças progressistas, mas para a truculenta direita será péssimo e há o risco dela reagir com brutalidade.
Não aceitaram Dilma Rousseff no segundo mandato e sabotaram até ela ser expulsa do poder.
O que podemos fazer é tomar cautela e continuar com as manifestações contra a plutocracia.
A situação do Brasil está insegura demais para qualquer perspectiva.
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