Radialistas com o lápis na mão e praticando opinionismo, a comentar até sobre o que não entendem.
Empresários de rádio dizendo que suas emissoras só foram feitas para o "cidadão".
Jornadas esportivas tentando reproduzir, em Salvador, o fanatismo futebolístico que toma conta do Rio de Janeiro, apenas conseguindo fraco resultado.
Jornalistas que se acham "líderes da opinião pública" se dizendo que fazem "prestação de serviço".
No conteúdo, debates maçantes e pachorrentos sobre administrações municipais, dirigentes esportivos e outras banalidades, em pelo menos duas horas de duração.
Comunicadores de rádio que se comportam como se fossem dublês de prefeitos, como se a função do radialista fosse governar um município.
Quem acha que o baronato midiático, em Salvador, Bahia, se limita à Rede Bahia, está enganado.
A Rede Bahia é abertamente conservadora, mas, na televisão, ainda há o tendenciosismo das concorrentes, sobretudo TV Bandeirantes.
Na imprensa escrita, há vezes que a Tribuna da Bahia tenta se aproximar, em conservadorismo, no Correio da Bahia.
Mas o grosso do conservadorismo está nas FMs que investem nos tediosos "programas de locutor".
Geralmente são rádios politiqueiras: Salvador, Tudo, Piatã, Itapoan, e as noticiosas CBN e Band News, que envolvem rede, e a "progressista" Metrópole.
De manhã, overdose de informação para quem ainda acorda com sono e com tanto blablablá que dá vontade de atirar o rádio pela janela.
Opinionismo pedante, comentários tendenciosos, divagações sobre o dirigente do Bahia ou do Vitória, overdose de informação como se o rádio achasse que pode carregar o mundo dentro dele.
Sabe-se que a Internet há muito roubou a abrangência do rádio e tornou a instantaneidade um mito relativo.
Hoje a disputa prioriza quem dá melhor uma notícia, porque muitas vezes a notícia de primeira mão chega confusa e superficial.
E rádio FM, sinceramente, não substitui um livro ou um jornal impresso. Não se lê rádio FM, ela é uma outra mídia.
Mas o problema não é só a overdose de informação dada de forma pachorrenta e entediante, havendo também o problema ideológico.
Quando a hoje senadora Lídice da Mata, do grupo que faz oposição ao presidente Michel Temer, era prefeita de Salvador, a "panelinha" de FMs "AnêMicas" (elas adotavam, ainda que parcialmente, programação tipo rádio AM), pegava no pé dela.
Essas FMs é que faziam oposição a Lídice.
Seus donos eram os barões da mídia, ou, talvez, baronetes e viscondes, que ao longo dos anos brincavam de fazer jornalismo e mediam a qualidade da informação pela extensão do tempo.
Todos "filhos" de Antônio Carlos Magalhães, parlamentares que ganharam rádios de presente como prêmio por se aliarem ao chefão baiano, então ministro das Comunicações do presidente José Sarney.
Entre eles, o ambicioso Mário Kertèsz, que hoje se diz "esquerdista", mas agiu para destruir um histórico jornal de esquerda, o Jornal da Bahia, reduzindo-o a um tabloide policialesco.
Teve históricos nada progressistas: político oriundo da ARENA, "filhote da ditadura", afilhado de ACM e apoiador de FHC, em troca de uma dispensa da transmissão do programa A Voz do Brasil.
Mas o "astro-rei" da Rádio Metrópole anda pegando carona eventualmente nos esforços do ex-presidente Lula para reabilitação política.
Embora relativamente celebrada pelas forças progressistas, a entrevista de Kertèsz a Lula é mais uma apropriação do dublê de radiojornalista aos movimentos de esquerda na Bahia.
Ser "dono das esquerdas" é um cacoete que Kertèsz contraiu há uns trinta anos, quando tentou apagar sua reputação de "filhote da ditadura".
Ele tenta obter protagonismo com Lula, forjando com seu grupo Metrópole - que também tem revistinha gratuita (o que soa um tanto oportunista) - uma "mídia de esquerda" para evitar que a mídia de esquerda cresça na Bahia.
Daí que, na Bahia, se tem aquele discurso de "líder de opinião": o jornalista que "analisa os fatos", o veículo que mostra "a verdade da notícia", radialistas que dizem personificar a "opinião pública", comunicadores que viram dublês de prefeitos etc.
Tudo isso é feito para a opinião pública ser apropriada por uma meia-dúzia de barões da mídia e seus porta-vozes.
As rádios FM, incluindo a Metrópole, fazem pior do que a Rede Bahia no que se diz ao tendenciosismo midiático. A Rede Bahia mais parece um leão cansado e doente.
O resto é que é composto de "donos da opinião pública" que vendem uma imagem de "progressista" que, em São Paulo, uma parcela da mídia reacionária tentou vender.
Como a revista Isto É, por exemplo, que hoje está com um reacionarismo ainda mais neurótico que a Veja.
São Paulo engoliu a ciranda dos "donos da opinião pública" que abriu caminho para os urubólogos a definir quem é que deve ou não presidir o país.
De sub-prefeitos eletrônicos a cabos eleitorais de presidenciáveis plutocratas é um pulo.
Mas a Bahia que começa a se livrar do fardo do coronelismo, que no Rio de Janeiro tornou-se uma novidade, começa a se vacinar contra os barões da mídia e os senhores da opinião.
Ficará difícil até para as FMs baianas mais tagarelas comprarem audiência em estabelecimentos comerciais, de postos de gasolina a lojas em shopping center, para fingir que estão em alta. Principalmente durante os jogos de futebol.
Até porque, em dado momento, o baiano se irrita e reclama. Estabelecimentos comerciais não são bancadas de estádio. Se o lojista quer ouvir transmissão esportiva, que vá para um estádio de futebol.
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