O Partido dos Trabalhadores se envolveu ontem em uma polêmica grave que pode botar tudo a perder.
Embora com boas intenções, parte dos políticos do PT resolveu se solidarizar com Aécio Neves.
Sabe-se que Aécio livrou-se de ser preso, mas o STF manteve o pedido de afastamento e a proibição do senador de sair à noite, o que rendeu piadas de que perder noitadas era pior do que ser preso.
O parecer sobre o caso do senador foi adiado para a próxima semana.
O PT reagiu à atitude do STF, defendendo que o Senado é que avalie o caso do tucano mineiro.
A ideia era defender o cumprimento da lei, reprovando a ordem de afastamento do senador mineiro pelo Supremo Tribunal Federal e deixando a questão nas mãos do Conselho de Ética do Senado Federal.
O PT entrou com representação contra Aécio no Conselho de Ética, esperando que o Senado analisasse a hipótese de afastamento do senador, um dos denunciados em delações de Joesley Batista, da JBS.
O problema é que o PT assumiu, sem querer, um grande pepino.
Vamos lembrar, em primeiro lugar, que Aécio Neves foi derrotado pela petista Dilma Rousseff nas eleições de 2014.
Inconformado, Aécio decidiu entrar em processo contra a chapa Dilma-Temer, que, recentemente, foi arquivado, em favor de Temer.
Todo esse rolo deu na derrubada do governo Dilma, em 2016.
Quando Temer tomou posse, ainda como interino, Aécio Neves parecia um animador de televisão de tão sorridente e eufórico.
Aécio Neves foi o artífice do golpe político de 2016 e co-autor da "Ponte para o Futuro", aparentemente elaborada por Michel Temer, já em 2015.
A "ponte", na verdade a "pinguela para o passado", teve como outro co-autor o ex-deputado Eduardo Cunha, através de suas "pautas-bombas".
Com esse projeto, temos o cenário político e social medonho de hoje.
No qual uma quadra de ginástica franqueada que usa a marca SmartFit foi utilizada para exercícios de soldados do Exército.
Uma moça que fazia exercícios no local reclamou que, certa vez, chegou ao lugar e ouviu tocarem o Hino da Bandeira.
O hino é conhecido pelos versos: "Salve lindo pendão da esperança / Salve símbolo augusto da paz / Tua nobre presença à lembrança / A grandeza da pátria nos traz".
A rede SmartFit discorda da iniciativa da franqueada, reprovando exercícios militares, e havia prometido notificar o estabelecimento sobre a questão.
Vivemos um país louco, em que o general Antônio Hamilton Mourão recebe manifestações de apoio, que não são poucas.
País em que uma escola de Belo Horizonte exige do professor a ser contratado que ele não seja "comunista".
País em que um considerável número de curitibanos, sobretudo jovens, querem a ditadura militar.
Aí o PT resolve protestar contra a decisão do STF em afastar Aécio Neves, deixando a decisão para a Comissão de Ética do Senado.
Só que o Senado hoje atua em favor da plutocracia e vai livrar Aécio de qualquer punição.
Isso causou uma grande polêmica e o PT acabou, por acidente, apoiando Aécio Neves.
A grande mídia caiu em delírio e Aécio, o "anel apertado" da centro-direita brasileira, passou a ser visto, ainda que equivocadamente, como um "petista enrustido".
São interpretações inconsistentes, pois o próprio Aécio definiu o PT como "organização criminosa".
Mas a grande mídia hoje não está aí para coerência, e tudo que ela quer é deixar o PT enfraquecido para não poder vencer em 2018.
E, de preferência, com o ex-presidente Lula fora do páreo na nova disputa.
A mídia e os reaças na Internet esculhambaram a atitude, decidida pela senadora petista Gleisi Hoffmann, que enviou a representação contra Aécio no Conselho de Ética.
O silêncio de Dilma Rousseff também rendeu chacotas dos reacionários de plantão.
Diante disso, o ator José de Abreu, esquerdista convicto, manifestou sua decepção em relação à atitude do PT.
“Desisto. Se o PT for de novo ‘republicano’, desisto. Não estamos vivendo momentos normais”, escreveu o ator, na sua conta no Twitter.
Outro comentário dele:
"Não concordo com a decisão do PT. Esse republicanismo levado ao paroxismo já nos brindou com o golpe. Lula prestes a ser condenado... desisto".
"Duvido que o PT mantenha essa posição suicida até a próxima 3a feira. Duvido".
A atitude dividiu as esquerdas, entre legalistas, que querem que se respeite a tarefa do Conselho de Ética, ainda que a favor de um dos artífices do golpe, e os revanchistas, que querem manter a decisão pela arbitrariedade do STF.
Isso acabou aumentando o desgaste do PT na opinião pública, por mais que se esforce em agir conforme a lei.
Independente dos lados da polêmica, o efeito acaba sendo danoso para o partido.
A direita está fazendo uma pressão violenta para se manter no poder e botar um liberal para ser eleito em 2018.
A onda conservadora revela elites estúpidas, burras, arrogantes, grotescas e violentas.
Mas elas tem, sobretudo, uma grande carta nas mangas: uma grande quantidade de dinheiro para financiar qualquer coisa que proteja seus interesses particulares.
O episódio do PT no caso Aécio Neves só reforça as perspectivas sombrias acerca do futuro de nosso país.
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