Uma coisa é criticar o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, dizer que ele não é o tipo de político que aprova etc.
Numa democracia, não há problema algum uma parcela de brasileiros dizer que não vai votar em Lula, se ele fosse candidato à Presidência da República.
Até aí, tudo bem. Mas o que se faz contra Lula vai além da oposição garantida pela Constituição, mas uma campanha caluniosa, um linchamento, uma truculência ao arrepio da lei.
A semana foi marcada por um processo que, no xadrez político, foi um complicado xeque para o ex-presidente, que daqui a poucos dias irá depor novamente para o midiático juiz Sérgio Moro.
Houve o lançamento do filme Polícia Federal - A Lei é Para Todos (sic), de Marcelo Antunez.
Nele o excelente ator, mas de orientação conservadora, Ary Fontoura, ao fazer um Lula ranzinza e rabugento, só nos fez sentir saudades do vampiro que ele interpretou em Saramandaia.
Houve a denúncia de Rodrigo Janot contra Lula, Dilma e outros petistas, acusados de formar uma "organização criminosa".
Houve o depoimento do ex-ministro Antônio Palocci à Operação Lava Jato que, no entanto, foi contra seus antigos amigos e aliados, atingindo gravemente a reputação de Lula.
E houve uma gravação fake, com um suposto diálogo de Lula com o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão, que supostamente estaria no outro lado da linha do celular.
O áudio tem qualidade profissional, mas o "Lula" que aparece é grosseiramente caricato, fazendo xingações, palavrões e ameaças.
Internautas suspeitam que o áudio tenha sido tramado pelo Pânico da Pan, e o Lula teria sido imitado pelo Márvio Lúcio, o Carioca.
O áudio é tão grosseiro que até a mídia reacionária, como Globo, Veja, Folha e Zero Hora, confirmaram que é uma farsa.
Sobre obras fake, nos lembramos de um caso muito delicado.
Houve um ilustre escritor brasileiro, prematuramente falecido, chamado Humberto de Campos.
Ele havia sido vítima de uma literatura fake que supõe que o escritor continuou lançando obras após sua morte.
Só que essas obras nem de longe lembram o estilo que Humberto desenvolveu enquanto estava vivo.
O problema é que seu usurpador, tido como "porta-voz dos mortos", é um conhecidíssimo ídolo religioso, já falecido e blindado pela Rede Globo de Televisão.
Ele simboliza um paradigma de "bondade" ou "caridade" que a sociedade ultraconservadora defende e que nunca trouxe desenvolvimento social pleno para a população.
Mineiro como Aécio Neves, o usurpador também havia sido beneficiado pela seletividade da Justiça, há mais de 70 anos. Saiu impune no processo sobre Humberto de Campos.
O usurpador ainda armou, há 60 anos, um evento "filantrópico" para seduzir um herdeiro de Humberto, com o mesmo nome do pai e que, numa foto, aparece até ao lado de Hebe Camargo.
O evento "filantrópico", definido, em vários textos, como mero Assistencialismo, era sempre feito numa cidade mineira, mas no caso ela foi feita para tentar abafar qualquer tentativa de recorrência judicial da família de Humberto.
O usurpador é uma espécie de Lula pelo avesso. É tão blindado que é considerado "santo" e, durante muito tempo, enganou até mesmo as forças progressistas e os movimentos sociais.
Certa vez, o SBT que empregou a neofascista Rachel Sheherazade e apoia o governo Michel Temer, tendo até problemas com a propaganda das "reformas", elegeu o usurpador "Brasileiro do Ano".
Os títulos originais de Humberto de Campos saíram de circulação nas livrarias. Recentemente houve um volume especial de obras completas, mas também já saiu de catálogo.
Isso deve ser para evitar que leitores comparem o Humberto de Campos real com o fake que continua saindo livremente nas livrarias.
E isso nos faz pensar o quanto a moral que prevalece no Brasil é confusa, irregular.
As leis marcadas de puro tendenciosismo, seletividade e parcialidade. A campanha difamatória contra um político que não representa os interesses das elites.
Bom é o que o usurpador fez, fazendo caridade fajuta por pura promoção pessoal, que a mídia venal exagera na propaganda e transforma o ídolo religioso num "semi-deus".
E suas obras fake que jura "virem do além" são "autênticas" apenas porque falam coisas banais como "somos todos irmãos".
Podem fugir dos estilos de cada autor, só são autênticas pelas palavras e frases agradáveis que apresentam.
Se eu escrever um livro me passando pelo saudoso Paulo Silvino e enfiar palavras e mensagens do tipo "sejamos fraternos" e "vamos promover a paz", a obra se torna "autêntica" por isso?
Para muitos, infelizmente, sim. E a farsa pode durar anos, iludir familiares, ser livremente publicada e difundida. Isso é assustador.
Na verdade, muitos acham obras fake autênticas pela catarse que provocam.
Se são obras religiosas com palavras dóceis que trazem lágrimas, ou falsas falas de petistas espumando raiva e rancor, tudo é "verdadeiro" não porque realmente apresente caraterísticas verdadeiras.
Tudo é "verdadeiro" porque agrada seu público, garante a catarse do momento.
E esse clima em que a coerência é jogada na lata de lixo, que vemos toda a carga de campanha contra Lula.
Neste fim de semana, as três revistas conservadoras, Isto É, Veja e Época, vieram com alguma manchete contra o ex-presidente.
Isto É, no topo, não a matéria de capa, mas a notícia secundária: "Palocci destrói Lula".
Veja, em ilustração que põe Lula, Palocci e até Temer como "alvos" da Lava Jato: "Enfim, cai o silêncio petista".
Época, com um fundo vermelho e a imagem bicromática de Lula e Palocci abraçados: "A palavra do companheiro".
Completando toda a semana anti-Lula, foram verdadeiras bombas jogadas depois que o ex-presidente encerrou sua excursão pelo Nordeste.
A ideia é enfraquecer Lula de forma que nem os petistas possam escolhê-lo como candidato à Presidência da República em 2018.
O juiz Sérgio Moro já estabeleceu um timing para análise de depoimentos finais e dos documentos acumulados e, ainda este ano, pretende dar o julgamento final da Operação Lava Jato.
A ideia da plutocracia é barrar Lula para 2018, permitindo que o enfraquecimento das forças de esquerda favoreça a ascensão de um político conservador, mas moderado.
É muito provável que não sejam Aécio Neves, João Dória Jr. nem Jair Bolsonaro. E nem mesmo Luciano Huck.
Talvez seja um político "novo", com uma imagem "limpa" que não inspire uma campanha desgastante nas mídias sociais.
Lula é um grande líder popular, mas, infelizmente, existe uma pressão muito grande contra ele, movida por zilhões de dólares.
Um investimento muito caro, para impedir que Lula seja eleito e reverta as reformas amargas do governo Temer.
As classes populares têm um forte risco de perder seu protagonismo e, na melhor das hipóteses, serão apenas meros figurantes do espetáculo elitista que pretende e se esforça para se consolidar no país.
Comentários
Postar um comentário