O Brasil precisa rever seus conceitos culturais.
Mesmo entre as esquerdas, existem abordagens conservadoras, estereotipadas, juízos de valor severos, visões paternalistas diversas.
O hedonismo forçado que faz com que mulheres acabem, mesmo sem querer, sendo reféns do machismo, como no caso da embriaguez e do sensualismo, é um exemplo disso.
Isso é compreensível, porque as abordagens culturais que prevalecem na esquerda mainstream são difundidas por gente de classe média, com seus preconceitos elitistas, mesmo escondidos sob o "combate ao preconceito".
Daí a estranha apologia à embriaguez e do tabagismo femininos, como se isso ajudasse na valorização do feminismo.
Ambos os hábitos, socialmente condenáveis e danosos à saúde, são tidos como "libertários" e sua reprovação é tida como "moralismo machista".
No caso do tabagismo, é mais grave no sentido do dano à saúde, vendo os óbitos repentinos de mulheres no começo de seus 60 anos ou talvez menos, vítimas de câncer.
Mas a embriaguez também nada tem de libertária, se percebermos três aspectos.
Primeiro, porque contribui para o surgimento e agravamento de certas doenças.
Segundo, porque alimenta a indústria de cerveja que fez de Jorge Paulo Lemann o homem mais rico do Brasil.
Terceiro, porque alimenta um mercado que, na publicidade, explora a mulher de forma pejorativa, como um objeto sexual.
Infelizmente, como o Brasil ainda não consegue resolver o problema da "sociedade do espetáculo", que o Primeiro Mundo vê como um problema e aqui, como a salvação da lavoura, muita coisa ainda há que ser contestada.
Aí entra a questão da tatuagem. Um modismo que virou chatice no Estado do Rio de Janeiro.
Como no piercing, a tatuagem tem uma falsa imagem de algo "libertário" e "identitário".
Na prática, porém, os dois adereços se tornam tão banalizados que o sentido "transgressor" acaba sendo posto em xeque.
O piercing já foi um ponto irônico de mulheres que mostravam demais os corpos, mas escondiam seus umbigos.
Era um item obrigatório para as mulheres. Hoje não é mais.
Agora o problema da vez é a tatuagem, para mulheres e homens.
A tatuagem virou um grude incômodo que dá um aspecto de sujeira em corpos mais bronzeados.
Embora se use o pretexto da "expressão pessoal" pelo corpo, a tatuagem dá um ranço de "gado bovino marcado" nas pessoas que a utilizam.
Apenas poucas pessoas dão algum sentido positivo na tatuagem. Uma Luíza Brunet, uma Carol Castro, até uma Luana Piovani não ficou mal com suas tatuagens.
Mas as musas mais "populares" mostram que querem forçar a barra com falsa diferenciação.
Tatuar o corpo nunca foi visto como algo libertário ou transgressor.
Nos EUA da década de 1940, era associado a brutamontes reacionários e ao submundo mafioso.
No Brasil de hoje, que parece ser um remix amalucado dos EUA dos anos 1940, a tatuagem tão rapidamente se associou a um contexto ao mesmo tempo brega e reacionário.
As "musas populares" cometem o erro de tatuarem os corpos, achando que isso lhes traria "mais atitude".
Pessoas em geral que poderiam se aprimorar culturalmente preferem gastar o dinheiro com tatuagem.
E ainda mais em tempo de crise, quando se deveria guardar o dinheiro para coisas mais importantes.
Pelo menos as pessoas tivessem pensado em usar tatuagens removíveis, mas a obsessão em ver um modismo para além do próprio modismo os fez investir em tatuagens permanentes. E isso é mau.
Podem anotar. Daqui a dois, três anos, as filas de pessoas que procurarão as clínicas para remover tatuagens, no maior desespero.
Hoje, essas pessoas duvidam de tudo isso, se arrogando de que suas convicções pessoais "são para sempre".
Mas, daqui a pouco tempo, elas terão vergonha e correrão para apagar as tatuagens que achavam preservar com orgulho.
E, na pressa, muitos ainda as removerão deixando cicatrizes ou arranhões.
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