Por um bom tempo, as iniciais PT deixaram de ter a hostilidade habitual de uma boa parcela dos brasileiros.
Elas são as iniciais de Pete Townshend, o vigoroso compositor e guitarrista do The Who, que com seu habitual parceiro e cantor Roger Daltrey e outros mais recentes, aqueceu a noite de sábado do Rock In Rio 2017.
Com 72 e 73 anos, respectivamente, Pete e Roger são remanescentes da formação original da banda londrina que foi a terceira a se destacar na Invasão Britânica de 1964-1965.
Os demais membros, o baterista Keith Moon e o baixista John Entwistle, faleceram, respectivamente, em 1978 e 2002.
Mas os dois substitutos, Zak Starkey e Pino Paladino, conseguem compensar a ausência e se tornaram alunos exemplares dos falecidos músicos.
Zak, sobretudo. Filho de Ringo Starr, ex-beatle que havia sido grande amigo de Moon além de ter atuado, com ele, no 200 Motels de Frank Zappa, fez este padrinho do rapaz.
Moon deu uma bateria para Zak no aniversário de 11 anos e este resolveu aprender o instrumento. Apesar de ser filho de Ringo, Zak desenvolveu um estilo mais próximo de Moon.
Isso garantiu a atual posição, fazendo a sua parte na performance entrosada da banda.
Além de Pino e Zak, o irmão de Pete Townshend, o guitarrista Simon Townshend, também toca na banda.
Simon tem uma carreira solo na qual seu primeiro álbum, Sweet Sound, de 1982, tocou muito na Rádio Fluminense FM.
Faixas como "So Real", "I'm the Answer" e "On the Scaffolding" iam direto na programação normal da saudosa rádio niteroiense.
O Who manifestou um som poderoso que certamente deixaria Moon e Entwistle honrados.
O repertório é cheio de clássicos. Veja o cardápio:
I Can’t Explain
Substitute
Who Are You
The Kids Are Alright
I Can See for Miles
My Generation
Bargain
Behind Blue Eyes
Join Together
You Better You Bet
I’m One
5:15
Love, Reign O’er Me
Amazing Journey
Sparks
Pinball Wizard
See Me, Feel Me
Baba O’Riley
Won’t Get Fooled Again
O público, segundo declarou Pete Townshend numa entrevista, estava cansado mas cantava junto as músicas.
A banda britânica foi a mais importante do festival, embora lembremos de outras boas bandas como Tears For Fears e Red Hot Chili Peppers.
Mas é inegável que a banda que nos anos 1960 melhor simbolizou a cultura mod foi o ponto máximo do festival.
Ver dois músicos com mais de 70 anos esbanjando energia e mostrando o melhor de seus talentos para o público é bem gratificante.
Juntamente com os Rolling Stones e Paul McCartney solo, os dois músicos do Who são testemunhas daqueles anos intensos em que os roqueiros ingleses conquistaram os EUA.
Isso numa época em que o Brasil tinha a ditadura militar fazendo um barulho que não se podia ressoar em outros testemunhos.
Hoje temos um golpe político, sem fardas, embora há poucos dias um general de posição subalterna falou em intervenção militar, extasiando a juventude reaça que ainda comemorava a derrubada de uma exposição LGBT.
Curiosamente, os roqueiros preferidos da geração MBL, o Guns N'Roses, teve uma performance fraca vindo depois do Who.
Axl Rose estava desafinado, longe de ser o símbolo da geração "coxinha", para a qual, na sua pequenez, o Guns é o maior paradigma de "rock clássico".
Para esse pessoal, a "cultura rock" se limita a um mundinho pequeno e risível: Rock Bola, Danilo Gentili, Mamonas Assassinas, Chaves / Chapolin, e a barulheira dos anos 90.
Eles não iriam compreender a força do Who, que está se despedindo dos palcos.
O grupo continuará lançando discos, dando mais contribuições para o rock.
Daí que, quem foi ao concerto do Who, no Rock In Rio 2017, teve uma noite inesquecível.
Em quase duas horas, grandes clássicos do rock foram apresentados ao grande público, sobretudo a jovens que nunca puderam conhecer suas músicas, pela falta não só de rádios de rock, mas sobretudo de rádios realmente de rock, com pessoal especializado e sem locutores poperó.
A vinda do Who ao Brasil foi bem sucedida, e isso foi um consolo diante dos rumos tão sombrios em que vive o Brasil.
O brilho do Who irradiou sobre as mentes dos roqueiros num Brasil em colapso.
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