Só mesmo num Rio de Janeiro cada vez mais provinciano e "coxinha" para dar valor a uma rádio medíocre como a Rádio Cidade.
Transformando a jaqueta de couro numa camisa de força, a dublê de rádio rock, que sempre se ressentiu de não ter tido o mesmo prestígio da Fluminense FM, tem por sorte o lado flanelinha de muitos especialistas em música e, em particular, em rock.
Órfãos da Flu FM, exilados na Maldita 3.0, na Cult FM e o pessoal da Kiss FM Rio e, no passado, o caso da Internacional Magazine, todo mundo passando pano na Rádio Cidade e sua canastrice eletrônica.
Claro, o pessoal sempre cobiçou aqueles horários para arrendamento no fim de noite, quando rádios pseudo-roqueiras reservam espaço para programas autênticos de rock, só para fazer nome.
Afinal, na programação diária, essas rádios comerciais "de rock" são uma bosta, com locução animadinha, parada de sucessos - o que torna o repertório musical altamente previsível - e ainda um nome banal e bobo como "Rádio Cidade".
Os programas de fim de noite, os únicos reservados aos especialistas, só servem para fazer nome, para arrancar, daquele colunista musical entendido da imprensa, algum elogio. Ele ouve esse punhado de programas e finge que a rádio é essa maravilha o tempo todo.
Mas aí tivemos, por um breve período, entre 2006 e 2012, a excelente experiência da OI FM, que só teve o azar de carregar uma marca sem muita credibilidade, conhecida por problemas no serviço da telefonia celular.
Mas a OI FM estava a anos-luz à frente da Rádio Cidade, não por esta tocar rock velho - a Cidade estava mais calcada nos anos 1990 e sua atitude tem menos a ver com rock velho e tem mais a ver com Jovem (Pan) - , mas por tocar um pop diversificado e contemporâneo.
Se a Rádio Cidade vinha um um radicalismo pseudo-roqueiro forçado, burro, fundamentalista e arrogante, postura que anda valendo hoje, a OI FM respirava renovação.
A OI FM era capaz de tocar de Beyoncé Knowles a Kaiser Chiefs sem soar dispersa, podia ter um programa de rock alternativo e outro de pop eletrônico e se manter na mesma linha.
Além disso, a OI FM - que, além de irradiar nos 102,9 mhz cariocas, atuava em outras capitais - antecipava o som futurista que hoje conhecemos como epidemic sound.
O epidemic sound, na verdade, não é um estilo, mas uma atitude que envolve várias tendências.
Vem desde influências do jazz rock eletrônico até o som eletrônico de nomes como o DJ Syn Cole, cujo sucesso "Got the Feeling", com uma cantora chamada Kirstin, muito usada em canais de busologia.
Há nomes do rock como Empire of the Sun, MGMT e Foster the People que surgiram sob essa perspectiva, ainda não sendo exatamente pós-rock, mas também diferindo do rock tradicional. Digamos que esses nomes façam um "rock milenial", embora não sei se esse nome vale para eles.
Outro caso, que fez sucesso no Brasil, é do cantor-compositor belga radicado na Austrália, Gotye, que com a cantora-compositora neozelandesa Kimbra, gravou "Somebody That I Used To Know".
É claro que, para correr contra o prejuízo, a Rádio Cidade "roqueira" tocou essa música do Gotye. Mas também a Jovem Pan e a Mix FM também tocaram.
Hoje sons que vão do "rock milenial", pós-rock, do neo-jazz rock, do lounge alternativo, do eletrônico contemporâneo etc fazem o principal cardápio do epidemic sound cuja amostra foi dada pela OI FM.
São sons mais arejados, sem o pseudo-messianismo da dance music da Jovem Pan e sem aquela coisa terrível do tipo "só o rock é que presta" daquele fundamentalismo forçado dos pseudo-roqueiros da dupla rockneja 89 / Cidade e seus arrogantes ouvintes.
A música respira livremente fora da órbita dos Tutinhas e Tatolas, dos Suritas e Morales da vida.
Comentários
Postar um comentário