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OPINIONISMO OU A OPINIÃO COMO MERCADORIA

 


Vendo as "novidades" da mídia empresarial, com William Waack tendo programa na versão radiofônica da CNN Brasil e Luís Ernesto Lacombe lançando o Opinião no Ar na Rede TV!, volto a uma antiga reflexão.


Não me sinto confortável quando a mídia empresarial enfatiza a "opinião" como o carro-chefe de seus programas.


Me sinto incomodado com a opinião transformada em "mercadoria", aquele pedantismo messiânico da "análise dos fatos", do "diagnóstico da notícia" e outras bobagens.


Me lembro da época em que a Aemização entrou com tudo nas FMs coronelistas de Salvador, Bahia, há 30 anos.


Para quem não sabe, a Aemização é quando as FMs enfatizam a programação falada e transmitem jornadas esportivas, elementos mais apropriados para o rádio AM.


Mas como os barões da mídia e o lobby da telefonia praticamente mataram a Amplitude Modulada, ninguém sabe mais o que é rádio AM nem o que é "Aemão de FM".


Naquela época, havia aquele blablablá dos "programas com opinião", dos "programas de locutor" cujos apresentadores se acham dublês de governantes, prometendo tapar buracos nas ruas, aumentar salários dos trabalhadores etc.


Era um porre ligar o FM em Salvador no começo dos anos 1990. E continuou sendo sempre assim. Locutores dando pitaco naquilo que mal conseguem entender, fazendo carinha feia no estúdio com lápis na mão, posando de "radiojornalistas".


O pior é que, quando vinha a vinheta da hora certa, quando se esperaria que se tocasse alguma música para dar uma pausa entre uma notícia e outra, havia mais blablablá, mais overdose de (des)informação.


E isso se tornou forte quando houve a "invasão AM" nas FMs de todo o Brasil, o que praticamente acabou com a Amplitude Modulada, há 20 anos, praticamente derrubando a segmentação da Frequência Modulada, hoje um feirão do jabaculê não só musical como esportivo e noticioso.


Lembremos que se fala em jabaculê como propina, corrupção, e não nessa forma eufemística que faz muita gente que arrisca um mershandising dizer "vou fazer o meu jabá".


Coisas do tipo das federações regionais de futebol que arrumam as pautas para as "resenhas esportivas" que são uma grande chatice.


Tive uma proposta de trabalhar como repórter, em 1999, no setor de esportes. Fui com meus pais e falei com um responsável pelo convite.


Ele me aconselhou a não trabalhar no setor, sabendo que eu sou um novato. Ficou subentendido que o chamado jornalismo esportivo é uma grande selva.


Escândalos envolvendo jabaculê e futebol estouraram em 2004 e 2008 com denúncias envolvendo rádios baianas como Salvador FM (do coronelista e, depois, dublê de radiojornalista Marcos Medrado) e Metrópole FM (do "astro-rei" Mário Kertèsz, eventual usurpador das esquerdas baianas).


Kertèsz quase morreu de infarto, ao ser denunciado no escândalo de 2008. Foi como uma confissão de que estava envolvido no propinoduto futebolístico em FM, mostrando que o jabaculê musical das FMs é fichinha diante da verdadeira "lama de várzea" que é a indigesta mistura de futebol e rádio FM.


E tudo isso faz parte desse mercado do "opinionismo", da opinião como mercadoria. E que, em Salvador, fez com que tudo que era político virasse dublê de radiojornalista, para seguir o fenômeno festivo de Kertèsz.


Aquele papo chato, de que "ninguém tem opinião, e só passa a ter quando passa a ouvir o programa do locutor ou apresentador tal". Claro que esse papo não é dito de forma explícita, mas essa é a ideia latente que mitifica esses programas de pretensos formadores de opinião.


E, na sua estreia, Opinião na TV, do bolsonarista Luís Ernesto Lacombe - que agora se diz "não-militante" - , teve baixíssima audiência.


Claro, não é como em rádio FM, quando dá para disfarçar a baixa audiência comprando sintonias em estabelecimentos comerciais.


Além disso, as emissoras de TV têm ação limitada nesse jabaculê público, e, sendo da Rede TV!, fica complicado Lacombe enfrentar o poder dos grupos Globo e Band na irradiação esportiva das televisões nos bares, restaurantes e alguns outros estabelecimentos comerciais, como barbearias.


E o "opinador" programa já começou mal. O âncora Lacombe interrompeu e contestou severamente opiniões da parceira Amanda Klein, também interrompida pelo outro parceiro, o ex-Jovem Pan Sílvio Navarro.


Já não foi suficiente o mico que é o programa O Grande Debate, da CNN Brasil, cujo único mérito é aquele colírio chamado Monalisa Perrone e sua beleza estonteante e sensual.


Afinal, só para fins de comédia para aturar os comentários ridículos de Caio Coppolla, "adevogado" e dublê de jornalista, e que certa vez foi cantor e guitarrista dos Mirandous, espécie de Oasis com dor de barriga.


Foi-se o tempo em que opinião, na mídia hegemônica, era visto como um "diferencial" num país dominado pela assepsia noticiosa do Jornal Nacional, há 35 anos.


Bóris Casoy, no TJ Brasil, parecia uma "novidade", e eu mesmo me empolguei com essa fase, na minha ingenuidade de rapaz de 17, 18 anos de idade.


Por ironia, Bóris Casoy, conservador de carteirinha e apoiador de Jair Bolsonaro, está saindo da Rede TV! com a chegada de Luís Ernesto Lacombe.


Afinal, a mercadoria "opinião" precisa renovar suas caras. 

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