Vejamos os episódios ocorridos desde a semana passada:
- Indicação, por Jair Bolsonaro, de Kassio Nunes para o Supremo Tribunal Federal, que declarou ter pós-graduação e pós-doutorado, respectivamente, nas Universidades de Corunha, na Espanha, e Messina, na Itália, alegações negadas pelas duas instituições, que só ofereceram cursos, nos casos respectivos, convencional tendo o aluno como ouvinte, e ciclo de seminários de quatro dias, ambos sem efeito de pós-graduação;
- Aposentadoria de Celso de Mello no STF e, também na mesma instituição, a decisão de Marco Aurélio Mello (sem parentesco com o outro) de soltar o criminoso André Oliveira Macedo, o André do Rap, do PCC (Primeiro Comando da Capital), expondo as falhas jurídicas da entidade que já foi considerada a maior instância jurídica do Brasil;
- Inauguração de uma filial da Havan em Belém, com aglomeração-monstro das pessoas e com o "veio da Havan", Luciano Hang, se comportando mais uma vez como o showman do evento, excitado com a submissão bovina dos que querem comprar os produtos medíocres da rede de lojas;
- Aglomeração-monstro também em boates da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, indiferentes às recomendações da pandemia.
Vejamos então alguns pareceres.
A indicação de Kassio Nunes irritou os bolsonaristas, tanto por ele ser considerado moderado para seus padrões hidrófobos, e pelo presidente Bolsonaro compactuar com o STF, que os bolsomínions desejavam ver extinto.
Kassio foi cotado porque no STF a aposentadoria de Celso de Mello abriu caminho para um novo nome, embora ele não fosse o favorito da lista tríplice apresentada ao presidente da República.
Bolsonaro parece preferir, agora, o "Centrão", que é a direita moderada do Legislativo federal, e o Judiciário, até para manter-se no poder mediante um aparato de "legalidade" e "moderação política".
A Veja comemorou dizendo que o Brasil "afastou o risco" de ruptura institucional. Prefiro ser cético quanto a este aspecto.
Até porque não dá para falar de "funcionamento das instituições" desde que os movimentos golpistas começaram a ser tramados em 2014.
Vamos a outro fato: Kassio dizendo que teve "graduações" que se revelaram inexistentes.
E isso num contexto que, no Brasil, é marcado por universidades que discriminam o senso crítico, achando que é "opinião".
Só aceitam, aqui, teses de pós-graduação que passam pano no tema abordado, desproblematizando a problemática, transformando-a em "patrimônio" fenomenológico.
Por esses padrões, se Umberto Eco fosse brasileiro e jovem nos últimos 25 anos, ele nunca teria diploma de mestrado ou doutorado, porque suas análises seriam consideradas "opinativas" e "sem fundamentação científica".
Porque "fundamentação científica" é passar pano numa problemática, quando muito apenas expondo, de forma neutra, pontos de vista conflitantes, para tudo dar no mesmo.
Não fosse meu blogue Mingau de Aço e seu bombardeio de textos questionadores, a intelectualidade pró-brega manteria sua santidade, canonizada na Internet, por um sem-número de páginas que vivem seus momentos flanelinhas, passando pano aqui e ali.
Hoje essa flanelização reflete na estranheza que parte da sociedade tem em relação ao meu impactuante livro Esses Intelectuais Pertinentes..., motivado pelo medo de muita gente ver caírem os mitos de tantos intelectuais badalados.
Imagine aquele leitor médio de Carta Capital ver caírem do Olimpo a "santíssima trindade" de "São" Paulo César de Araújo, "São" Pedro Alexandre Sanches e "Santo" Hermano Vianna?
Já lhes é de partir o coração a adesão de muitos "heróis" do "popular demais" ao bolsonarismo mais convicto e apaixonado!... Difícil "guevarizar" gente assim e tentar supor que "Festa do Apê" de Latino é inspirada em O Capital de Karl Marx.
Aliás, falando em festa, ou melhor, em "balada" (© Jovem Pan), tivemos mais uma amostra de aglomeração na vida noturna do Rio de Janeiro, depois do caso do Leblon.
Aglomeração total nas boates da Barra da Tijuca, por sinal reduto dos proto-fascistas que, em 2007, fizeram linchamento contra mim, justamente depois de criticar a gíria "balada" (© Jovem Pan).
O pessoal, que antes odiava acordar cedo para a vida, pelo jeito odeia acordar cedo para os cuidados com a pandemia.
Vai que alguém diz para esse gado humano para manter as restrições contra a Covid-19 e o pobre conselheiro ganha de presente um linchamento virtual, com sua caixa de mensagens transformada em arremedo de chat dessa milícia digital, que aos poucos dispara ameaças contra o inocente cidadão.
Mas a aglomeração também foi o tom da inauguração de uma filial da cafonérrima rede de lojas Havan, que não tem 0,001% sequer do antigo charme que fizeram as histórias de redes como a Mesbla, o Mappin e as Casas Sloper.
Tinha até mesmo rede de lojas de presentes Columbus, mais digna que o Baú da Felicidade e mais modesta, despretensiosa e atraente que a ridícula Havan, cuja arquitetura se encaixaria no conceito de kitsch de Umberto Eco.
E a franquia brasileira da estadunidense Sears Roebuck (que ainda existe no país de origem). E as Lojas Americanas não eram o caos das instalações que, pelo menos, se vê no Rio de Janeiro e Niterói.
Só mesmo a idiotização cultural que hoje vivemos, a qual enchia de orgulho e hoje envergonha a intelectualidade pró-brega, que "lava as mãos" pela campanha "contra o preconceito" que passou pano para a imbecilização, para permitir esse "sucesso todo" das lojas Havan.
E aí vemos o caso do Supremo Tribunal Federal, com a iniciativa de Marco Aurélio Mello de autorizar a soltura do criminoso André Oliveira Macedo, o "André do Rap".
Não é a primeira iniciativa envolvendo membros do PCC. Ricardo Lewandoswki, outro ministro do STF, mandou soltar um e recusou-se a soltar outro, ambos do mesmo grupo criminoso.
Em 2016, Lewandowski soltou Luís Fabiano Ribeiro Brito, o "Baixinho". O mesmo ministro, porém, ordenou que continuasse preso outro integrante, Francisco Tiago Augusto Bobo, o "Cérebro", em 2019.
Outro ministro do STF, Luiz Fux, ordenou a volta à prisão de André do Rap. Mas ele, ao ser soltou, sumiu logo em seguida. A medida causou atritos entre Fux e Marco Aurélio.
E isso faz o Brasil ficar inseguro, vulnerável em vários aspectos. O Intercept Brasil já alerta para o Rio de Janeiro virar um Estado miliciano e o Ceará virar reduto bolsonarista no Nordeste.
E o maior problema não é somente a "maioria silenciosa" correndo afoita para comprar na Havan nem o gado bolsomínion que curte as "baladas" (© Jovem Pan) nas praias e boates das capitais.
O maior problema são as esquerdas iludidas com esses episódios, achando que com eles Bolsonaro cai e as esquerdas voltam ao poder. E, o que é pior, vendo "marxismo" até em torta de morango.
E aí que o bolsonarismo se fortalece, com esquerdas cada vez mais ingênuas.
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