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KARL MARX NÃO VIVEU PARA ESCREVER SOBRE CULTURA

 

Na boa, faz mais sentido comparar Eddie Van Halen com Karl Marx. Pelo menos eles tiveram praticamente o mesmo tempo de vida, 65 anos (incompletos, no caso do economista alemão).


Karl Marx não viveu para completar seus volumes da série O Capital (Das Kapital), e deixou lacunas referentes a assuntos como a cultura do proletariado.


Somente seus discípulos tentaram reparar a lacuna, escrevendo o que poderia ter sido a cultura segundo a teoria marxista. Mesmo assim, faz falta a iniciativa pessoal de Marx, que a morte impediu de se realizar.


Dito isso, sabemos que no Brasil falta uma real compreensão entre cultura e esquerdismo.


Não que ela não houvesse. O Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE) tentou promover um debate sobre as raízes da cultura popular e a ação de forças progressistas populares.


Só que veio uma elite intelectual desenvolvida no milagre brasileiro, comandada por Fernando Henrique Cardoso, que se ascendeu nas burocracias universitárias dos anos 1980 e 1990 e que julgou o CPC da UNE "ideológico demais", em sua tentativa de "revisionismo histórico".


Essa burocracia universitária expulsou o senso crítico e flanelizou a pós-graduação, acolhendo trabalhos acadêmicos que passassem pano em problemáticas, desproblematizando as mesmas.


Era como se a fenomenologia fosse sempre um patrimônio, mesmo que seja um fenômeno de idiotização cultural das classes populares.


Essas elites intelectuais treinaram acadêmicos e outros agentes culturais - como cineastas e jornalistas - que passaram a defender a bregalização cultural como a "salvação da pátria" para o Brasil.


Na verdade, era um meio oculto de respaldar a domesticação cultural das classes populares, legitimando a "cultura de massa" e desqualificando quem fosse questionar o entretenimento popularesco.


Esses intelectuais adestrados e amestrados por FHC foram se infiltrar nas esquerdas e fazer proselitismo em prol da imbecilização cultural, sob a desculpa do "combate ao preconceito".


Meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... dá detalhes sobre o processo. Recomendável a leitura. O livro não é coletânea, os textos são inéditos.


E isso mostra o quanto as esquerdas pecaram por uma visão puramente economicista, que as deixava completamente ignorantes quanto aos problemas culturais do nosso Brasil.


Contraditoriamente, o discurso intelectualoide pró-brega, que as esquerdas acolheram de forma submissa, classificava de "anti-comercial" toda a breguice musical de muito sucesso nas rádios.


Isso é um grave equívoco, e os intelectuais pró-brega superestimaram a censura, durante a ditadura militar, de muitos sucessos cafonas, além do hiato de sucesso erroneamente creditado a uma discriminação pela grande mídia (que sempre apoiou o brega-popularesco).


Pior que esses setores das esquerdas acabaram sendo culturalmente entreguistas e colonizados pelo culturalismo da direita, através do que eu chamo de "brinquedos culturais".


E foi no Brasil que doeu mais a lacuna que Karl Marx, morto, deixou em relação ao tema da Cultura.


Foi essa lacuna que permitiu essa idiotização das próprias esquerdas, ao confundir "cultura de massa" com folclore popular. E isso foi crucial para o golpe de 2016, como explica Esses Intelectuais Pertinentes....

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