O cantor breganejo Zezé di Camargo, que havia sido, 16 anos atrás, um dos astros do constrangedor "combate ao preconceito" que nossa intelligentzia "ultrabacana" pregou - leiam Esses Intelectuais Pertinentes... para entender o assunto - , não gostou de ser criticado por Felipe Neto.
O influenciador digital, que anda evoluindo bem como ativista sócio-político, emprestando sua visibilidade para esclarecer as pessoas, havia cobrado posicionamento político dos ídolos "sertanejos".
"Cadê os artistas sertanejos? Cadê vocês? Estão fazendo o que? Tem gente morrendo e a única preocupação é livezinha enchendo a cara, é isso mesmo?".
Ídolos breganejos reagiram revoltados contra o influenciador. Houve quem alegasse "doar álcool gel" e houve quem chamasse o rapaz de "ignorante".
Mas a arrogância atingiu pontos extremos através da mensagem escrita por Zezé di Camargo, que chamou Felipe Neto de "pivete" e veio com demagogia.
"O pior de tudo é ver um animador de festa infantil, menino criado com vó, querer satisfação de uma classe de artistas que mais faz pelo povo brasileiro. Antes de cobrar alguma coisa, ele devia levantar a carreira de cada um de nós e ver o quanto ajudamos as pessoas. Qual a experiência de vida desse pivete, comparada com a vida da maioria de nós do sertanejo? Se o sertanejo não fala nada sobre política como ele quer, é porque não pensamos como ele, uai! Qual problema?"
Ajudar os brasileiros? Oferecendo música de péssima qualidade e fazendo ações de marketing "social"?
Tenho 50 anos e cada vez mais presto atenção nos mais jovens que demonstram coisas importantes a dizer e fazer.
Vide, por exemplo, o pedantismo de Roberto Justus (65 anos em 2020) contra Marcos Mion (41 anos na época), numa bronca de caráter econômico.
Mion ganhou não pelo que sabe, mas pela humildade de não saber e tentar aprender. Quem perdeu foi o "experiente" Justus, que, tentando bancar o superintelectual, só foi grotesco com o rapaz, que merece todo meu apoio.
Felipe Neto tem 17 a menos do que eu, e a princípio eu não fui com a cara dele.
Mas ao ver que ele passou a se esforçar para criticar o golpe político que está em curso (sim, houve golpe no Brasil em 2016) e teve uma postura autocrítica de seus erros.
Ele mudou e tornou-se um dos exemplos, raros, de gente que quis mudar e pode ir para o lado nosso das forças progressistas.
Pior é Zezé di Camargo que fingiu ser esquerdista, votando em Lula e escondendo seu voto para o ruralista Ronaldo Caiado, vivendo seus quinze minutos de fama ao lado de intelectuais, cineastas e emepebistas.
A trilha sonora de Os Dois Filhos de Francisco é puro pretenciosismo, com a dupla desafinada e canastrona duetando com nomes da MPB autêntica.
Mas se hoje vemos a antes admirável Elba Ramalho, agora uma bolsonarista ranzinza, apoiando os breganejos e detonando Felipe Neto. Também, ela é um dos poucos nomes da MPB que têm acesso fácil no inflexível mercado de eventos musicais no interior do Brasil.
É preocupante, aliás, no caso do "sertanejo" e outros ritmos da música brega-popularesca, o seu complexo de superioridade.
Só porque eles seguiram fazendo sucesso ininterrupto nas três últimas décadas, esses ídolos popularescos ficam se achando, nessa Síndrome de Dunning-Kruger musical.
Se acham "mais MPB que a MPB" e em seu discurso misturam vitimismo, triunfalismo, arrogância e, eventualmente, ataques como chamar Felipe Neto de "pivete".
E isso sem falar que, enquanto Zezé di Camargo & Luciano, em 2005, posavam de "humanistas" diante dos holofotes, seus fanáticos defensores, já naquela época, mostravam o seu jeito bolsomínion de ser, nas redes sociais.
As esquerdas não percebem, mas já havia Tribunal da Internet e fascistas digitais nos tempos do Orkut, que não era aquele paraíso de progressismo que muitos esquerdistas imaginaram.
Havia muito falso esquerdista, que apelido de "marx-cartistas", que fingia odiar o neoliberalismo e o imperialismo, mas comprava produtos importados e caros; falava mal de George W. Bush mais por ele ser um "palhaço" e fingiam adorar Che Guevara, mas sentindo-se felizes por ele estar morto.
Era gente que, no "piloto automático", declarava voto em Lula e Dilma, mas votava com gosto no PSDB que xingavam nas letras mortas das mensagens no Orkut.
Já fui vítima desses bolsomínions antecipados nessa época.
E aí se vê o nível da mediocridade ou mesmo da idiotização dessa cultura brega-popularesca, esse mundo de gente arrogante, temperamental e metida a ter posse da verdade que está por trás da doce narrativa do "combate ao preconceito".
E é aí que se vê que Felipe Neto dá uma grande lição de humildade aos "sertanejos" que não aceitam a menor crítica.
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