No seu perfil do Instagram, a jornalista Adriana Araújo, ex-Rede Record - ela saiu da emissora por discordar da linha editorial bolsonarista da emissora de Edir Macedo - , apareceu fazendo seu exercício de dança ao som de "Planeta Sonho", uma canção levemente progressiva do grupo 14-Bis.
O 14-Bis é um grupo mineiro, integrante do Clube da Esquina, que soa como um cruzamento de Byrds com Yes adaptado ao contexto da MPB dos anos 1970-1980.
E liderado por Flávio Venturini que, vamos combinar, é até compreensível em sua apreciação a um charlatão religioso que viveu em Minas Gerais e foi pioneiro em literatura fake.
Paciência.
Os Beatles também se iludiram com Maharishi, que tinha a mesma voz molenga do "médium".
Mas, descontando esse equívoco, Flávio Venturini é um dos grandes artistas da música brasileira e faz parte do Clube da Esquina, movimento subestimado da hoje injustiçada MPB.
Adriana Araújo é uma mulher casada. E, aparentemente, mulheres casadas mostram um gosto musical mais aprimorado: Clube da Esquina, rock alternativo. Toninho Horta, 14-Bis, Flávio Venturini, Belle and Sebastian, New Order, Jesus & Mary Chain.
E as famosas solteiras? Elas começam a sair do paradigma da mulher-objeto metida a feminista para um perfil mais light, dominado pelas ex-dançarinas do Domingão do Faustão.
Essas novas musas são até esforçadas, de certa forma, capazes de mandar bem em programas de TV, dentro dos seus propósitos comerciais.
Mas elas, além de terem uma beleza mediana e terem um comportamento mais "frio", ainda se apegam ao gosto musical popularesco ou, quando muito, à "MPB do Faustão".
Se elas fizessem um vídeo de dança como o de Adriana Araújo, a trilha sonora seria geralmente de axé-music, "forró brega" (inclui a pisadinha) ou o constrangedor (e vitimista) "funk".
Infelizmente, as solteiras convencionais perdem tempo procurando nos "sertanejos universitários" aquilo que Toninho Horta e Lô Borges já oferecem em sua música.
Ver que as solteiras "padrão" de hoje veem Elis Regina como uma one-hit wonder com "Como Nossos Pais", música de Belchior cuja letra parece russo para os ouvidos médios do expectador do Domingão do Faustão, é constrangedor.
Ainda mais quando os fenômenos popularescos vivem hoje de fazer vitimismo de si mesmos e receber passagem de pano da crítica especializada que confunde imparcialidade com complacência.
Não podemos sequer falar da dignidade artística que a MPB autêntica tem, e que não deve ser confundida com a arrogância de ídolos popularescos que, irritados, pedem aos outros o respeito que tais ídolos não fazem sequer para si mesmos.
Enquanto as casadas procuram mostrar um gosto musical mais apurado, as solteiras preferem ouvir a música popularesca que os homens que elas não querem mais também adoram.
E se acham livres com isso. Liberdade é ser medíocre e idiotizado?
E se elas acham que são empoderadas com trilha sonora popularesca, outros homens, que patrocinam os ídolos popularescos, se enriquecem com a música ouvida pelas "encalhadas".
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