Ontem foi a missa de sétimo dia pelo falecimento, pelos efeitos da Covid-19, do jovem humorista Paulo Gustavo, que teve a transmissão pelo Multishow e foi realizado, para amigos e familiares, no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.
A tragédia de Paulo Gustavo parecia estranha, afinal, ele pegou Covid-19 no mesmo dia que o cantor Orlando Morais e este se curou, e tudo parecia que o humorista sobreviveria à doença e ela teria passado sem gravidade.
Paulo Gustavo tinha um enorme vigor e os médicos diziam que ele não sofria problemas de saúde antes de ser atingido pelo Coronavírus.
Até Guilherme de Pádua tem um pano de fundo muito mais vulnerável à Covid-19, pelo seu passado junkie antes de se tornar ator e pelo fato de, bolsonarista, se aglomerar ao lado dos negacionistas amigos da causa bolsomínion.
Eu simplesmente fiquei surpreso quando Paulo Gustavo ficou em estado grave. Não imaginava isso. Eu imaginava que o humorista superaria a doença e retomaria a saúde.
E aí eu, há poucos dias, vi um vídeo de uma esquete antiga de Paulo, do seriado do Multishow 220 Volts, de 2012, no qual ele interpretava um personagem que morreu e foi para o céu.
A esquete foi reproduzida nas redes sociais. Nela o personagem de Paulo dizia:
"Eu não volto pra Terra porra nenhuma. Não volto mesmo. Vou ficar aqui na minha que está maravilhoso. Eu quero é ir para onde estão (médium de peruca)*, Ghandi e Irmã Dulce. É bola pra frente, é vida que anda. É bola pra frente que atrás vem gente".
O primeiro nome que Paulo, na sua boa-fé, citou foi o do "médium" que mais arruinou o legado de Allan Kardec e transformou a Doutrina Espírita num lodo fétido e peçonhento, combinando valores e dogmas herdados do Catolicismo medieval, misturados com Ocultismo dos mais sombrios e macabros.
Claro que ninguém percebe isso porque, como uma religião traiçoeira, o Espiritismo brasileiro tem uma retórica tão cheia de mel, em doses perigosamente diabéticas, que as pessoas pensam que essa religião é uma maravilha, porque usa e abusa de palavras como "amor", "luz", "paz", "fraternidade" e "caridade".
Eu fiz parte dela durante 28 anos, e tive pesados empecilhos nesse período. Era como se eu pedisse pão e recebesse serpentes. Não conseguia ter controle do meu próprio destino, meus planos de vida, mesmo com todo o esforço, iam por água abaixo.
O mais preocupante é que as pessoas sofrem azar seguindo o Espiritismo brasileiro se se conformam com isso. A religião tem como um dos fundamentos a culpabilização das vítimas.
Eu escrevi um texto, semanas atrás, falando do mau agouro que representa essa doutrina, e que vitimou personalidades que vão de Juscelino Kubitschek a Guilherme Fontes.
Existe a maldição, trazida pelo "bondoso médium", que faz os pais perderem os filhos prematuramente.
Se ao menos as forças progressistas repudiassem o Espiritismo brasileiro e "seu maior médium", seria um ganho. Não podemos nos iludir com a suposta imagem de "caridoso" do suposto médium que avacalhou com a memória de gente como Humberto de Campos.
Até porque ele nunca fez caridade de verdade.
O que ele fazia era distribuir as doações de terceiros, assinar documentos destinando sobrados e terrenos doados para serem propriedade do "movimento espírita" (sob o pretexto da "assistência social") e outras coisas que qualquer Luciano Huck e Elon Musk fariam.
Aliás, o "médium" não só não fez caridade como também se recusou a ajudar muita gente, através de suas ideias da Teologia do Sofrimento, defendendo o trabalho precário e aconselhando os sofredores extremos a aguentar calados as piores desgraças.
O "médium" também fez juízos de valor bastante perversos contra as vítimas do incêndio de um circo em Niterói, fazendo contra elas acusações infundadas e, para se livrar de encrenca, botou tudo na conta de Humberto de Campos que, morto décadas antes, não está aqui para reclamar.
E o "bondoso médium" também caluniou os amigos do falecido engenheiro Jair Presente (1949-1974), que desconfiaram das "psicografias" atribuídas a ele de tão caricatas e grosseiras que elas eram, ora mostrando o "espírito" comportado e religioso, ora mostrando-o "psicótico" e cheio de gírias forçadas.
Sim, o "bondoso médium" caluniou, chamando essa desconfiança de "bobagem da grossa". Sério.
Se estivesse vivo, o "médium", o religioso que mais defendeu a ditadura militar a ponto de ser CONDECORADO pela Escola Superior de Guerra (prestem atenção nisso), o que derruba de vez sua imagem de humanista e progressista, ele estaria apoiando Jair Bolsonaro até hoje.
Antipetista ferrenho nas últimas décadas de vida, o "médium" mineiro diria que Dilma Rousseff deveria sair do poder por "não trabalhar conforme os ensinamentos cristãos". Mas rejeitaria o impeachment de Bolsonaro usando a desculpa de que "não podemos transformar esse remédio legal num brinquedo".
Ele diria para "orarmos em favor de Bolsonaro" porque "ele não é o governante ideal, mas é aquele que Deus designou para conduzir o país para a Pátria do Evangelho".
O "médium" se surpreenderia com a semelhança de "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" com "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".
Quem discordar de tudo isso que escrevi, baseado em pesquisas jornalísticas e de fontes confiáveis de Internet, pode até dormir tranquilo com suas fantasias que fazem o "médium" parecer um personagem fabuloso da Disney. Mas acordarão tendo que brigar contra a realidade.
É claro que o "médium de peruca" não foi para o céu. Ele teria ido para o que muitos entendem ser o umbral, por conta de seus atos desonestos e seu arrivismo não muito diferente de Jair Bolsonaro.
Os pastiches literários do "médium" escandalizaram tanto quanto a indisciplina e o plano terrorista do "capitão" escandalizaram os meios militares. Até parecem a mesma história, narrada com algumas alterações.
Foi Jair Bolsonaro posar para uma foto com um livro do "bondoso médium" e até parece que o espírito do "lápis de Deus" está protegendo o presidente que não sai do poder apesar de dezenas de pedidos de impeachment e se cura fácil da Covid-19 que deve ter pego mais de uma vez.
O "médium" protege pessoas sórdidas, o que não pode ser confundido com a medida complexa que é o "perdão aos inimigos" ou ao fato de Jesus ter assistido assaltantes em seu tempo.
Devemos parar com esse moralismo tolo e reconhecer que o Espiritismo brasileiro é uma religião perigosa e traiçoeira, que pode ser no futuro o instrumento do necrocapitalismo para conceber um paraíso imaginário para justificar futuras tragédias prematuras e até futuras carnificinas.
Ficam achando que o mal da religiosidade parou nos neopenteques e fico logo pensando: "Enquanto as pessoas chutam cachorros mortos ou agonizantes, os coiotes invadem o rebanho em busca de ovelhas".
O Espiritismo brasileiro tem o mesmo modus operandi ideológico dos Big Techs e do neoliberalismo soft power do Estado Profundo, e tende a ser a surpresa negativa para quem acha que o Brasil, por essa via, entrará num tempo de progresso, paz e prosperidade.
E é triste ver que Paulo Gustavo, que tinha tudo para ter uma breve Covid-19 e se recuperasse sem demora, ficou semanas lutando contra a doença e perdeu, apesar dos melhores cuidados médicos e das melhores vibrações dos entes queridos.
Melhores, nem tanto, porque houve gente que se atreveu a rezar para o "médium de peruca" e os medievais do além-túmulo. Foi como rezar para a raposa para proteger o galinheiro.
Teve até psicografake atribuído a um suposto antepassado do Paulo Gustavo. O "médium", covarde, não revelou sua identidade para não virar vidraça.
E aí vemos o quanto os brasileiros inverteram o aviso de Allan Kardec, esse homem tão bajulado e tão criminosamente boicotado. Disse ele: "melhor cair um único homem do que aqueles que virem a ser enganados por ele".
Hoje se passa pano no "médium de peruca" mais do que qualquer "cacique" do PSDB.
Até jornalistas investigativos, juristas, acadêmicos e mesmo semiólogos esforçados têm seus momentos flanelinhas com tanta passagem de pano. Talvez a turma do Scooby-Doo tenha mais facilidade em desmascarar o falso profeta das vergonhosas "datas-limite".
E aí, deu no que deu. Em vez de cair um único homem, o que cai é o Brasil inteiro, incluindo os Juscelinos que queriam progredir o país e os Paulos Gustavos que nos trouxeram muita alegria.
(*) Não credito, aqui, o nome do suposto médium para não trazer azar para meu blogue. Não sou necessariamente um supersticioso, mas o Espiritismo brasileiro mexe com energias malignas, por causa de sua desonestidade intelectual e seu conservadorismo medieval.
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