EM SÃO PAULO, O PROTESTO CONTRA BOLSONARO OCORREU NA AVENIDA PAULISTA E COBRIU DEZ QUARTEIRÕES.
Eu não fiquei indiferente ao protesto contra Jair Bolsonaro. Eu esperei para escrever artigo para esta segunda-feira.
Digo isso porque a imprensa empresarial ficou indiferente às grandes manifestações ocorridas em várias partes do país.
O Globo, por exemplo, preferiu noticiar o "investimento de empresas animadas com o crescimento do PIB, no valor de R$ 164 bilhões".
Já O Estado de São Paulo noticiou que "cidades turísticas se reinventam para atrair o home office".
Esses veículos mostraram que as críticas feitas ao (des)governo Bolsonaro não são para valer, e que na hora do aperto preferem botar manchetes como essas, visando agradar o ministro da Economia Paulo Guedes.
Isso é imperdoável. Lembra a Rede Globo boicotando o movimento Diretas Já. Um desserviço de evitar noticiar um fato de grande importância e imenso e indiscutível interesse público.
Os dois jornais cometeram uma gafe muito grande, o que mostra que o "jornalismo de grife" está longe de representar o verdadeiro jornalismo.
Quanto ao meu adiamento, eu queria me informar melhor da repercussão do evento e não ficar apenas papagaiando os relatos do momento, surfando na agenda setting. E tinha o que fazer no dia de semana e desfragmentar meu computador, que anda muito lento.
Mas deixei postagens prontas. No domingo, foi um tema para o TV Linhaça gravado dias antes.
No sábado, escrevi texto sobre um religioso, ainda querido por muita gente, mas que foi uma espécie de "Jair Bolsonaro do Cristianismo", embora seus seguidores, inclusive uma parcela ingenuamente de esquerda, reneguem tal atribuição.
Reacionário e pioneiro na literatura fake, além de outras atitudes negativas que não condizem com sua imagem de "símbolo da caridade", ando falando muito mal dele, sem citar o nome, para que não se faça propaganda dele, porque dá asar.
Nas vésperas do golpe de 2016, foi um colunista do Brasil 247 falar do "médium" sob o pretexto de reprovar as convulsões sociais, o golpe foi consumado e Dilma Rousseff não conseguiu recuperar seu poder, deposta sem um motivo sequer plausível.
Na campanha eleitoral de 2018, um jornalista progressista que escrevia no R7 foi manifestar "saudade" do "médium", lembrando de um texto sobre o silêncio (?!), e ele acabou expulso do portal da Record e Jair Bolsonaro ganhou energias extras para conseguir ser eleito.
Então, não dá para combater um Bolsonaro com outro Bolsonaro. Que diferença tem causar escândalos com pastiches literários e com plano de atentado terrorista? E que serventia têm os 400 e tantos livros de mistificação barata que, para o espírito, são piores do que a cloroquina para a Covid-19?
Dito isso, digo que andei acompanhando as notícias das passeatas que ocorreram em centenas de cidades brasileiras, sobretudo as capitais.
Elas foram um sucesso, apesar de, em Recife, policiais reprimirem manifestantes sem motivo algum e uma vereadora do PT, Liana Cirne Lins, ter sido agredida com spray de pimenta.
Dois dos manifestantes atingidos por balas de borracha ficaram parcialmente cegos em um dos olhos cada.
A Justiça está investigando de onde vieram as ordens para tamanha truculência. O Governo de Pernambuco repudiou o abuso policial.
Na Avenida Paulista, aqui em Sampa, o protesto contra Bolsonaro teve a extensão de dez quarteirões e demonstrou o grande sucesso que também se refletiu em outros lugares.
A manifestação causou polêmica, pelo fato de ser uma aglomeração popular às vésperas do que especialistas em Medicina alertam ser a terceira onda de Covid-19 no Brasil.
Mas os manifestantes já se anteciparam: é um mal necessário. Jair Bolsonaro, pelo seu desprezo a qualquer medida de prevenção contra a pandemia e sabotando qualquer medida em prol da vacinação dos brasileiros, é considerado muito pior do que o Coronavírus.
Ou era isso, ou eram as esquerdas isoladas favorecendo Bolsonaro e seus "robôs".
O Brasil está numa situação complicada e atitudes de pressão têm que ser tomadas.
É claro que as passeatas anti-Bolsonaro não são suficientes, por si. Em junho de 1968, portanto, há 53 anos, a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, não foi suficiente para evitar que o Brasil sofra o endurecimento da ditadura militar com o AI-5.
O Judiciário, as instituições em geral, têm que fazer a sua parte. Não há um céu de brigadeiro anunciando que Lula tem seu assento garantido no Governo Federal.
O anti-petismo, pelo que eu vi nas ruas de Niterói e no Rio de Janeiro e vejo hoje em São Paulo, é ainda grande e forte. E Bolsonaro não demonstra se sentir derrotado, apesar das perdas que anda sofrendo.
O que devemos evitar é perder a cabeça como em 1968. Se a sociedade brasileira, em suas diversas variações, agir de fora estratégica e menos emotiva e não ficar de otimismos vãos, o bolsonarismo acaba e não ganha chance de voltar.
Não estamos em 1968, é verdade. Mas também não estamos em 2002. Convém sermos cautelosos, ainda.
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